sábado, 21 de setembro de 2024

SANTA EFIGÊNIA(IFIGÊNIA)

Quem foi Santa Efigênia? 
Responder esta pergunta não é fácil. Santa Efigênia (ou Ifigênia) viveu num passado muito distante, sendo contemporânea dos Apóstolos. Informações históricas confiáveis sobre época tão remota nem sempre são acessíveis. Contudo, o fato de ser um personagem tão relevante fez com que informações essenciais sobre sua vida fossem preservadas ao longo de tantos séculos. Efigênia nasceu na Núbia, grande e célebre monarquia da Etiópia, banhada pelas águas do rio Nilo. Era um reino próspero e populoso. Seu povo, segundo informações, vivia fundamentalmente do comércio e da agricultura em terras férteis por causa do rio Nilo, produzindo principalmente cana de açúcar[1]. Mesmo antes de conhecerem o Evangelho, os habitantes da Núbia eram religiosos, porém politeístas, com crenças semelhantes às dos egípcios. Havia uma multiplicidade de deuses que ali eram cultuados, e aos quais se ofereciam diferentes tipos de oferendas. Neste reino a fé cristã teve um de seus mais belos capítulos, com a chegada do evangelista São Mateus. Segundo antigas informações, o autor do primeiro evangelho chegou à Núbia 08 anos depois da ascensão do Senhor. Inicialmente, as palavras do apóstolo foram consideradas tolas e absurdas. Com o passar do tempo, o testemunho de São Mateus foi confirmando suas palavras, e numerosas conversões foram florescendo. Efigênia era princesa, filha dos monarcas Égipo e Eufenisa. Tinha um irmão, Efrônio, que era o príncipe herdeiro. Efigênia somente ocuparia o trono em caso de falta do irmão. À princesa a doutrina anunciada por Mateus imediatamente foi acolhida como conforme à verdade, ao justo e ao bem. A ela aderiu prontamente, renunciando definitivamente aos costumes pagãos. Convertida, Efigênia tomou a decisão de abraçar a virgindade perpétua como estado de vida, e o seu exemplo foi seguido por muitas outras jovens, que passaram a viver numa comunidade religiosa, inspirada na espiritualidade de Santo Elias, pai dos carmelitas. Quanto aos fatos que se sucederam à sua conversão, há diferentes versões. A que se apresenta como mais consistente afirma que com a morte do rei, o tio de Efigênia, Hirtaco, irmão de seu pai, conseguiu ocupar o lugar no trono, e em seguida tomou a decisão de casar-se com a princesa, por sua inigualável beleza, mas também por motivos políticos[2]. Se tais informações hoje nos surpreendem e assustam, devemos recordar que se trata de uma cultura pagã, muito distante dos costumes familiares dos nossos dias. Como Efigênia rejeitou a proposta, Hirtaco recorreu a São Mateus, pedindo que o Apóstolo a convencesse a abrir mão do voto de castidade, e aceitasse casar-se com ele. Jacopo da Varazze, na obra Lenda Áurea, um clássico da hagiografia do século XIII, afirma que Mateus dirigiu ao rei as seguintes palavras: “Todos vocês sabem que, se um escravo ousasse raptar a esposa do rei, mereceria a morte, pelo ultraje. A mesma coisa te aconteceria, ó Rei. Sabes que Ifigênia se tornou a esposa do Rei Eterno. Como podes pretender tomar a esposa daquele que é muito mais poderoso que tu, e casar-se com ela?”[3]. Como é de se esperar, o rei ficou enraivecido ao ouvir estas palavras, e mandou matar São Mateus. Não satisfeito com a morte de São Mateus, Hirtaco ateou fogo à casa em que morava Efigênia e as demais jovens consagradas. Milagrosamente, contudo, o incêndio se extinguiu, sem causar ferimento a Efigênia ou às demais moradoras do convento. Por esta razão, Santa Efigênia é venerada como defensora contra os incêndios. 
Como e por que Santa Efigênia se tornou conhecida no Brasil? 
Era muito venerada no convento dos carmelitas de Lisboa, em Portugal, juntamente com Santo Elesbão, compatriota da Santa. Por ter adotado a espiritualidade de Santo Elias, Santa Efigênia sempre foi reconhecida como uma santa Carmelita, razão pela qual é revestida com o hábito daquela ordem religiosa. No Brasil, a devoção à Santa foi prontamente acolhida, também por motivos culturais: Santa Efigênia permite perceber que a santidade está presente em pessoas de todas as matrizes culturais, e não somente nas pessoas de origem europeia, como poderia parecer, em determinado período histórico. O Martirológio Romano na edição de 1954, sintetiza a vida de Santa Efigênia com as seguintes palavras: “Na Etiópia, Santa Ifigênia, virgem, que foi batizada e consagrada a Deus pelo bem-aventurado apóstolo São Mateus. Teve uma Santa Morte”. É fácil perceber o motivo pelo qual Santa Efigênia conquista tantos corações, ainda em nossos dias. É mulher negra, segura e decidida, que tem coragem e força suficiente para abraçar um ideal de vida que desconcerta a todos. É desrespeitada e ameaçada de diferentes formas, mas se mantém firme, mesmo que por este motivo tenha que colocar em risco a própria vida. Além disso, ao proteger a casa em que residia com sua comunidade religiosa, mostra que a casa/família é um dos maiores valores, conseguindo de Deus a graça da conquista da casa própria para quantos a ela recorrem. É surpreendente o número de pessoas que testemunham graças recebidas de Deus, por especial intercessão de Santa Efigênia. 
Pe. José Carlos dos Santos
[1] Muitas das informações deste texto estão fundamentadas na obra seguinte, publicada em 1738, e reeditada em 1902: SANT’ANA, Fr. José Pereira de. Vida de Santa Ifigênia: Princeza do Reino da Nubia, Advogada Contra os Incendios. Belo Horizonte: Imprensa oficial do Estado de Minas Gerais, 1902.
[3] Cf. AUGRAS, Monique. Todos os Santos são Bem-vindos. Rio de Janeiro: Pallas, 2005, p. 77.
Santa Efigênia era filha de Égipo e Eufenisa, reis de Núbia, um pequeno reino da Etiópia. Sabe-se pouco da sua vida. As notícias que chegaram até nós dizem que, oito anos depois da Ascensão de Jesus, quando o apóstolo Mateus e outros discípulos foram evangelizar a região de Núbia, não foram bem acolhidos. Somente a princesa Efigênia compreendeu que devia adorar um só Deus, rejeitando o paganismo.
Esforçou-se para difundir o Cristianismo 
Diante da propagação do Cristianismo, os chefes pagãos – muito influentes na cidade – decidiram oferecer Efigênia em sacrifício. Ao aguardar o trágico momento, a Santa consagrou-se a Deus, único Criador. Enquanto preparavam a fogueira, foi incentivada por Mateus e sentiu o amor de Deus no seu coração. Quando as chamas estavam altas, Efigênia gritou e invocou o nome de Jesus. Os presentes testemunharam que desceu um Anjo do céu e livrou a princesa das mãos dos inimigos. Sendo salva, multiplicou seus esforços e zelo para converter o povo de Núbia ao cristianismo. 
Protetora dos incêndios 
Com o seu testemunho, a Santa se deparou com muitas resistências, entre as quais a do seu tio, Hirtaco. Ele procurou fazer com que Mateus convencesse Efigênia a casar-se com ele. Mateus não aceitou e, assim, - segundo algumas reconstruções, consideradas pouco críveis, - este motivo aplainou a estrada para o seu martírio. Efigênia e seu irmão, Efrônio, tiveram que enfrentar um grande incêndio, provocado por Hirtaco. Mas, graças à ajuda do Senhor, sobreviveram, enquanto Hirtaco fugiu. Desta forma, o povo proclamou Efrônio como rei de Núbia, governando em paz, por setenta anos, sendo depois sucedido por seu filho. Ao sentir-se aproximar o momento da sua morte, Efigênia recebeu os Sacramentos e aguardou a sua hora com serenidade e paz. Santa Efigênia é considerada “Libertadora de Núbia” e é invocada como protetora contra os incêndios. De fato, em quase todas as representações iconográficas, a Santa aparece segurando uma casa ou uma igreja em chamas.

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