A festa de Cristo Rei, na reforma litúrgica, mudou a impostação de sentido político para o escatológico: Cristo, centro para o qual se encaminha todo o Universo. O termo rei não fica bem, pois foi emprestado dos reinos do mundo, que já mostraram sua falência. Cristo é um rei fora desse baralho. Por isso a sociedade não consegue fazer um jogo vitorioso. Este título de Rei, não é o único de Cristo. Há outros que o identificam também, como o Pastor que Ele mesmo se dá (Jo. 10,11) e Ezequiel descreve: (Ez 34,11-12.15-17). Ele toma conta do rebanho. Tomar conta para Cristo é servir, servir é reinar. “Estou entre vós como aquele que serve” (Lc 22,27). O domínio de Cristo sobre o mundo se faz pela sua entrega para que todos tenham vida: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Quanto aos donos da terra, teriam que aprender para poderem ser chamados de autoridades, senhores e reis. O mesmo acontece dentro da Igreja onde a autoridade não se baseia no serviço. Jesus dizia: “Entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva” (Mc 10,43). A festa de Cristo Rei é festa de todos os servidores de Deus e de seus pobres, como nos narra o Evangelho. Creio que a mentalidade do Evangelho deve impregnar mais o modo de a Igreja se compor. É monarquia absolutista? É democracia baderneira? Jesus já fez o programa. Atrelar-se a um tipo de instituição é cair com ela. O reinado de Cristo, como rezamos no prefácio da missa, é assim: “Ele, oferecendo-se... realizou a redenção da humanidade. Submetendo a si toda a criatura, entregará um reino eterno e universal: Reino da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça do amor e da paz”.
Em Cristo, todos reviverão.
Cristo assume seu Reino no alto da Cruz, coroado com os espinhos, com o manto púrpura do seu sangue, com o cetro dos cravos. Cristo é glorificado – e assume o poder em sua ressurreição. Associa a si todos os fiéis, pois ressuscitamos com Ele (Cl 3,1). Ele leva consigo o cativeiro de que nos libertou (Ef 4,8). “Por ele veio a ressurreição dos mortos” (!Cor 15,21). “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão” (1Co 15,22). O cristão ressuscita em cada gesto de amor. A fé é o dom da vida em Cristo e o amor mantém esta vida. A falta de fé faz ver no irmão um empecilho. Jesus não nos recusa quando damos a mão para o irmão.
O Reino dos misericordiosos
O Reino futuro se implanta no amor fraterno. Os itens do julgamento coincidem com os problemas do mundo atual: a fome acentuada com a crise de alimento; a sede com o problema da água. A nudez que não é só falta de roupa, mas o problema do uso do corpo como meio de vida; o grave problema das migrações e refugiados. Acolheste-me? Doente? Temos o grave problema da falta de acesso à saúde pública. Preso: prisões superlotadas e sistema presidiário ineficiente para libertar a pessoa. Há também as prisões interiores. Fazer ao irmão é fazer a Cristo; Fazer a Cristo é fazer a nós mesmos, pois estamos unidos a seu Corpo. O irmão é uma graça de Deus que nos abre a porta do Céu e da vida, pois fazemos a nós mesmos, no irmão. A salvação vem pelo próximo.
Leituras: Ezequiel 34,11-12.15-17; Salmo 22;
1 Coríntios 15,20-26.28; Mateus 25,31-46.
1. A festa assumiu um caráter escatológico: Cristo, centro para o qual se encaminha o Universo. O título “rei”, entendido no contexto das realezas, não preenche o sentido de Pastor e outros títulos de Cristo. A realeza de Cristo está na linha do serviço. A Igreja não se iguala aos sistemas políticos do mundo. É muito mau quando o faz. O domínio de Cristo se faz por sua entrega para que todos tenham vida. A autoridade na Igreja é serviço e não honra.
2. Jesus assume seu Reino no alto da Cruz. É glorificado pela Ressurreição. Ele associa a si os fiéis, pois ressuscitam com Ele. O cristão ressuscita em cada gesto de amor. A falta de fé faz ver no irmão um empecilho.
3. O Reino futuro se implanta no amor fraterno. Os itens do julgamento coincidem com os problemas do mundo atual: fome, água, nu, saúde pública, prisões. O irmão é uma graça de Deus que nos abre a porta do Céu. O que fazemos aos irmãos fazemos a nós mesmo. A salvação vem pelo próximo.
Rei fora do baralho
Quando queremos fazer um belo jogo de baralho e nos falta uma carta... é uma angústia. Jesus é Rei, mas é tirado fora do baralho da vida. Por isso não há jogo que se complete.
Ele vem para o julgamento do mundo. Aliás, somos julgados a cada momento. São poucos itens, já conhecidos: “Eu tive fome e me destes de comer; Eu tive sede; Eu estava nu; Eu era estrangeiro; Eu estava doente e prisioneiro”. E que vocês fizeram? Toda vez que o fizeram a um destes pequeninos, foi a mim que o fizeram ou não fizeram. Aí danou tudo. A gente só pensa em si.
Ele é o Pastor que vai conduzir, sobretudo os fracos. Mas não se esquece da ovelha gordinha,para que se fortaleça no bem.
Ser pastor com o Pastor é realizar o projeto que nos deixou.
Homilia da Sol. de Cristo Rei (23.11.2008)
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