Jesus foi a grande novidade na história do universo, longa para nós e sempre curta diante da eternidade de Deus. Na encarnação do Filho, Deus entra nesse universo e assume a condição humana. É inaudito contemplar a realidade de Deus que se faz homem assumindo em si todo universo, pois Jesus não foi somente carne humana, mas estava unido, como todo homem, a todo o criado. Por isso Paulo escreve que Deus quis reconciliar em Cristo todo o universo (Cl 1,20). Ele atrai a Si o mundo criado. A encarnação de Jesus não é somente para uma redenção do pecado, mas a comunicação da própria vida divina. Deus não somente quis criar, mas quis partilhar. Na celebração do Mistério do Natal e da Páscoa encontramos a idéia de troca de dons entre o céu e a terra. Damos humanidade e recebemos divindade. Se inaudita foi a vinda de Deus, incompreensível foi a recusa da humanidade, expressa pelos chefes do povo judeu. A recusa que leva Jesus à morte, é vencida pela “entrega até o fim” que faz de Si. A Ressurreição é a resposta do Pai ao Filho “obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,8). Como a Encarnação envolve todo o universo, a Ressurreição, mais ainda, inicia a vertiginosa corrida para Deus (Telliard Chardin). É uma força de renovação. A Ressurreição penetra a humanidade e tudo que a cerca. O imenso mundo, que tem sabor de infinito, foi iluminado por Cristo. Paulo nos escreve que esse mundo também, como em dores de parto, suspirava pela libertação (Rm 8,21-22). Jesus não veio para um punhadinho de gente. Seus discípulos são proclamadores dessa redenção e vida nova, mesmo sendo poucos. A Ressurreição está sempre em ação no mundo. Se a humana exigência quer ver os resultados imediatos, Jesus responde, como diz o Papa Bento XVI, mostrando as chagas presentes no corpo do Ressuscitado. O Corpo de Cristo que é a Igreja, e unido a ela, o universo, traz em si as marcas dos cravos. A redenção deve penetrar todas as realidades.
Como eu vos amei
Jesus não deu somente um mandamento que fosse vivido pelos seus, mas que fosse caminho, modelo e meio eficaz para tornar presente a força do amor da Ressurreição. Jesus afirma “como vos amei”. Esse é o meio proposto por Ele. Seu modo de ser expressa a vida que levou entre nós, a Seu modo. Estar unido a Cristo é estar unido, não só ao seu lado espiritual, mas ao seu modo de viver. Estamos habituados a ouvir as palavras vida divina, Cristo em nós, unir-se a Cristo, cheios do Espírito, ungidos. Mas como? Através de nossa opção de fazer a vida como Ele a fez. Pedro prega ao falar de Jesus: “Ele passou entre nós, fazendo o bem” (At 10,38). Se amarmos como Ele o fez, estamos unidos a Ele. E fazemos o que Ele fez. João nos escreve: “Deve andar como Ele andou” (1Jo 2,6).
Assim serão meus discípulos
Jesus, em seu ensinamento, insiste nessa união de vida e de atitudes: “Tome sua cruz e siga-me” (Lc 9,23); onde eu estiver ali está o meu servo (Jo 12,26); no lava-pés manda fazer como Ele fez (Jo 13,15); o amor mútuo será o meio de ser reconhecido comodiscípulo (Jo 13,35). O que mais me assusta é que a Pessoa de Jesus não faz parte da vida dos fiéis. Jesus é uma idéia e não uma pessoa. Seu ensinamento (pouco conhecido) são teorias, e não projeto assumido através da fé. Mesmo nos ensinamentos oficiais, percebemos um conjunto de idéias que, mesmo belas, não tocam a vida. Os ritos das celebrações não partem das pessoas, da realidade. Por isso não são entendidos nem vividos. Como fazer para chegar a uma autêntica celebração, a uma autêntica vida com Cristo? Fazendo como Ele o fez. Seguindo suas pegadas. “Nisso é glorificado meu Pai, que deis muito fruto”(Jo 15,8).
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MAIO DE 2007
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