Evangelho segundo S. Lucas 12,13-21.
Naquele
tempo, alguém do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que
reparta a herança comigo.» Ele respondeu-lhe: «Homem, quem me nomeou juiz ou
encarregado das vossas partilhas?»
E prosseguiu: «Olhai, guardai-vos de toda
a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não
depende dos seus bens.» Disse-lhes, então, esta parábola: «Havia um homem
rico, a quem as terras deram uma grande colheita. E pôs-se a discorrer,
dizendo consigo: 'Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde guardar a minha
colheita?' Depois continuou: 'Já sei o que vou fazer: deito abaixo os meus
celeiros, construo uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos;
descansa, come, bebe e regala-te.'Deus, porém, disse-lhe: 'Insensato! Nesta
mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?' Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus.»
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Beato John Henry Newman (1801-1890),
teólogo, fundador do Oratório em Inglaterra
Sermão «Watching», PPS, t. 4, n°
22, passim
«Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida»
«Tomai cuidado, vigiai, pois não sabeis
quando chegará esse momento» (Mc 13,33). Pensemos neste assunto tão sério que
nos diz respeito de forma muito íntima: que quer dizer vigiar na expectativa de
Cristo? «Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde,
se à meia-noite, se ao cantar o galo, se de manhãzinha; não seja que, vindo
inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos:
vigiai!» (v. 35ss). […]
Há muito quem troce abertamente da religião
[…], mas consideremos aqueles que são mais sóbrios e conscienciosos: têm boas
qualidades e praticam a religião de certa forma e até certo ponto, mas não
vigiam. […] Não compreendem que são chamados a ser «estrangeiros e peregrinos
sobre a terra» (Heb 11,13), que a sua sorte terrena e os seus bens terrenos são
uma espécie de acidente da sua existência e que, na verdade, nada possuem. […]
Não há dúvida de que muitos membros da Igreja vivem assim e não saberiam nem
estão prontos a acolher imediatamente o Senhor quando Ele vier. […]
Que tomada de consciência emocionante e grave é para nós saber que
Ele próprio nos chamou a atenção precisamente para esse perigo […], o perigo de
deixar que, por qualquer razão, a atenção dos seus discípulos se desviasse dele.
Ele preveniu-os contra todas as agitações, todos os atractivos deste mundo,
preveniu-os de que o mundo não estaria preparado quando Ele viesse;
suplicou-lhes com ternura que não tomassem o partido deste mundo. Preveniu-os
através dos exemplos do homem rico a quem pedem contas da alma durante a noite,
do servo que comia e bebia (cf Lc 12,45), das virgens insensatas (cf Mt 25,2).
[…] O cortejo do Esposo passa majestosamente, nele seguem os anjos, os justos
que se tornaram perfeitos, as criancinhas, os santos doutores, os santos
vestidos de branco, os mártires lavados no seu sangue […]: a sua Esposa está
preparada, pôs-se bela (cf Ap 19,7), mas muitos de nós ainda estamos a dormir.
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