Os mártires Daudi Okelo e Jildo Irwa são dois jovens catequistas ugandenses que viveram no início do século XX. Eles pertenciam à tribo Acholi, subdivisão do grande grupo Lwo, cujos membros ainda vivem no norte de Uganda, com uma presença significativa no Sudão do Sul, Quênia, Tanzânia e Congo. Sua história e seu martírio ocorreram apenas três anos após a fundação pelos missionários combonianos da missão de Kitgum (1915).
Daudi Okelo
Nasceu por volta de 1902, em Ogom-Payira aldeia do nordeste de Uganda, seus pais eram os pagãos, Lodi e Amona. Começou a frequentar os ensinos na missão e recebeu o batismo em torno de 14 anos de idade. Batizado pelo padre Cesare Gambaretto em 01 de junho de 1916, recebeu sua Primeira Comunhão no mesmo dia e foi confirmado em 15 de outubro de 1916. Depois de sua formação, ele concordou em entrar no ministério de catequista.
No início de 1917, tendo morrido o catequista de Paimol, Daudi apresentou-se ao padre Gambaretto, superior da missão de Kitgum, e se ofereceu para substituí-lo. No entanto, no final de 1917, foi decidido, na reunião mensal dos catequistas, que o jovem Jildo Irwa seria seu auxiliar na catequese.
Os dois são então apresentados para padre Gambaretto, que os avisou sobre as dificuldades deste compromisso: a distância, cerca de 80 quilômetros de Kitgum e, especialmente, as brigas frequentes entre os habitantes locais, fomentada também por gangues e incursões de comerciantes de escravos e marfim, que esporadicamente apareciam na área. Naquele momento Daudi responderia: "Eu não temo a morte, afinal, Jesus morreu por nós. "
Então, em torno de novembro-dezembro de 1917, receberam a bênção do Padre Gambaretto, e foram acompanhados pelo coordenador dos catequista de Paimol de Kitgum, o Bonifacio. Daudi imediatamente começou a exercer as suas funções convocando as crianças ansiosas para aprender a religião.
Ao amanhecer, ele está batendo o tambor para recolher seus catecúmenos para orações da manhã, à qual acrescentou para si mesmo e Jildo, o santo rosário. Ensinavam a memorizar as orações e as perguntas e respostas do catecismo. Para facilitar o aprendizado, as respostas eram frequentemente repetidas durante as aulas com o canto.
Foram então ensinando os primeiros elementos, designados Lok-odiku (as palavras da manhã), ou seja, as partes básicas do catecismo. A essa atividade eles adicionam visitas às pequenas aldeias nas proximidades, onde havia catecúmenos ocupados em guardar o gado ou no trabalho nos campos.
Ao por do sol faziam a Oração Comum e a recitação do Rosário, que sempre encerravam com algumas músicas para a Virgem Maria. No domingo, eles realizavam uma reunião mais substancial de oração, muitas vezes animada pela presença de catecúmenos e catequistas das zonas mais próximas.
Daudi era de temperamento quieto e tímido, diligente em seus deveres como catequista e amado por todos. Ele nunca se metia em disputas tribais e políticas, muito frequentes naquele tempo, em que a submissão ao governo britânico foi muitas vezes seguida de impaciência mal disfarçada.
Como resultado de uma medida infeliz, tomada no Paimol pelo Comissário do Distrito, um oficial britânico, foi criada uma tensão muito grave. Os raiders, elementos muçulmanos e feiticeiros aproveitaram-se da situação de violência para tentar erradicar a nova religião.
Durante o fim de semana de 18 a 20 de outubro de 1918, antes do amanhecer, ainda muito cedo, cinco pessoas fizeram o seu caminho para a cabana onde Daudi estava junto com Jildo, com o propósito declarado de matá-los. Um dos anciãos da aldeia enfrentou os recém-chegados dizendo-lhes que eles não poderiam matar os catequistas porque eram seus hóspedes.
Daudi chegou à porta da cabana e pediu ao ancião para não se envolver. Depois de um tempo, ignorando a insistência feita pelos assaltantes para abandonar o ensino do catecismo, ele foi arrastado para fora da cabana, foi jogado ao chão e perfurada com lanças.
Ele tinha entre 16 e 18 anos de idade.
Seu corpo foi, em seguida, deixado insepulto até poucos dias mais tarde, quando algumas pessoas amarraram uma corda em volta do seu pescoço e o arrastou para um ninho de cupins fora nas proximidades. Os restos mortais, tirados de Paimol em fevereiro de 1926, foram posteriormente colocados na igreja da missão de Kitgum ao pé do altar do Sagrado Coração.
Jildo Irwa
Nasceu em 1906, ou algum tempo depois, na aldeia de Bar-Kitoba, ao noroeste de Kitgum, de ambos os pais pagãos: Ato, sua mãe, e Okeny, o pai, que mais tarde se converteram ao cristianismo.
Batizado pelo padre Cesare Gambaretto em 1 de junho de 1916, Jildo recebeu sua Primeira Comunhão no mesmo dia e foi confirmado em 15 de outubro de 1916.
Dele, Padre Gambaretto escreve:
"Ele era muito mais jovem do que Daudi. De caráter amigável e gentil, como são as crianças Achioli, era dotado de uma bela e vivaz inteligência. Foi uma grande ajuda para Daudi no cuidado dos meninos, pela sua educação e maneiras gentis e sua grande alegria infantil. Ele sabia entreter a todos com jogos inocentes e com reuniões barulhentas e alegres. Ele havia recebido recentemente o batismo, cuja graça era mantida intacta em seu coração e em seu comportamento fascinante”.
Jildo se ofereceu espontânea e voluntariamente a seguir Daudi para ir e ensinar a Palavra de Deus em Paimol. Todos gostavam muito dele porque era sempre disponível e exemplar na sua função como auxiliar de catequista.
Na manhã de seu martírio, a Daudi que profetizou um possível final sangrento, Jildo disse:
"Por que deveríamos ter medo? Estamos neste país só porque o Pai mandou-nos para ensinar a sua Palavra. Não tenha medo”.
O mesmo repetiu aos assassinos que o convidaram a abandonar o lugar e a função de auxiliar de catequista.
"Nós não fizemos nada de errado - disse ele chorando – Pelo mesmo motivo que você matou Daudi, você tem que fazer isso comigo, porque juntos nós viemos e ensinamos a palavra de Deus.”
Em seguida, uma mão o agarrou, empurrou-o para fora da cabana e do muro, e à distância de dois passos, o feriu com uma lança que o atravessou de lado a lado. Em seguida, um dos assassinos acabou com ele com uma faca na cabeça.
Ele tinha entre 12 e14 anos de idade.
O testemunho de Daudi e Jildo é extremamente significativo para os eventos que hoje Uganda está passando. Isto é, dois jovens catequistas leigos que evangelizaram juntos e permaneceram fiéis à sua missão de transmitir o Evangelho na Palavra e na Vida. Além disso, por terem corajosamente se mudado para uma área que não pertencia ao seu clã de origem, tornaram-se presente no seu ambiente, um sinal da catolicidade e unidade da Igreja. Finalmente, depois de terem vivido em uma época de guerras tribais, interesses coloniais e da escravatura doméstica florescente, representam a pureza do Evangelho, que sempre protege a dignidade da pessoa e promove a paz entre os povos, etnias e culturas. Por esta razão, ainda hoje, são lembrados em seus distritos como verdadeiros "testemunhas de sangue" de Cristo.
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