O nome que os pais de Sérgio de Radonej lhe deram no ato de batismo foi Bartolomeu.
A data e o ano do seu nascimento são desconhecidos. De acordo com certas estimativas aproximadas, ele teria nascido em 1314. Antes dele, nos mosteiros russos não havia ascetas de origem russa. Todos os monges famosos eram forasteiros, vindos do Bizâncio, - nenhum deles era russo. São Sérgio foi o símbolo russo na busca espiritual.
Na idade de dez anos, o jovem Bartolomeu começou a estudar juntamente com os seus irmãos, - o mais velho Stefano e o mais jovem Pedro, - numa escola junto da igreja a fim de aprender a ler e a escrever. Aí destacou-se pela extrema inquietude e incapacidade de assimilar a língua grega.
O professor censurava-o, os pais ficavam amargurados e tratavam de levá-lo à razão. Ele próprio rezava em lágrimas mas não conseguia avançar nos estudos. Foi aí que se deu o evento de que se fala em todas as obras dedicadas à sua vida.
...Certa vez o menino, que tinha então 13 anos, foi incumbido pelo seu pai de buscar os cavalos que estavam no campo. Enquanto procurava os animais, chegou a uma clareira e viu debaixo de um carvalho um velho monge-eremita que fazia a sua oração em lágrimas. Ao vê-lo, Bartolomeu fez inicialmente uma vênia humilde, a seguir chegou mais perto, esperando que ele concluísse a oração. O velho disse-lhe:
“O que você busca e o que quer, meu filho?”.
"A minha alma deseja acima de tudo conseguir compreender as Sagradas Escrituras. Tenho de estudar leitura e escrita, e fico tremendamente aborrecido pelo fato de não conseguir aprender essas coisas. Por favor santo padre, reza a Deus por mim, para que Ele me dê conhecimento para aprender a ler!" Depois de rezar, o velho disse:
“Quanto à arte de ler e escrever, meu filho, não se aflija, doravante o Senhor vai-lhe dar o conhecimento da escrita”.
Depois disso, o velho monge quis se ir embora mas Bartolomeu implorou que visitasse a casa dos seus pais. Durante a refeição, os pais de Bartolomeu ouviram a profecia do velho:
“O menino será grande diante de Deus e dos homens pela sua vida virtuosa”. Depois de dizer isso, o monge preparou-se a sair mas no último momento disse:
“O seu filho será o reduto da Santa Trindade e levará consigo muitos para a compreensão dos Mandamentos Divinos”.
Na idade de 23 anos, Bartolomeu chamou o monge, chamado irmão Mitrofan, e recebeu dele a ordem sob o nome de Sérgio pois naquele dia festejava-se a memória dos mártires Sérgio e Vakh.
Uns dois ou três anos depois os monges começaram a convergir para o local em que ele estava. Assim surgiu o mosteiro que recebeu em 1345 o nome de Mosteiro da Trindade-São Sérgio.
Como eram os mosteiros era na Rússia antiga? Antes de São Sérgio de Radonej a maioria dos mosteiros era construída por Grãos-Príncipes e vivia de acordo com a sua vontade e às suas custas.
São Sérgio de Radonej foi o primeiro entre os padres russos da Igreja a indagar a si próprio: por que razão os discípulos ou, de um modo geral, os filhos espirituais de Cristo, isto é, os monges, devem eximir-se de quaisquer cuidados com a sua alimentação e com outras necessidades nesta viagem espiritual que é a vida?
Ele foi o primeiro entre os monges-anacoretas a proclamar a vida autônoma, a declarar que os monges deviam cuidar, eles próprios, da sua alimentação sem aguardar pelos favores do príncipe. Isso encerrava um sentido profundo, pois o mosteiro escapava à tutela, - política ou material, - dos grãos-príncipes e realizava a sua atividade apenas em conformidade com o espírito e a vontade de Cristo, independentemente dos caprichos do príncipe.
São Sérgio de Radonej fundou o Mosteiro da Trindade-São Sérgio mas não assumiu a sua chefia: nomeou para este cargo o padre Mitrofan. Não quis assumir a gestão administrativa do mosteiro criando desta maneira um enigma para os historiadores da igreja. São Sérgio de Radonej proibiu os seus monges de receber esmolas e exigiu que todos eles vivessem do seu trabalho, dando, ele próprio, exemplo disso.
A sua fama crescia gradualmente e um número cada vez maior de pessoas, - desde os simples agricultores até aos príncipes, - passaram a afluir ao mosteiro. Foi uma transformação radical no relacionamento entre os dois poderes - o poder dos príncipes e o poder da Igreja. São Sérgio proclamou a tese de que o poder divino superava o poder terrestre. Este princípio passou a exercer gradualmente o seu efeito. Muitas pessoas doavam os seus bens ao mosteiro e este, que inicialmente passava por toda sorte de extremas privações, tornou-se bastante rico.
Uma crônica eclesiástica reza que a glória de São Sérgio e do seu mosteiro chegou, inclusive, a Constantinopla. O Patriarca Ecumênico Filofeu mandou-lhe uma missão especial que lhe entregou uma cruz, muitos outros objetos e uma carta em que elogiava a sua vida virtuosa e aconselhava a criar no mosteiro a chamada cinovia, isto é, uma comunidade monástica com um regime especialmente rigoroso de vida.
Continua a ser um mistério até hoje de que maneira Sérgio conseguiu fazer aquilo que antes dele nenhuma personalidade eclesiástica tinha logrado, ou seja, demonstrar aos príncipes que o seu poder terrestre era inferior ao poder divino.
São Sérgio faleceu em 1392 mas o mosteiro que ele tinha fundado foi, durante vários séculos, um centro cultural e religioso do estado Russo.
Durante toda a sua vida teve como lema a frase “Contemplando a Santíssima Trindade, vencer a odiosa divisão deste mundo”.
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