quinta-feira, 23 de novembro de 2023

REFLETINDO A PALAVRA - “Bom para com todos”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Os últimos serão os primeiros
 
Jesus devia chocar seus ouvintes, mas atraia sempre mais sua admiração e adesão do povo para colocar as verdades no seu verdadeiro lugar. A parábola do patrão que foi contratar trabalhadores para sua colheita é muito estranha se não entendemos a realidade para a qual ela foi escrita. Os primeiros cristãos eram de origem judaica. Assumiram a fé com entusiasmo e foram grandes evangelizadores. Nos primeiros anos estes bons cristãos, vindos do judaísmo, estavam como que revoltados ao verem os pagãos aderirem a fé e serem tratados iguais a eles na Igreja. Pensavam que, pelo fato de serem judeus, desde os tempos de Abraão, acumularam um grande serviço pelo Reino de Deus. Foram fiéis e conservaram grande amor a Deus e a todas as tradições. Até aqui tudo bem. Receberam o salário de sua fidelidade e do trabalho. A parábola diz que o Reino de Deus é semelhante à história de um patrão que busca operários. O povo é chamado na Sagrada Escritura como a plantação de Deus (1Cor 3,9). O chamado dos operários é o convite à conversão. O pagamento é a vida da graça no Reino. Os judeus receberam o pagamento completo por sua fidelidade ao peso do trabalho e do calor do sol nos seus muitos anos de história de fidelidade. Com a conversão dos pagãos, os da última hora, a Igreja é composta de alguns que não “mereceram” esta paga e são tratados como iguais. Mateus afirma que os judeus receberam tudo. E pela bondade de Deus, os pagãos recebem também tudo, pois a misericórdia de Deus é infinita. Ao rezar o salmo entendemos essa resposta de Jesus: “Misericórdia e piedade é o Senhor, Ele é amor é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos, sua ternura abraça toda a criatura” (Sl 144,8-9). Como não entendemos o modo de agir de Deus, recebemos do profeta Isaías a resposta: “Meus pensamentos não são vossos pensamentos, vossos caminhos não como os meus caminhos” (Is 55,8). Deus é abundante em todos os seus dons. Não mede de acordo com nossos méritos mas conforme sua abundante misericórdia. O evangelista, escrevendo para judeus, convida à conversão da mente para pensar como Jesus e acolherem os cristãos vindos do paganismo. 
Meu viver é Cristo. 
Paulo, mesmo sofrendo e desejando estar em Cristo, se dispõe a continuar sua dedicação aos cristãos. Filipos é sua primeira comunidade em terras da Europa. Tinha um amor especial por ela. Ele vive tão unido a Cristo que não vê diferença entre ir para o Céu ou se dedicar à evangelização: “Se o viver na carne significa que meu trabalho será frutuoso, neste caso, não sei o que escolher... uma só coisa é importante: viver à altura do evangelho de Cristo” (Fl 1,22.27). Com este pensamento tão exigente, podemos examinar nossa vida cristã. Nós somos beneficiados por Deus pela graça de fazer parte do Reino e sermos anunciadores deste evangelho. É o momento de examinar nossa fé e ver nossa união com Cristo. Podemos ver o quanto discutimos por idéias. Há os avançados, os conservadores, os movimentos, as tradições. E Cristo, onde fica em tudo isso? Se todos nós vivermos em Cristo, tudo será diferente. Não se briga por Cristo, mas por ideologias. Sabemos muito de religião e pouco viver em Cristo. A coerência de fé e vida é fundamental.
Mudando de pensamento 
A palavra conversão, em grego - metánoia – significa mudança de direção, não de estrada, mas de coração. Essa mudança, como é descrita em Isaías, é para ter os pensamentos de Deus. Em Mateus, Jesus repreende a Pedro que quer impedi-lo de ir a Jerusalém para sofrer a Paixão: “Afasta-te de mim Satanás! Tu me serves de pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens!” (Mt 16,23). Pensar diferente de Deus é resultado de viver sem Cristo. Ele não é uma idéia, ou dogma religioso, ou tradição, mas Vida. Se for Vida, a vida está plena Dele. Passamos a ter seus sentimentos e sua mentalidade; abrem-se para nós as portas da Palavra de Deus e a densidade dos sacramentos. A bondade de Deus será grande e aberta a todos com generosidade. 
Leituras: Isaías 55,6-9; Salmo 144; 
Filipenses 1,20c-24.27; Mateus 20,1-16ª. 
1. A parábola do patrão e dos operários da última hora, parece estranha. A atitude do senhor parece injusta. Ela não se refere a um problema de justiça, mas à difícil aceitação que os judeus convertidos tinham diante dos pagãos convertidos. O evangelho diz que Jesus acolhe a todos. Deu aos judeus tudo que era da salvação. Estes pensam que os pagãos não merecem tanto. Jesus ensina que o Pai é generoso e quer dar tudo a todos. 
2. Paulo diz que deseja estar com Cristo no Céu, mas considera também importante que se dedique a suas comunidades Conclui que o importante é viver em Cristo. 
3. Mudar de pensamento significa conversão. Isaias e Mateus explicam que nossas atitudes podem não corresponder ao pensamento de Jesus. Jesus é Vida, não é uma idéia. Se o temos, compreendemos a Palavra e os sacramentos. 
Contabilidade de Deus. 
Deus age com outros princípios e não com nossa economia. O homem da parábola vai diversas vezes procurar empregados. Os últimos trabalham só uma hora. Na hora do acerto pagou a todos o mesmo salário. Estranha contabilidade! Qual é o sentido da parábola? Deus é totalmente generoso para com todos. Deus age com misericórdia e abundante graça para com todos que respondem ao seu chamado. Deus não oferece uma justa recompensa, mas doa tudo o que tem a quem acolhe o chamado, seja quando for. Por isso lemos em Isaias: Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos caminhos não como os meus caminhos. Entre nosso modo de pensar e o de Deus a distância é como da terra ao céu. O Senhor é bom para com todos; sua ternura abraça toda a criatura. O importante, como diz Paulo, é estar em Cristo, para agir como Cristo, vivendo à altura do Evangelho. 
Homilia do 25º Domingo Comum (18.09.2011)

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