Deus, na história da humanidade, usa tanto meios para promover seu diálogo amoroso com as pessoas. Seus filhos são criativos para responder a seu desejo de comunhão. Nossa comunhão se faz no amor e na oração. E, para rezar, ouvir sua palavra e responder, não os engessa em um único modo. Por isso vemos na riqueza dos povos uma variedade imensa de manifestações de sua Palavra eterna e de respostas de seu povo amoroso. Sabemos que ler a bíblia não recitar uns textos, mas penetrar a vontade divina presente nesta palavra. E maravilhoso ver pessoas que conhecem a Palavra de modo profundo e até de cor. Se bem que o diabo também sabe a bíblia de cor e não tem diabo que preste, pois não a sabe no coração. No rosário, o terço, podemos ter um exemplo desta riqueza da Palavra de Deus. O povo de Deus, em sua simplicidade, não podendo nem ler e nem ouvir a Palavra pelas circunstâncias do tempo, aprendeu a refleti-la e contemplá-la de um jeito simples e acessível. Se tomarmos um rosário, veremos que tem 20 mistérios, isto é, 20 momentos significantes da vida de Jesus em seu mistério de redenção. Dizemos por exemplo “terceiro mistério glorioso, contemplemos a descida do Espírito Santo”. Refletir sobre este mistério é ouvir a Palavra de Deus e passá-la para a vida. Gota a gota esta verdade vai penetrando o coração e transformando-se em vida. Em cada quarta parte do rosário temos diante dos olhos uma parte da caminhada de Cristo entre nós: sua encarnação, seu nascimento e infância, sua vida pública com suas atividades, sua Paixão dolorosa e sua gloriosa Ressurreição e os frutos desta ressurreição: Ascensão, Pentecostes. Essas verdades não são Palavra de Deus? Meditamos na mente e levamos ao coração. Igualmente o Pai-Nosso e a Ave-Maria são tirados da Palavra de Deus.
Um jeito distraído da atenção
Como unir a meditação e a recitação as preces. A oração acompanha o ritmo humano. Nossa mente tem dificuldades de muita concentração. Somos capazes de estar dizendo uma coisa e a mente passeando. Então a oração do terço cria o caminho da oração: enquanto contemplamos com a fé o mistério da vida de Jesus, vamos realizando o encontro com Deus com as palavras do Pai-Nosso e da Ave-Maria e no final de cada parte damos glória à Trindade. A distração humana se torna atenta oração. Podemos até dizer que: quem deixou cair o terço das mãos buscou o ateísmo do coração, fazendo da religião uma doutrina, uma estrutura sem coração.
Oração síntese
Tanto o Pai Nosso, como a Ave-Maria são síntese da Palavra de Deus colocada em palavras simples colocadas na boca do povo, como fez Jesus ao ensinar a oração. Jesus nos deu um jeito tão humano de falar com o Pai, resumindo nossas necessidades: insistente como o amigo que pede o pão (Lc 11,8), com palavras simples e não gritaria (Mt 6,7), dirigidas ao Pai e com a Mãe rezamos por Jesus ao Pai no Espírito, por isso sempre temos o Glória ao Pai. Rezamos também pelos outros, como nos aconselha Paulo (1Tm 2,1-2). Rezar o terço realiza também o pedido de Jesus para orar sem cessar (Lc 18,8). É a imitação de Jesus que estava sempre em oração. Vemos tantas pessoas rezando o terço pelos caminhos, no silêncio das noites, nos momentos de dor, utilizando as riquezas dos meios modernos rezando na TV e rádio. Esta oração evita o exibicionismo, o ritualismo, o intelectualismo e abre os tesouros de Deus aos pobres e sofredores. Achei bonito o Bento XVI enfiar a mão no bolso e tirar seu terço, em Aparecida. Era um gesto seu habitual.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM OUTUBRO DE 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário