sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

SAGRADA FAMÍLIA JESUS, MARIA E JOSÉ

Nazaré no ano 0 : uma pequena aldeia 
com algumas dezenas de casas... 
Com uma população de cerca de 60.000 habitantes dos quais, entre 30 e 35 %, cristãos, Nazaré é hoje a mais importante cidade da Palestina. É nos textos dos Evangelhos que ela é mencionada pela primeira vez. Testemunhos arqueológicos indicam que se tratava de uma aldeia agrícola com cerca de duas centenas de habitantes, apenas. O que provavelmente explica por que não existem referências anteriores, e por que a aldeia não é citada entre as 45 cidades da Galiléia, enumeradas por Flavius Josèphe, nem entre as 63 outras, mencionadas no Talmude. Mas não é por ela, uma simples aldeola, ser de tama-nho insignificante que Natanael de Caná lança ao apóstolo Felipe a frase que se tornou célebre: "De Nazaré pode sair algo de bom ?" (João 1, 46)... Com efeito, por mais modesta que seja a povoação de Nazaré, trata-se de uma localidade de moradias "principescas", ou, simplesmente, de "personalida-des", pois nela duas coisas são dignas de nota: a presença do "túmulo do Justo" no estilo daqueles próprios das nobres famílias da época, provando que Nazaré não era apenas uma aldeia de simples agricultores, pois lá ninguém teria tido os meios necessários para oferecer a si mesmo um túmulo tal ; a presença da “casa de Maria”: com efeito, a casa conservada em Loreto — e que foi perfeitamente certificada como vinda de Nazaré — é uma casa de pedra de óptima execução, que os simples aldeões de uma povoação rural não poderiam possuir... A quem podiam, então, pertencer esta habitação e este túmulo, senão a pessoas de uma certa linhagem? É preciso saber que em aramaico o termo nazor, ou nazir, quer dizer príncipe ou coroa, ou tonsura, e que os nazarenos, ou eram pessoas de linhagem importante, ou eram consagrados a Deus (tonsurados e que apenas usavam uma "coroa" de cabelos). Ora, em Nazaré viviam os descendentes do ramo principesco do norte, da ilustre família do rei Davi... (entre os quais José e Maria). Sabe-se também que esta linhagem davídica do Norte, que tinha reinado em Israel nos séculos passados, fora posta em cheque na época dos Macabeus, pois, desde então, não mais foram escolhidos os dirigentes da nação hebraica na família de Davi. E ao lugar para onde, modestamente, se retiraram os herdeiros desta principesca família desapossada, foi dado o nome de... Nazaré. Torna-se então mais claro o reparo de Natanael acerca de Nazaré (João, 1, 46): ele não tem nada a ver com a insignificância da aldeia, mas sim com o malogro dos seus ilustres habitantes de uma linhagem davídica "decaída", que aí vivia, retirada das alamedas de um poder perdido... Sendo assim... O que é que poderia sair de bom de Nazaré...? A vida da Sagrada Família em Nazaré A realidade dominante do que terá sido a vida de Jesus, Maria e José em sua pequena cidade de Nazaré, onde José exerceu a profissão de carpinteiro, foi a simplicidade. Se bem que de descendência ilustre, por parte de seus antepassados — pois descendia do rei David — a Sagrada Família levava uma vida modesta, em meio a uma numerosa parentela, constituindo um lar nem pobre, nem rico, ganhando o pão de cada dia com o suor de seu rosto, respeitando as leis administrativas e sociais de seu povo. No ritmo da oração comunitária na sinagoga, os ritos e as numerosas festas religiosas do judaísmo (onde, entre outros, o rito da circuncisão, a festa das Tendas, a peregrinação ao templo de Jerusalém), a vida de oração da Sagrada Família era, exteriormente, a de todo bom israelita praticante daquela época. Portanto, por trás da modéstia deste comportamento respeitoso dos usos e costumes de sua cultura, a Sagrada Família vivia uma realidade tão grandiosa que apenas o silêncio e a discrição poderiam assegurar, ao Lar de Nazaré, a serenidade necessária ao desenvolvimento do plano de Deus, o nascimento do Messias, tão esperado pelo povo hebreu, depois de tantos séculos. Serenidade também para zelar pela infância e adolescência de Jesus, o Cristo Salvador do mundo, até que ele alcançasse sua plena maturidade de homem e pudesse iniciar sua vida pública e a pregação de seu Evangelho. Foi efectivamente na humilde morada de Nazaré que começaram a se desenrolar, entre os membros da Sagrada Família, as primeiras páginas do Novo Testamento que o Céu, em seu Verbo, se fez carne e veio se doar aos homens, por amor e pela salvação de todos. O testemunho do Cristo e de seus pais demonstra, também, o imenso resplendor que pode atingir uma vida familiar comum, vivenciada em Deus, na simplicidade e num grande amor compartilhado.

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