PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
628.
Jesus, o grande que se fez pequeno
Iniciando
a Quaresma, vem-nos ao pensamento mais uma virtude que é mais um nome do amor:
despojamento, esvaziamento, desapego, abaixamento. Estes são diversos nomes da
mesma virtude que têm um nome comum que é kénosis.
É uma palavra difícil, mas muito usada no conhecimento de Cristo. É impossível
conhecer Jesus sem essa virtude. Ela é muito cara à Palavra de Deus. Vem unida
à humildade. Como é uma virtude de Jesus, um modo de ser de sua vida, somos
chamados a vivê-la. Esta virtude desmascara nossas falsas seguranças. O que é
essa virtude de nome estranho? Temos que conhecê-la como Jesus, a viveu. É
fundamental, pois é o modo de ser o do amor. É o caminho que assumiu ao vir ao
mundo. Abandonou toda a aparência de divindade assumiu toda nossa fraca
humanidade. É seu aniquilamento - kénosis que, para Ele significou ser em tudo
semelhante a nós exceto no pecado (Hb 4,15).
Esse esvaziamento, despojamento, não é uma destruição, mas a verdadeira posse
de si, na qual se é capaz de deixar fora o que é secundário, como riqueza,
orgulho, prazeres, até a própria vida, para possuir a Vida. Foi o que Jesus fez:
deixou a divindade e assumiu a humanidade. Foi conhecido como homem e assumiu a
condição de escravo (Fl 2,7). Saímos de
nós mesmos para receber a totalidade da vida. Jesus é a personificação do
auto-despojamento pela sua forma de servo, transbordando amor divino. Não é
esvaziamento que aniquila a pessoa, mas que a coloca em plena abertura ao
divino. O Filho de Deus veio em nosso socorro.
629.
Modo de ser cristão
A
kénosis cristã é o conhecimento existencial da gratuidade. Quanto mais profundo
for este conhecimento da gratuidade da nossa existência, tanto mais seremos capazes
praticar o desapego, lançando-nos com toda a confiança nas mãos de Deus
esvaziando-nos do que não é autenticamente humano. É realizar em nós o
desprendimento de Cristo, tendo clara consciência do perigo que representa o
orgulho e o apego ao nosso eu egoísta
e nosso nada aniquilador. Não é esvaziamento e aniquilamento de nossa
personalidade e de nosso eu existencial. É abertura total à graça de Deus que
impede o orgulho. Deus, totalmente humilde, oferece toda a graça que é sua
vida, para quem saiba se despojar. A Escritura diz: “Deus resiste aos soberbos
e dá sua graça aos humildes” (Lc 1,53). É
a experiência da vida eterna: “A vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como
o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo” (Jo
17,3). É viver cheio de Deus e vazio de si. Como se diz: ‘Dar ao nosso eu o D
e o S (D eu S)”. Temos que nos
esvaziar até na espiritualidade: Tenho receio de espiritualidades que se enchem
de si, governados pelo orgulho.
630.
Sereis iguais a Deus.
O paraíso se fecha quando a pessoa quer se pôr no lugar
de Deus. Comer a fruta do egoísmo é matar-se, porque Deus é a vida. O egoísmo está
presente até nos meios sagrados. O desapego faz-nos voltar ao esplendor
original, convidando-nos à alegria à comunhão e à jubilosa partilha. Seremos
livres e ricos, suficientes para cuidar dos outros, como Jesus que nos
enriqueceu com sua pobreza (2Cor 9,8). Participamos de sua alegria. Paulo se esvazia, (Fl 3,7-12) por
isso se sente pleno e rico. Estando vazio e cheio de Deus, não se aliena.
Encontramos a nós mesmos e dentro de nós, Deus. A tentação era ser igual a
Deus. A vitória é ser igual a Deus no esvaziamento para que todos tenham vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário