Evangelho segundo São Lucas 9,43b-45.
Naquele tempo, estavam todos admirados com tudo o que Jesus fazia. Então Ele disse aos discípulos:
«Escutai bem o que vou dizer-vos. O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens».
Eles, porém, não compreendiam aquelas palavras; eram misteriosas para eles e não as entendiam. Mas tinham medo de O interrogar sobre tal assunto.
Tradução litúrgica da Bíblia
Sermões para a Quaresma 1981, n.º 3
«O Filho do homem vai ser entregue
às mãos dos homens»
Depois de O terem flagelado, O terem coroado de espinhos e Lhe terem vestido um manto de escárnio, os soldados romanos levaram Jesus a Pilatos. Este militar de coração duro ficou aparentemente incomodado com a visão daquele homem destruído, alquebrado, e apresentou-O à multidão, declarando: «Idou anthropos, Ecce homo», que traduzimos habitualmente por «Eis o homem!» (Jo 19,5). Mas em grego isto quer dizer, mais exatamente: «Vede, isto é o homem!» Na boca de Pilatos, estas palavras eram as de um cínico que queria dizer: «Nós gloriamo-nos de ser homens, mas agora, ei-lo, este verme da terra é o homem! Como é desprezível e pequeno!» Nestas palavras cínicas, o evangelista João reconheceu igualmente palavras proféticas, que transmitiu à cristandade.
Sim, Pilatos tem razão quando diz: «Vede, isto é o homem!» Nele, em Jesus Cristo, podemos ler o que o homem é, o projeto de Deus, e que tratamento lhe reservamos. Em Jesus dilacerado, podemos ver como o homem consegue ser cruel, pequeno e mesquinho. Nele, podemos ler a história do ódio do homem e a história do pecado. Nele, no seu amor que sofre por nós, podemos ver ainda melhor a resposta de Deus. Sim, isto é o homem, que Deus amou até ao pó, que Deus amou a ponto de o seguir até ao derradeiro sofrimento da morte. Mesmo na humilhação extrema, ele é o chamado por Deus, o irmão de Jesus Cristo, chamado a tomar parte do amor eterno de Deus.
A pergunta «O que é o homem?» encontra resposta na imitação de Jesus Cristo. Fazendo nossos os seus passos, podemos aprender, dia após dia, o que é o homem na paciência do amor e no sofrimento com Jesus Cristo, tornando-nos, assim, homens. Então, quereremos erguer os olhos para Aquele que Pilatos e a Igreja nos apresentam. O homem é Ele. Oremos-Lhe, pedindo que nos ensine a tornarmo-nos verdadeiramente homens, a sermos homens.
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