quinta-feira, 27 de maio de 2021

REFLETINDO A PALAVRA

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
MISSIONÁRIO REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
(Ao lado:PADRE BRANDÃO)
Nada como um dia após o outro.
 
Quando desejamos que uma pessoa pague por um mal feito, com ares de profeta, repetimos esta frase: nada como um dia após o outro! Mas é também uma frase que nos estimula a perceber o sentido da vida. O que funciona não são as festas, mas um dia após o outro. As festas são um respiro e uma retomada de vigor, mas o que é importante é a sucessão serena, segura e necessária dos dias. Há na Palavra de Deus algo que nos ensina a viver o cotidiano: “A cada dia basta seu cuidado” (Mt 6,34). “Quem foi fiel no pouco, será fiel nas coisas grande” (Mt 25,23). “Ensinai-nos a bem contar nossos dias para que nossos corações descubram a sabedoria” (Sl 90,12). As coisas cotidianas tornam-se vazias, se não lhes damos um sentido. Uma construção se faz de pequenos tijolos e não de grandes volumes. Por isso rezamos: “o pão nosso de cada dia dai-nos hoje”. Ouvi a historieta de um menino que disse para a vó: - Vó, por que não rezamos o pão nosso da semana inteira? Vovó, com a sabedoria do dia a dia, responde: - “Meu filho, Deus não quer que a gente coma pão velho”. Minha vó fazia o café suficiente para os que ali estavam. Jamais servia o café que ficava esquentando sobre a chapa do fogão. O sabor da vida está em sempre fazer novas todas as coisas, mesmo quando é a mesma de sempre. A cada momento, tudo é novidade. 
O tempo que se chama hoje. 
Na liturgia vivemos também a realidade do dia a dia. Temos grandes festas como a Páscoa e o Natal. Mas temos 34 domingos que chamamos de Tempo Comum, Tempo Ordinário, no qual não celebramos alguma memória da vida de Cristo, mas a presença de Cristo como redenção no cotidiano de nossa vida, onde Ele é a plenitude que tudo penetra. Transforma o vazio da repetição dos dias na vida em plenitude construída no amor que serve sem se cansar nos mínimos serviços. Estes constroem o gosto de viver. A liturgia assume o tempo do hoje da salvação. “Eis o tempo favorável, eis o dia da salvação” (2 Cor 6,2). A liturgia relembra o mistério da vida de Cristo em nossa vida. É o tempo de construir, enquanto se espera a vinda de Cristo. Cada Domingo é Páscoa. Domingo é a primeira celebração da Igreja. Temos os testemunhos evangélicos narrando como Jesus apareceu aos discípulos no primeiro dia da semana (Jo 20,19), Paulo em suas cartas fala deste primeiro dia no qual a comunidade se reunia (1Cor 16,2). Podemos ver na carta de Plínio (ano 100) sobre esta celebração: “Eles se reúnem no primeiro dia da semana, de madrugada para celebrar uma festa para Cristo como Deus”. Pelo ano 130, S. Justino, narra como era a celebração do domingo. 
Servo bom e fiel. 
A espiritualidade do cotidiano é a fidelidade às pequenas coisas, no dia a dia que não volta. Deve ser hoje e não amanhã, o dia de construir a felicidade e a santidade. O tempo litúrgico chamado Tempo Comum deve ser tido em consideração pelas comunidades na celebração da comunidade. É uma escola de fé e de vida. Podemos receber de Jesus as palavras: porque foste fiel no pouco eu te confiarei o muito.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM JANEIRO DE 2004

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