Celebrada a Vigília Pascal entramos na alegria de 50 dias da Páscoa, como num grande domingo, no dizer de S. Atanásio. A Páscoa penetra a vida da Igreja em todos os seus segmentos. Podemos dizer que a Páscoa é uma festa permanente. A libertação se faz presente. Cada celebração é Páscoa. Cada ato de amor é Páscoa, pois passamos da morte para a vida. A ponta humana da Páscoa é o sair de si. Infelizmente não temos nem a prática, nem o conhecimento do sentido de vigília. Já pensamos logo no sono que vamos sentir. Mas passamos noitadas em tantas festas, sem problema de sono. É vigília, não é velório. Basta ver como realizar. Vamos tentar descobrir o sentido de Vigília para o Senhor. Naquela noite, o povo teve que sair às pressas para a libertação, tanto que a massa do pão ainda não estava ainda fermentada (Ex 12,39). Páscoa é passagem do Senhor. Deus mandou conservar o rito: “É o sacrifício da Páscoa para o Senhor, que passando, poupou as casas dos Israelitas, atacou o Egito e salvou nossas casas” (Ex 12,25-27). “Está expresso aí o valor do rito pascal: uma memória eficaz dos acontecimentos da salvação celebrada durante uma vigília”. Assim ensina o I Targum (livro hebraico): “A vinda do Messias se dará numa noite de Páscoa”. Olhando para o futuro, em uma noite como essa, o mundo chegará a seu fim. Na Páscoa cristã temos a mesma dimensão: “A memória-presença do mistério de Cristo que vence a morte. Estamos clamando pelo retorno do Senhor, como a volta do patrão da noite de núpcias, para abrir a porta, assim que ele bater” (Lc 12,35-36).
As quatro noites
Na reflexão sobre a noite de Páscoa, temos o ensinamento sobre as “quatro noites”. Esse tema não é muito comentado, mas pode ampliar nossa reflexão. A primeira noite é aquela na qual Deus Se manifestou para criar o mundo. A Palavra de Deus a iluminou (Gn 1,2). A segunda noite é a aliança de Deus com Abraão com a promessa da terra aos descendentes (Gn 15,18). A terceira é a noite em que Deus se manifestou contra os egípcios protegendo os primogênitos hebreus. A quarta noite será quando o mundo, chegado a seu fim, será dissolvido. A memória pascal é criadora de um mundo novo. Com Jesus se supera a noite do mundo e se abre a luz de uma manhã para todo o universo. “E ouve tarde e manhã, primeiro dia” (Gn 1,3-5). É primeira característica. A segunda característica é a criação de um povo através do Filho Unigênito de Deus, Jesus, Primogênito do novo povo de Deus. Nele são renovadas todas as coisas. No Apocalipse João proclama: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5). A terceira característica é a ação libertadora. A saída do Egito é uma profecia da libertação do mal. A quarta é a que fazemos em cada celebração: “Vinde, Senhor Jesus!”. É tempo da espera. Podemos estar seguros que Ele fará nossa Páscoa definitiva. A Vigília é uma memória e uma espera.
Mãe de todas as vigílias
Os mestres da Igreja dos primeiros séculos, que chamamos de Santos Padres, tinham uma consciência profunda, vivencial e celebrativa da Vigília Pascal. S. Agostinho a chama de “Mãe de todas as vigílias”. A fé na Ressurreição era uma cultura. Pelos textos e ritos realizamos, na fé, o mistério da Ressurreição que se torna presente. Não absorvemos essa realidade. Não fazemos vigílias, mas podemos pensar em estar mais ligados ao pensamento da Ressurreição e vivê-la nas celebrações. Só compreenderemos quando assumimos o Mistério Pascal de Cristo, como vida de nossa vida. Senão, tudo é rito vazio.
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