PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Contando histórias
Os antigos guardavam seus ensinamentos através de
narrativas. Só tinham a memória como meio de saberem de seu passado, sua
filosofia de vida, sua cultura e, sobretudo, sua razão de ser e seu futuro.
Podemos ver isso perfeitamente nas narrativas da ceia hebraica. Cada ano,
narram os fatos de sua história lembrando o que Deus fez por eles. Repassando a
história, reafirmam sua identidade. Nessas histórias vão se descortinando as
belezas do passado. Mesmo não sendo tudo realidade histórica, é a compreensão
verdadeira que o povo tem de si. Eles não inventavam a história, mudavam as
personagens lugares e data, mas é sempre a mesma pessoa que atua: Deus age e
conduz o seu povo. No momento em que não contamos mais nossa história é porque
está por se encerrar ou passamos a não mais significar. Os povos que se
deixaram invadir por outras culturas, se desfiguraram como povo perderam sua
história. Assim também o povo de Deus: fundou-se sempre na sua história para
dar sentido a seu futuro. Na ceia pascal, cada participante se considerava
participante das fases histórica do povo: “Naquele dia contarás a teu filho,
dizendo: Isto é por causa do que o Senhor me fez, quando eu saí do Egito. Com
mão forte o Senhor me salvou” (Ex 13,8-9).
A Palavra de Deus é também história.
Quando abrimos a Bíblia encontramos grandes trechos
que contam as histórias do povo de Deus. Não é uma história em nosso sentido,
narração de fatos, mas louvor às maravilhas que Deus operou em nosso favor. Há
fatos históricos, mas o importante é ver a linhas de Deus se confundindo com os
caminhos humanos. É uma dança divina onde o autor da vida e o homem criado,
entram em diálogo e são parceiros. Podemos dizer “Não entendo nada”. Na
verdade estes fatos e estas pessoas tornam-se próximos e tornam-se reais. Com
uma pequena introdução e estudo, o texto torna-se claro e aberto. A meta de
nosso conhecimento do caminho de Deus não é uma leitura fundamentalista, quer
dizer, tem que ser como está escrito, mas uma leitura que respeita o gênero
literário, isto é, o que o autor sagrado quer transmitir com esta narração.
Deus conduz o seu povo, levando-o a crescer até chegar à maturidade, na
plenitude dos tempos, de acolher a presença do Filho em nossa carne, quando se
faz presente em nossa historia. Conhecendo o fio das misericórdias de Deus
podemos reunir todos estes fatos.
Transformar a própria história em
história de salvação.
Não basta acreditar na história da
salvação, nem reconhecer Deus agindo no mundo, é preciso reconhecer a própria
história pessoal em história de salvação. Nisso chegamos ao ponto que Deus
tanto ama “que seus caminhos sejam nossos caminhos e que nossos pensamentos
sejam nossos pensamentos” (Is 55,8). Quando temos os pensamentos de Deus,
nossas ações serão aquelas queridas por Deus e começamos a colocar no mundo o
seu Reino. Mais ainda. Quando sabemos, em nossas dificuldades e em nossos
sofrimentos, descobrir o que Deus quer de nós, nossa história se une à sua e se
torna história da salvação.
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