Evangelho segundo São Mateus 14,13-21.
Naquele tempo, quando Jesus ouviu dizer que João Batista tinha sido morto, retirou-Se num barco para um local deserto e afastado. Mas, logo que as multidões o souberam, deixando as suas cidades, seguiram-no por terra.
Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e, cheio de compaixão, curou os seus doentes.
Ao cair da tarde, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Este local é deserto e a hora avançada. Manda embora toda esta gente, para que vá às aldeias comprar alimento».
Mas Jesus respondeu-lhes: «Não precisam de se ir embora; dai-lhes vós de comer».
Disseram-Lhe eles: «Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes».
Disse Jesus: «Trazei-mos cá».
Ordenou, então, à multidão que se sentasse na relva. Tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e recitou a bênção. Depois, partiu os pães e deu-os aos discípulos, e os discípulos deram-nos à multidão.
Todos comeram e ficaram saciados. E, dos pedaços que sobraram, encheram doze cestos.
Ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.
Tradução litúrgica da Bíblia
Fundador dos cartuxos
Carta a Raoul le Verd, 4, 15-16
«Retirou-Se num barco para
um local deserto e afastado»
Querido irmão, habito um deserto situado na Calábria, bastante afastado, de todos os lados, das habitações dos homens; aqui estou com os meus irmãos religiosos, alguns detentores de muita sabedoria, que fazem vigílias santas e perseverantes, à espera do regresso do seu Mestre, para Lhe abrirem a porta quando Ele bater (cf Lc 12,36).
A divina alegria e a utilidade que a solidão e o silêncio do deserto trazem àqueles que os amam, sabem-nos quantos o experimentaram. De facto, aqui, os homens fortes podem recolher-se quanto desejarem, permanecer em si próprios, cultivar assiduamente as virtudes e alimentar-se, em felicidade, dos frutos do paraíso. Aqui, esforçamo-nos por adquirir aquele olhar claro que fere de amor o divino Esposo e cuja pureza permite ver a Deus. Aqui, dedicamo-nos a um repouso bem preenchido e pacificamo-nos em ações tranquilas. Aqui, Deus concede aos seus atletas, pelo labor do combate, a desejada recompensa: uma paz que o mundo não conhece, e a alegria no Espírito Santo.
De facto, que há de mais contrário à razão, à justiça, à própria natureza, que preferir a criatura ao Criador, os bens perecíveis aos bens eternos, a terra ao Céu? É a Verdade em pessoa que dá este conselho a todos: «Vinde a Mim, todos os que estais fatigados e oprimidos, e Eu vos darei descanso» (Mt 11,28). Não será ingrato e estéril sofrimento ser atormentado pela concupiscência, afligido sem cessar pelas preocupações, a ansiedade, o temor, e as dores resultantes destes desejos? Foge, irmão, de todas estas inquietações, passa da tempestade deste mundo para o repouso tranquilo e seguro do porto.
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