quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

JOANA DE LESTONNAC Viúva, Religiosa, Fundadora, Santa (1556-1640)

NASCIMENTO E JUVENTUDE
 
Joana nasceu em Bordéus, na França no dia 27 de Dezembro de 1556, uma linda menina que encheu de alegria o lar de seus pais. Sua mãe era Joana Eyquen de Montaigne, dama da corte francesa, irmã do famoso filósofo Michel Eyquen de Montaigne, e seu pai, Ricardo de Lestonnac, um nobre magistrado e conselheiro do Rei. Cresceu num ambiente de contradições espirituais em sua família, na qual sua mãe era uma decidida calvinista insistente em converter sua filha a religião Protestante, e o seu pai, homem equilibrado e de fé Católica consistente, professava fervorosamente a religião cristã seguindo os Mandamentos e as Doutrinas. Além desta virtude, o pai se revelou também um excelente amigo e confidente, em todos os momentos, era aquele que lhe dava respostas honestas e diretas as suas perguntas de adolescente, principalmente aquelas relacionadas as suas inquietudes religiosas. Sua mãe querendo impor sua vontade, era esquecida por Joana, que fugia dela e das suas insinuações, tornando muito difícil o relacionamento entre as duas. Não podiam viver juntas e compartilhar os interesses e valores mais profundos da existência, o que deve ser absolutamente natural entre uma mãe e uma filha que se amam, principalmente na idade dela, que começava a se abrir para a vida. Desta maneira, Joana sofreu directamente as consequências da divisão do Cristianismo, imposta pela Reforma Protestante. E é importante realçar, que naquele primeiro momento da separação, a nova religião criada por Lutero e Calvino, vinha com um estilo revolucionário, querendo se impor pela força e com o maior ímpeto, causando insegurança, perseguições, sangue e até mortes. O Protestantismo estabelecido atacava frontalmente o Catolicismo, e entre outras sérias agressões, atacava a Pessoa de NOSSA SENHORA e sua actuação na História da Salvação. A mãe de Joana influenciada pela Reforma Protestante, a qual aderiu incondicionalmente desde o início, além de procurar encaminhar a sua filha para as doutrinas Calvinistas, não permitiu que ela recebesse o Sacramento do Baptismo Católico. Todavia o pai e o tio materno Michel Eyquen de Montaigne, percebendo a actuação tendenciosa da mãe, agiram com vontade firme e decisão, criando dentro do lar um verdadeiro campo de combate, colocando em grave perigo a pureza da fé cristã da filha. Mesmo assim, Joana recebeu o Baptismo Católico na Catedral de Bordéus. Por incrível que possa parecer, o veneno da mãe era inoculado na filha, nos momentos das carícias maternas, quando contava a menina, historietas maliciosas a respeito dos sacerdotes e principalmente contra o Papa, que é o Vigário de CRISTO, falseando e ajustando as narrativas, de conformidade com o seu interesse para alcançar os seus objectivos. E procedendo assim, tentava, por todos os meios, também ocultar a primordial e eficaz actuação materna da VIRGEM MARIA, querendo colocar a MÃE DE DEUS e Nossa Mãe, numa posição de desprezo, incompatível com a realidade e os ensinamentos da Verdade Cristã. Desse modo, a nova apóstata calvinista, que devia se preocupar maternalmente com o crescimento do amor no coração da filha, ao contrário, tentava destruir a pureza no íntimo da Joaninha, tentando colocar a revolta e a descrença dela, na lei e nos costumes cristãos. A batalha familiar era terrível e se mantinha presente, porque a mãe herege encontrou a ajuda dos senhores de Beauregard, que também eram tios maternos da jovem. 
CULTIVO DA EDUCAÇÃO ESSENCIAL 
Mas o pai Ricardo e o tio paterno Michel, que como já mencionamos, era um renomado filósofo humanista, autor dos “Essais” (peças literárias denominadas Ensaios), velava pela guarda da fé de Joaninha. Também, muito ajudou neste combate de “certa forma oculto”, a cooperação de Guy, irmão de Joana, que a noite, repetia para ela os ensinamentos correctos e edificantes que aprendera no Colégio dirigido pelos Padres Jesuítas. A Companhia de JESUS, fundada por Santo Inácio de Loyola já estava em Bordeus. Por outro lado, Joana enriqueceu em muito a sua cultura e os seus conhecimentos, com os textos escritos pelo seu tio Michel, que na verdade, eram verdadeiras fontes de humanismo cristão em benefício da sociedade de todos os tempos. Os “Ensaios”, como eram chamados, influenciaram sem dúvida, a sua linha de acção educativa dando-lhe a base necessária, quando accionou o projecto do seu Instituto. 
PODEROSA DEVOÇÃO E CHAMADO DIVINO 
Mas, ainda jovem, as agressivas e abomináveis atitudes da mãe, querendo destruir os valores cristãos que estavam gravados na alma da filha, fizeram crescer em Joana de maneira incontrolável e fervorosa, uma poderosa devoção a NOSSA SENHORA, que se enraizou de tal modo em seu coração, que lhe criou um desejo sublime e santo, de sacrificar a riqueza e o conforto material que o mundo lhe oferecia, pela vida religiosa. E nesta época, ela não só concretizou este ideal que ocupava todas as dimensões do seu coração, por causa dos insistentes pedidos de seu pai, que naquela época, temia os Claustros e os Mosteiros, considerando que eles tinham sido invadidos de modo impressionante pela heresia calvinista. Dentro das próprias Ordens Religiosas nasceu e cresceu de maneira violenta as duas Correntes Opostas, ou seja, se encontravam aqueles que cultivavam as doutrinas Católicas e aqueles devotados a Reforma Protestante, culminando com a separação definitiva e a divisão dos membros nas diversas Ordens Religiosas, que logo aconteceu. Joana era admirada por sua beleza que realçava os seus dons naturais, e também, pelo seu modo de pensar e agir, por sua educação e sensibilidade pessoal, que orientava o seu comportamento digno nas diversas fases da juventude. Também é verdade que o seu temperamento apaixonado e decidido lhe ocasionou momentos de luta interior para amadurecer decisões, a fim de clarear o raciocínio envolvido em dúvidas. Quando chegou a idade em que toda jovem sente a necessidade de tomar uma decisão maior como opção de vida, em face dos variados horizontes que se descortinam a sua frente, ela sentiu no fundo de sua alma que DEUS se fez presente, e no interior da sua consciência ela ouviu e compreendeu o chamado Divino: “Cuida Minha filha de não deixar apagar o fogo sagrado que EU acendi em teu coração e que te move e impulsiona a ME servir com tanta ternura e fervor”. Interpretando esta chamada de DEUS como um concreto convite, quis entregar a sua vida ao serviço Divino. Mas naquela época, com aquela abominável e terrível situação, que colocava a vida religiosa diante de um crítico dilema, não oferecia campo e nem condições para uma mulher atuar, realizando o seu sagrado ideal. 
CASAMENTO E FAMÍLIA 
Tendo completado 17 anos de idade, Joana já era observada com muito interesse pelos rapazes, que logo se apaixonaram pelo seu perfil esbelto, pelo sorriso cativante e pelos lindos olhos azuis. E no conjunto das muitas investidas, o seu pai acabou cedendo aos constantes e insistentes pedidos de Gastão de Montferrant, Barão de Landirás e de La Mothe, concedendo-lhe a mão da sua filha. Na verdade, Gastão estava entusiasmado por ela, nas visitas que fazia a família, procurava conversar com todos, mas especialmente com Joana. Então, da simpatia que começou a existir entre os dois, floresceu um amor sincero e correspondido. Gastão soube valorizar em Joana a sintonia de sua beleza física com a sua admirável beleza moral. O casamento aconteceu no dia 12 de Setembro de 1573, e foi uma festa que marcou presença, porque deixou saudosas lembranças na mente dos seus familiares e dos amigos. E ela assumiu verdadeiramente o novo estado civil, realizando fielmente o projecto matrimonial, com uma vivência sólida e bem edificada, fruto da expansão de um amor correspondido que se dilatava em carinho e ternura. Foi mãe de oito filhos, sendo que os três primeiros morreram com poucos meses de vida. Os outros cinco, dois homens e três mulheres, cresceram fortes sob a disciplina, o carinho e o olhar atento da mãe. Mesmo assim, um dos meninos, também faleceu. Somente quatro filhos chegaram à idade adulta: Francisco (o mais velho), Marta, Madalena e Joaninha. A Baronesa Joana, como passou a ser chamada, se empenhou em cultivar nos filhos de maneira eficiente, os ensinamentos evangélicos, ensinando-lhes amorosamente a lei de DEUS e os deveres da caridade católica: com visita aos pobres, auxilio e apoio aos colonos da propriedade, atendimento abnegado a todos que necessitavam e que batiam á porta da casa, ensinando aos seus filhos que nunca negassem uma esmola a quem pedia. Joana sentia que DEUS lhe ensinava: “que os bens somente servem quando são fontes de entrega, de generosidade e também, quando permitem tornar possível a fraternidade”. O matrimónio vivido em união com DEUS, acrescentou nela outras importantes virtudes, que ela mesma pediu ao decidir ser esposa e mãe: ter delicada atenção, serenidade e sabedoria nas relações com as pessoas, habilidade em organização, paciência nos variados acontecimentos e fortaleza nos momentos de dor, como por exemplo, na morte prematura de seus três primeiros filhos. 
MORTE E SOFRIMENTO 
Entretanto, o ano de 1597 marcou profundamente a sua existência, porque foi um ano muito triste, repleto de acontecimentos que enlutaram a sua vida. Após 24 anos de uma intensa e harmoniosa vida matrimonial, faleceu o seu marido Gastão de Montferrant. E por incrível que possa parecer, ao longo deste mesmo ano, também morreu o seu pai Ricardo, o seu tio Miguel e mais um de seus filhos. Foram ocorrências que incidiram fortemente em seu caráter e no seu coração, deixando-a abatida pelos fatos. Todavia, a fé de Joana era muito grande e ela tinha uma imensa confiança em DEUS. ELE é PAI, sempre sabe o que é melhor para cada um de nós. Assim também, com muita fé em NOSSA MÃE SANTÍSSIMA e com bastante confiança na Providência Divina, Joana continuou sozinha a sua luta para educar cristãmente os quatro filhos que lhe restaram. Estava gravado em seu coração aquele pensamento de 24 anos atrás, quando ela sentiu pela primeira vez na sua alma o chamado de DEUS: “Cuida Minha filha de não deixar apagar o fogo sagrado que EU acendi em teu coração e que te move e impulsiona a ME servir com tanta ternura e fervor”. E junto com os deveres e obrigações maternais, se dedicou com empenho, ocupando todo o seu tempo num apostolado de levar alívio aos enfermos, ajudar os necessitados e os presos, e com dedicação, buscava descobrir através das orações, a inspiração para continuar a sua caminhada existencial. 
EXPERIÊNCIA CISTERCIENSE 
E foi rezando que lhe surgiu uma ideia especial, e ela concebeu a possibilidade de entrar num Convento da Ordem Cisterciense, em Toulouse, que era uma Comunidade contemplativa austera e lhe oferecia a garantia e seriedade no serviço de DEUS Assim, seis anos depois da morte do seu esposo, tendo o seu filho Francisco se casado e suas filhas Marta e Madalena se consagrado a DEUS na vida religiosa, entrando na Irmandade das Anunciadas em Bordéus, decidiu deixar a filha mais nova, Joaninha, sob os cuidados de Francisco e da esposa dele, e ingressou no Convento. Na época de seguir para Toulouse, ela disse ao seu filho Francisco: “Filho, o mundo não merece o nosso apego. Ele aviva as nossas ilusões para depois traí-las. A Divina Providência me abre agora um novo caminho”. O preço maior desta entrega era a separação de seus dois filhos: Francisco e Joaninha, porque viviam a seu lado, e como é natural, a convivência cotidiana enraíza muito mais o verdadeiro amor. As filhas Marta e Madalena, como já mencionamos, faziam parte da Comunidade das Anunciadas, não residiam mais junto da mãe, e por essa razão, a presença delas não era tão sentida. Mas, sem dúvida, sabemos que o afastamento do lar sempre é doloroso e Joana estava vivendo esta realidade: “somente a força da união com o SENHOR, em face do Convite Divino, é que garantia o SIM de sua resposta ao novo projecto, afastando-se de seus filhos”. No dia da sua partida, saiu muito cedo do palácio com o objectivo de evitar as despedidas, porém, seu coração de mãe ainda teve de enfrentar mais um doloroso sacrifício: Joana foi surpreendida com a chegada de Joaninha, a sua filha mais nova, que se lançou em seus braços com os olhos repletos de lágrimas suplicando-lhe que não se afastasse de Bordéus. Mas a decisão era definitiva. Com carinho, mas esmagada por uma dor cruel que apertava o seu coração, disse algumas consoladoras palavras tranquilizando a filha, e seguiu viagem de barco, pelo Rio Garona para o Mosteiro Cisterciense em Toulouse. Estava com 46 anos de idade quando ingressou no Mosteiro. Mudou o seu nome para Joana de São Bernardo, em homenagem ao fundador da Ordem Cisterciense, São Bernardo de Claraval, e desde o início, seguiu fervorosamente o cotidiano da Ordem Religiosa. Este ramo feminino da Ordem Cisterciense nasceu na Abadia de Feuillant, na Gasconha, para reagir à decadência da Ordem, em face da Reforma Protestante. Estava feliz com a sua nova vida e se dedicava com amor total. Eram longas horas de oração e de muita penitência, num ambiente de total silêncio e abnegação em todos os momentos. Havia uma paz infinita e absoluta. E por isso, cresceu nela um profundo e fervoroso desejo de entregar a sua vida totalmente a DEUS. Mas o seu corpo não estava preparado para uma aplicação física tão profunda, porque era fraco e não tinha condições de competir com a força admirável do seu espírito. Tornou-se evidente que fisicamente ela não suportaria tanta penitência, a qual ela mesma tinha o desejo de fazer. Foram seis meses de difíceis lições, as quais lhe confidenciaram a realidade dos fatos e a consequente solução para a sua vida: ela devia desistir do Mosteiro e encontrar outro caminho... A certeza desta realidade aconteceu, quando o médico que atendia as Irmãs do Mosteiro, vendo o seu caso, foi sincero e lhe repetiu o que ela mesma já sabia: “Devia procurar outro caminho”. O que na verdade aconteceu a Joana no Mosteiro, era o reflexo de sua ardorosa intenção de buscar maior santidade em todos os seus actos, se impondo a si mesma, rigorosas e constantes penitências, que abalaram a sua resistência física, mostrando uma palidez facial que preocupou profundamente a Comunidade Religiosa. E tudo isto ocorreu em seis meses, depois de ter vestido o hábito cisterciense. A Madre Superiora compreendendo que Joana não estava habituada e nem preparada a suportar tamanha severidade nas práticas penitenciais, as quais aparentemente conseguiram esgotar completamente as suas forças, convidou-a para uma conversa e depois de argumentar longamente, Joana foi convencida a regressar ao seu Castelo em Bordéus.
EM BUSCA DE NOVO CAMINHO 
Naquela mesma noite, deitada na cama, sem conseguir dormir pensava em todos os acontecimentos e se esforçava em aceitar a Vontade de DEUS, acolhendo mais esta dolorosa prova de abandonar o sonho da vida religiosa num Mosteiro. Então, rezou muito e pediu ao Espírito Santo para lançar luz à escuridão que envolvia a sua alma. Assim que deixou o Mosteiro, se retirou para o Castelo em Bordéus, onde procurou organizar as ideias com o objectivo de delinear os contornos de um projecto no qual pudesse actuar decididamente e que fosse eficaz. Mas a família queria “matar as saudades” e não lhe ofereciam tempo para rezar e organizar o seu ideal. Então, decidiu ir para o Castelo de Mothe, sua antiga propriedade. Lá, o silencio e o tempo necessário as orações a colocaram num profundo encontro com DEUS, podendo idealizar as características de um plano, que pouco a pouco se foi delineando em sua mente, tomando forma e se tornando mais claro. Ela imaginou “constituir uma Ordem Religiosa desconhecida na Igreja”.
1 – Que oferecesse as jovens desejosas de servir ao SENHOR, uma Comunidade com um estilo de vida contemplativo-apostólico que não destruísse as suas forças físicas. 
2 – Abrir Escolas, que sob a protecção de MARIA NOSSA SENHORA, estendesse o seu Nome e a sua influência na juventude feminina que quisesse ser educada nela. 
Em Dezembro de 1605, já se encontrava novamente no Castelo em Bordéus e trabalhava como voluntária em companhia de outras senhoras e moças, durante uma terrível epidemia de peste que se lastrou naquela região, e então, ela sentiu que ali estava a sua vocação: realizar um trabalho abrangente e decidido na sociedade, visando primordialmente às jovens mais necessitadas de ajuda e de instrução. E desse modo começou a sua obra, visitando e cuidando das pessoas nas regiões mais pobres da cidade, ao mesmo tempo em que mantinha contacto com as jovens que eram atraídas pelo chamado de DEUS e pela sua própria personalidade cativante, realizando um serviço apostólico que ela sonhara em realizar e que na verdade estava contido na espiritualidade Inaciana, que ela amava e respeitava, considerando que aquela espiritualidade expressava a sua espiritualidade pessoal. 
QUER FUNDAR UMA ORDEM RELIGIOSA 
Manteve contactos e foi em busca dos conselhos de dois Padres Jesuítas, Juan de Bordes e Francisco Raymond, que compartilhavam com as suas ideias e preocupações em amparar as jovens moças Católicas carentes e necessitadas de educação, em face da total ausência de orientação em que viviam, por motivo da revolução religiosa, e por isso, as jovens se viam obrigadas a confiar a sua educação as professoras Calvinistas. E assim, eles colaboraram efectivamente com sugestões e propondo directrizes de actuação, no sentido de ajudar Joana a concretizar o seu ideal. Iluminados pela Luz de DEUS, em 23 de Setembro de 1605, os Padres recomendaram que ela estudasse o modelo da Companhia de JESUS como meio de expandir a sua inspiração pessoal. Na sequência dos dias, amadureceu o seu ideal e projectou fundar o Instituto da COMPANHIA DE MARIA NOSSA SENHORA, para educar as meninas do povo. Ela compreendeu a necessidade de educar cristãmente as mulheres, principalmente aquelas mais pobres, de baixa renda financeira, com o objectivo de deixar as suas mentes mais abertas à realidade do mundo, e desse modo, contribuir efectivamente na transformação da sociedade. Procurar e encontrar DEUS em todas as coisas, com o espírito aberto e sempre disponível, como NOSSA SENHORA fazia. Este era o carisma do novo Instituto. Joana, também teve em seu irmão, Padre Jerónimo de Lestonnac SJ, uma excepcional colaboração, primordialmente porque ele sabia e conhecia a fundo, as inquietações dela e as suas qualidades. Conhecendo o seu projecto, intermediou em dezenas de oportunidades junto aos outros dois Padres e a outras autoridades religiosas, visando à troca de sugestões e de ideias, assim como, realizando providências necessárias ao enraizamento do empreendimento. À medida que a noticia era divulgada, o SENHOR DEUS ajudava, encaminhando algumas mulheres que tinham o desejo de colaborar e foram atraídas pela notícia. E assim também, Joana convidou outras pessoas a participar do grupo, no sentido de que o esforço em conjunto gerasse benefício para o Instituto em formação e para o engrandecimento interior de cada uma delas. Na primeira reunião Joana disse estas palavras: “Minhas filhas, somente DEUS poderia inspirar cada uma de vocês ter o desejo de se oferecerem a me ajudar neste grandioso empreendimento. Espero que o sentimento que une os nossos corações para o mesmo objectivo, nos conduza a concretização do nosso ideal. Deste modo, é necessário que colaborem comigo na formação de uma Companhia de Jovens dispostas a lutar na Milícia de DEUS. Vocês já conhecem e sabem, da desordem que tem causado a ignorância religiosa. Sou testemunha desta desgraça, da qual fui preservada por um singular favor Divino. Assim, queridas irmãs, UNAMOS AS NOSSAS FORÇAS em proveito da Igreja, na medida em que sejamos capazes de enfrentar as adversidades”. No passo seguinte, ela fez diligência para conseguir a aprovação do senhor Cardeal François d’Escoubleau de Sourdis, que era o Arcebispo de Bordéus, e que não estava disposto a concedê-la, porque ele preferia que Joana colaborasse com a reforma da Congregação das Ursulinas. O Cardeal, que inicialmente era o protector e incentivador da Obra de Joana, agora queria ligá-la a Ordem Religiosa das Ursulinas, e por essa razão, negou e não autorizou que as jovens candidatas à COMPANHIA DE MARIA, fizessem a profissão de fé em Maio de 1610. Mas Joana não concordou, porque os objetivos e carismas das duas entidades eram totalmente diferentes. E por isso, manteve-se firme, serena e humilde, querendo a aprovação do seu Instituto. Joana que tinha uma grande devoção a Eucaristia, a SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA – a quem consagrou o seu Instituto – e que tributava um culto muito especial ao seu Anjo da Guarda, companheiro inseparável em todos os momentos da sua existência, também era a mãe caridosa e boa que distribuía aos mais necessitados os remédios adquiridos para a Comunidade, da mesma forma que se empenhava em ensinar com fervor, constituindo-se num precioso e eficiente modelo, para a nascente Comunidade que enfrentava muitos problemas. No dia 7 de Dezembro, em seu castelo de Lormont, recebeu uma graça particular da SANTÍSSIMA VIRGEM que advogava em favor de suas filhas, e assim, na festividade da IMACULADA CONCEIÇÃO, dia 8 de Dezembro, no Mosteiro da Companhia de MARIA, se concretizou à profissão de fé da fundadora e das suas primeiras companheiras, que já eram nove. 
Os objectivos da COMPANHIA DE MARIA podem ser definidos da seguinte forma: 
1 - Educar as jovens na fé cristã. 
2 - Estimular a Devoção e Imitação de NOSSA SENHORA. 
3 - Deixar ao alcance de todas as mulheres um estilo de vida religioso apostólico possível a todos os tipos de pessoas.
Eram realizações que iam oferecer ao mundo um serviço novo em seu estilo e perfeitamente válido por sua resposta a uma necessidade real, que a Sociedade Cristã Católica enfrentava, em face da Reforma Protestante. Joana de Lestonnac animada e consciente de que a Vontade de DEUS estava sendo realizada através do esforço humano, suplicou o auxílio do Padre de Bordes, para lhe ajudar a completar o Regulamento do Instituto, o qual foi concluído com trinta Cláusulas, as quais serviram de guia a vida da nova Comunidade. Este Regulamento foi apresentado ao Cardeal no dia 7 de Março de 1606 pedindo a aprovação. A espera foi angustiante e nervosa, porque o Cardeal tinha outras ideias. Então, Joana e suas companheiras rezaram muito e entregaram tudo nas mãos de DEUS. No dia 25 de Março o Arcebispo de Bordéus lhes anunciou a aprovação, e a alegria invadiu o coração de Joana e de suas filhas religiosas. Agora o próximo passo era encaminhar o Estatuto da Companhia a Roma. Joana escolheu o sacerdote Padre Moysset, que era de sua inteira confiança. Ele se apresentou diante do Papa levando uma carta de recomendação que elogiava o grupo e sua fundadora. E assim, o Estatuto da Organização foi conduzido ao Papa Paulo V, que aprovou a fundação do Instituto no dia 7 de Abril de 1607. A COMPANHIA DE MARIA NOSSA SENHORA foi à primeira Ordem Religiosa de mulheres dedicadas ao magistério, aprovada pela Igreja. Nasceu assim, uma Ordem Religiosa com a intenção de estabelecer uma nova era, em face das suas características, que verdadeiramente a diferenciava das Ordens Religiosas femininas tradicionais. Um novo estilo de vida religiosa com espiritualidade Inaciana (de Santo Inácio de Loyola). Interiormente seguindo a Vontade de DEUS, Joana se esforçava vigorosamente em habituar a transformar os acontecimentos do cotidiano, principalmente aqueles que não eram muito alegres, num processo de crescimento interior e de auto-doação, ou seja, “manter a chama acesa” do ideal e da caridade cristã, e sempre “estender a mão” aos que necessitavam ou para conceder o perdão. Um santo projecto de vida baseado no Evangelho de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO e inspirado nos procedimentos de NOSSA SENHORA, a MÃE DE DEUS. No dia 11 de Março de 1608, a cidade de Bordéus foi festivamente ornada para celebrar a generosa resposta das cinco primeiras companheiras de Joana, que naquela data receberam o hábito religioso, tornando-se os primeiros membros da COMPANHIA DE MARIA. E finalizando a legalização oficial do INSTITUTO DE NOSSA SENHORA, o Rei da França Henrique IV, por intercessão da Rainha Maria de Médici, aprovou o Estatuto da Ordem Religiosa em 27 de Agosto de 1609, por Carta Patente, registrada no Parlamento de Bordéus. 
AS COMPANHEIRAS DE TRABALHO E A INVEJA DOS OUTROS 
As primeiras mulheres que logo aderiram ao chamado Divino através de Joana, foram: Serena Coqueau, Magdalena de Landrevi, Isabel de Maisonneuve e Margarita Poyferré. Poucos dias depois, aquelas que não puderam, por razões diversas, como por exemplo: a oposição dos familiares, dos pais e dos amigos, mas logo a seguir, contornando as dificuldades, decidiram e puderam acolher o chamado de DEUS, solicitando a admissão ao Instituto, foram mais cinco jovens: Ana de Richelet, Maria de Roux, Francisca de Boulaire, Blanca Hervé e Enriqueta de Cassaubon. Mas como em todas as obras de DEUS, Joana sofreu um forte vendaval de perseguições e de calúnias. A inveja e o desejo de ficar em evidência, levaram algumas pessoas a mentir e tecer intrigas, com o objectivo de afastá-la do comando da Casa da Ordem em Bordéus. Foi um período triste e repleto de angústias, mas que ela soube resistir, porque estava amparada pela própria VIRGEM MARIA. Na verdade, antes dela concluir a sua missão terrestre como fundadora e animadora da Ordem Religiosa, e de sua alma voar para o Céu, já tinham sido edificadas e se encontravam em permanente actividade, quarenta Casas da COMPANHIA DE MARIA, NOSSA SENHORA. As decepções foram muitas: Joana enfrentou os desprezos de Lucia de Teula, a fundadora da Casa de Toulouse, que não lhe poupou insultos e perseguições, assim como a traição de uma de suas próprias filhas, a única infiel no grupo de suas primeiras religiosas, que cedendo a uma tentação ambiciosa, que lhe abriria possibilidades vantajosas, arquitectou falsas acusações contra Joana, junto às autoridades religiosas. Mais tarde, a Santa fundadora repetia para as suas filhas: "A parte que JESUS nos dá de sua Cruz nos faz conhecer o quanto ELE nos ama". Mas as intrigas e os conluios maldosos não cessavam e eram tantos, que em 1622, lhe retiraram o cargo e ela deixou Bordéus. Entretanto, as outras Casas continuaram a lhe dedicar toda estima, o respeito, o afecto e a confiança devidos à Fundadora da Ordem. Ela continuou sendo considerada a Madre Geral da Companhia de Maria, mesmo que esta prerrogativa lhe tenha sido recusada pela Igreja, e também, não lhe foi permitido se comunicar com as outras Casas da Ordem, naquele terrível período de sua vida. 
A CASA DA PEQUENA CIDADE DE “PAU” 
Amadurecida pela idade e com a saúde desgastada pelas decepções, não cessou com o apostolado e foi fundar outra Casa da Ordem na pequena cidade francesa de Pau. Trabalhando intensamente ali permaneceu até o ano de 1634, organizando a Casa, administrando todas as actividades e exercendo um profícuo e perseverante magistério, ensinando sua experiência de vida as meninas mais pobres. O tempo que sobrava, no intervalo de suas constantes e sábias providências, permanecia em silêncio ou em orações, deixando admirados todos os que tiveram a oportunidade de contemplá-la. Por outro lado, em Bordéus, no fim do seu mandato como Superiora da Ordem, em 1626, a Superiora ingrata, Lucia de Teula, reconheceu os seus erros e pediu publicamente perdão a Joana de Lestonnac. 

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