A
atitude da mulher, conhecida como pecadora, lavando os pés de Jesus com as
lágrimas, enxugando com os cabelos, beijando-os e passando perfume está fora de
nossos esquemas. Mais ainda o foi para Simão e os demais convidados. A cena é
forte e tocante. O que ela fez com amor, Simão não o fez nem por hospitalidade.
Jesus age de um modo muito humano. Rompe com os esquemas de discriminação da
mulher. Ela se reconhece e descobre em Jesus que a reconhece como amada de
Deus. Mesmo em sua fragilidade ofereceu um amor completo que foi acolhido com
totalidade. Só se conhece o pecado quando se ama de verdade. Quem não ama, peca
contra si mesmo. Destrói a capacidade e de atingir o maior da vida. O fariseu
se faz senhor da situação, pois se julga convencido de sua moral. Pôs a mulher
no seu esquema e julgou Jesus por deixar-se tocar pelo mal. Jesus lhe dá a resposta,
ao perdoar a mulher: “Os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque
muito amou. Aquele a quem pouco se perdoa, mostra pouco amor” (Lc 7,47). Transformamos
a confissão em um ato de terror, quando é um momento de idílico amor. Se
tivéssemos seguido Jesus em ver o amor e não o pecado, não estaríamos nesta
crise do sacramento da penitência. Este evangelho é uma crítica muito forte ao
farisaísmo presente em muitos que se dizem fiéis a Deus. Ele os ama também, mas
espera um gesto mais forte de amor através do reconhecimento melhor entre as
pessoas. Este texto mostra também que as portas do Reino estão abertas a todos
que querem entrar, sem exigir atestado de boa conduta. Quer recordar que, para
cada situação há sempre a alternativa da recuperação e do retorno ao bom caminho
(Ortensio da Spinetoli).
As mulheres que seguiam Jesus mostram um amor que supera os próprios apóstolos,
pois estão ao pé da cruz e na manhã da ressurreição. Assumiram a evangelização,
como vemos nas comunidades de Paulo.
Cristo vive em mim
O
amor a Deus não é espiritualista, mas envolve toda nossa pessoa, como a
pecadora que o manifestou com gestos e coisas da vida, como o perfume. O amor
às pessoas tem que ter o calor que Jesus lhes oferecia a todos. A carta de
Paulo aos Gálatas orienta quanto a atitude dos cristãos de buscarem a lei
judaica, mas viverem em Cristo e não na lei. Somos salvos pela fé em Jesus e
não pela mentalidade legalista. Paulo morreu para a lei e vive para Cristo.
Diz: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim. Esta minha vida presente,
na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus que me amou e por mim se
entregou (Gl 2,20).
A vida cristã tem como fundamento a fé em Cristo que é uma união de vida, não só
uma doutrina. Mas sem o mal de legalismo. Lei sim, mas para a vida.
Eu confessei meu pecado
Reconhecer
a própria fragilidade não é uma humilhação, mas uma questão de inteligência
espiritual. Não só tem o humor de saber-se frágil, mas se reconhece necessitado
diante de Deus. Só assim é possível pensar em perdão. Pecado significa não
viver. Paulo resume nisso sua vida: A mulher, chamada de a pecadora, achou a
vida em Cristo. Davi, reconhecendo seu erro, descobre-se e não é abandonado por
Deus. A atitude de Jesus para com a mulher motiva-nos também a repensar o papel
da mulher na Igreja. Há muito que se promover e acolher da parte da mulher.
Igualmente uma redescoberta do lado humano do sacramento da confissão que deve
se basear no amor e não no temor.
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