domingo, 26 de novembro de 2023

REFLETINDO A PALAVRA - “Ele fala no silêncio”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Ele fala na escuridão
 
Quando dizemos que Deus fala, sempre buscamos palavras e expressões que nos esclareçam e nos confortem. Como Deus é Luz, sempre queremos tudo muito claro. Contudo, Ele fala na escuridão. Esta escuridão não é um mal, mas é a nossa dimensão que chamamos de consciência, o centro da orientação de nossa vida e de nossas decisões. Quem age somente por princípios externos perde-se a si mesmo. A consciência é nosso interior. Deus aí está. Dizemos que Ele é o mais íntimo de nosso íntimo. Ali Ele fala com mais clareza que em todos os outros lugares e condições. Enquanto a consciência não assume, não orienta. S. Afonso diz “que nenhuma lei nos condena diante de Deus, se ela não for revelada em nossa consciência”. Há muitos tipos de consciência. Entres estes a certa e a errada. A grande missão que temos para conosco é a formação da consciência. Esta é a pastoral mais urgente que temos na Igreja: formar as consciências, libertá-las dos tabus, da falta de orientação, da incompreensão da verdade e do fechamento ao bem. A formação da consciência a libertará e ensinará a ouvi-la como voz de Deus. Na linguagem simbólica do Paraíso terrestre, quando o demônio tentou Eva para comer da árvore do conhecimento do bem e do mal ela diz: “Deus proibiu porque sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal” (Gn 3,5). Trata-se não do conhecimento, mas da posse do bem e do mal. Agora é a pessoa quem decide o que é o bem e o mal. O pecado atingiu a consciência. A formação da consciência é comer do fruto da Árvore da Vida que é Jesus que mostra o caminho do bem, e corta o caminho do mal. O silêncio da consciência é o espaço mais apto para ouvir Deus falar. Ouvir a Palavra de Deus e não levá-la à consciência é torná-la infrutífera.
Ele fala na noite da vida 
Além do silêncio profundo da consciência, existe a noite da vida. Buscamos a felicidade e dizemos que Deus, se formos fieis, vai nos dar tudo de bom. Se não o tenho é porque não estou rezando bem. Mas Jesus não pensava assim, tanto que, no Horto das Oliveiras, pediu para ser libertado do sofrimento. Na cruz se sentiu totalmente abandonado por Deus. Deus sumiu! É o que dizemos. Este momento de total ausência e silêncio de Deus é o momento em que Ele grita forte: “Não tenhas medo, vermezinho... teu Redentor é o Santo de Israel” (Is, 41,14). Quando tudo parece que está contra nós, mesmo a vida, a Palavra de Deus dá esperança. O esvaziamento total é o momento do encontro maior com Deus. Temos medo do silêncio, pois nos coloca diante de nós mesmos para ouvir e responder.
Ele fala no silêncio total 
Nada mais forte na vida que a morte. Quando tudo termina, quando os sentidos humanos cessam, quando perdemos todo o controle da matéria e ela encerra seu curso, como ocorreu com Jesus, é aí que se faz mais forte a Palavra. Quando Jesus entregou tudo nas mãos do Pai, o Pai lhe deu a vida ressuscitando-O dos mortos. Somos despertados por Deus, com tudo o que somos, e passamos a viver a intensidade da Palavra: “Com amor eterno eu te amei e te chamei pelo nome”. Conheceremos Deus, como somos conhecidos por nós mesmos. Na morte está a Palavra da Vida. Refletindo sobre a Palavra de Deus, podemos ver quanto ampla ela é, pois participa do infinito de Deus. Vamos abrir a concepção de Palavra de Deus, para não cometermos a idolatria que é transformá-la numa coisa sob nosso controle e circunscrevê-la no livro material. A Verdade liberta da letra.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM SETEMBRO DE 2011

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