Iniciando o Ano Litúrgico, não só mudamos uma página do calendário, mas damos um passo grandioso ao encontro do Senhor que vem. O Advento é tempo da espera e tempo da acolhida. Caminhamos para o encontro do Senhor quando vem para inaugurar o Reino definitivo. É tempo de acolhida que nos leva de modo sacramental ao Presépio para receber o “Filho que nos foi dado” (Is. 9,5). Não vivemos a espera sofrida de um castigo, mas a serena expectativa de receber “o Reino que nos está preparado desde toda eternidade” (Mt 25,34). É com o coração do pastor que vamos a Belém. É com a disposição de um Rei Mago que enfrentamos o caminho para ir ver o “Rei que acaba de nascer” (Mt 2,2). O Evangelho nos convida a estar vigilantes. Não sabemos a hora, mas virá. Jesus aconselha: “Portanto, ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor”... “Ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 24,42.44). Cada dia nos coloca mais perto deste momento. Paulo nos convida: “Vos sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar. A salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé” (Rm 13,11). Como relata Jesus, vivemos como no tempo de Noé: comendo, bebendo, casando, sem nada perceber até que veio o dilúvio e arrastou a todos. É preciso estarmos despertos e ver nos acontecimentos os sinais do Deus que vem ao nosso encontro. Isso não é uma ameaça, mas um dom.
Transformando as estruturas
O Advento não é só uma “festa litúrgica” que prepara o Natal e depois se encerra esperando o ano novo. É o tempo de colocarmos em prática o projeto de Deus para o mundo renovado por seu Filho. O profeta Isaias coloca simbolicamente Jerusalém como ponto para o qual vão se dirigir todos os povos. Agora é o Reino de Deus que se inaugurou com a presença de Jesus. O Reino não é político e nem se equipara aos demais modelos políticos. Ele é a força de Deus que muda as estruturas. Podemos transformar o sonho do profeta em realidade. Ele via um mundo novo que transforma as espadas em arados e as lanças em foices (Is 2,4). A indústria e a tecnologia bélicas além de consumirem um montante financeiro incalculável aumentaram a capacidade de destruição que poderia ser geradora de vida à imensa multidão que não tem acesso ao mínimo necessário para a vida. Crer em Jesus significa criar novas estruturas para o mundo. Os donos do mundo são sócios dos donos da morte. Há pessoas que possuem grandes dons e riquezas, mas não sabem usar para dar condições de via a outros. Seriam duplamente ricos, pois o seriam também ricos para Deus.
Acorrer com boas obras.
O Advento tem também uma conotação de conversão. Paulo diz que é hora de revestir-se de Cristo com as armas da luz, produzindo boas obras, despojando-se das trevas e evitando as obras do mal (cita: glutonerias, bebedeira, orgias e imoralidades, brigas e rivalidades). A renovação leva em conta também estarmos atentos ao que acontece no mundo. Os conterrâneos de Noé não perceberam o que estava acontecendo. Jesus usa a parábola do ladrão. Devemos estar vigilantes para que não sejamos roubados em nossos valores espirituais e humanos. É preciso cuidar da criação e da humanidade. Cada Advento nos chama “a amar desde agora o que é do Céu e, caminhando entre as coisas que passam, abraçar as que não passam” (Pós-comunhão).
Leituras: Isaias 2,1-5; Salmo 121;
Romanos 13,11-14ª; Mateus 24,37-44
1. O ano litúrgico é um tempo da espera para ir ao encontro do Senhor que vem. O Evangelho nos convida à vigilância. Como não sabemos a hora, toda hora é hora. Jesus convida a ficar atentos e preparados. Paulo convida a estarmos despertos. Vivemos como nos tempos de Noé, sem perceber o que se passa e ver os sinais de Deus que vem ao nosso encontro. Isso não é ameaça, mas dom.
2. É tempo de colocar em prática o projeto de Deus para um mundo renovado por seu Filho. O Reino é a força de Deus que muda as estruturas. Podemos transformar o sonho do profeta em realidade. Ele via os instrumentos de guerra transformados em instrumentos de trabalho para o alimento. Que pensar se o que se gasta com a guerra fosse investido em vida para os povos? Os ricos seriam duplamente ricos, se assim o fizessem, pois seriam ricos também para Deus.
3. O Advento é também tempo de conversão. É hora de nos revestir de Cristo e das armas da luz, despojando-nos das trevas evitando as obras do mal. A renovação deve levar em conta o que acontece no mundo. Devemos ser atentos para não sermos roubados de nossos valores espirituais e humanos, e amar o que é do Céu.
Cabeça dura não amolece
O tempo do Advento celebra a expectativa da segunda vinda de Cristo. Para isso é tempo de vigilância. Estarmos atentos, pois não sabemos nem o dia nem a hora. Se estivermos esperando não haverá surpresa. Não podemos repetir o que aconteceu no tempo do dilúvio. A vida corria e o dilúvio veio de repente e arrasou com tudo. Vivemos hoje assim muito ocupados com tanta coisa, menos com o necessário que é esperar a chegada do Senhor. Ele não vai atrapalhar em nada se a gente estiver com a malinha arrumada.
S. Paulo nos convida a despertar do sono e vivermos honestamente, revestidos de Jesus Cristo.
Isaias reflete de outro modo a vigilância: acolher a vinda de Deus para fazer um mundo novo sem violência no cuidado com o povo. Quanto dinheiro se joga fora com armamentos e guerras. Quanta coisa boa e quanta miséria poderiam se evitadas! O Natal está aí para a gente recomeçar a construir um mundo novo.
Para ser vigilante é preciso persistência.
Homilia do 1º Domingo do Advento (01 .12.2013)
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