sábado, 27 de março de 2021

REFLETINDO A PALAVRA -

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
“Efeta! Abre-te!”
 
 Os milagres de Jesus têm como primeira finalidade a fé. No capítulo 8,17-21 de Marcos, Jesus alerta quanto ao fermento dos fariseus, isto é, o veneno contra a fé. “Cuidado com o fermento dos fariseus”! Por falar em fermento, os discípulos pensam no pão que haviam esquecido de trazer. Jesus, que fizera os milagres dos pães pouco antes, pergunta: “vocês não entenderam? Por acaso tendes o coração endurecido, como os fariseus, vendo com os olhos não vêem e ouvindo não ouvem? Ainda não entendeis”, mesmo tendo visto os dois milagres da multiplicação? Jesus fala numa linguagem e eles entendem em outra. Este é o fruto da falta de fé: incompreensão. Jesus faz um milagre que leva a compreender a fé: “leva o surdo-mudo para fora, toca seus ouvidos e a língua e diz: Efetá! Que quer dizer: abre-te”! Há um grande ensinamento neste texto: para ter a fé do discípulo de Jesus é necessário ser tocado na língua e nos ouvidos. Assim se pode receber o dom da fé. Abrir-se à escuta da revelação, à contemplação do mistério de Cristo e a um empenho no anúncio da própria fé é condição para ser curado. Sem este toque vemos as coisas com os olhos fechados. Na realidade, só a verdade da fé é capaz de nos ajudar na interpretação sem misticismo, mas como Jesus o fazia. Isto nos mudará a vida. Não há multiplicidade de fé. Fé só é em Jesus. 
A profecia. 
Sempre houve esperanças no mundo. A profecia é testemunho desta esperança. O profeta Isaias anuncia: “Então se abrirão os olhos dos cegos, e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cabrito e se desatará a língua dos mudos” (Is 355-6). As coisas difíceis do mundo não se resolvem num passo de mágica ou com um milagre. O milagre nasce da esperança, da ação que fazemos e do modo de encarar o mundo com os olhos da fé, sabendo ouvir os clamores dos sofrimentos e ter língua para testemunhar a verdade. O fechamento do coração é o verdadeiro paganismo no qual fazemos nossos deuses. Com a luz da fé podemos identificar um mundo novo. No passado o profeta anunciou, para realizarmos hoje. Jesus mostrou que se realiza. 
A realidade da fé na Igreja. 
Creio que falta fé, quando não vemos nossa realidade com os olhos de Jesus. Tiago é claro em sua expressão quando coloca as causas de nossos males: a discriminação entre as pessoas da comunidade: “Se entra em vossa reunião uma pessoa bem vestida e também um pobre com roupa surrada, e vós dizeis àquele: vem e assenta-te aqui à vontade, e ao pobre, fica aí de pé ou senta-te no chão aos meus pés, não fizestes discriminação entre vós?” (Tg 2,2-4). Fazemos discriminações quando agimos a partir da posição social das pessoas, de seu dinheiro. Os valores estão invertidos. O fechamento de muitos que vivem para o dinheiro está errado porque o usam como uma religião, isto é, como uma posse e não um uso para Deus. A Eucaristia que celebra a Igreja tem a finalidade de construir um mundo a partir da fé e não dos bens. Assim, abrindo nossos olhos e ouvidos, poderemos ver e ouvir melhor e proclamar com a voz e a vida a riqueza de ver Deus. 
(Leituras: Isaias 35,4-7; 
Tiago 2,1-5; Marcos 7,31-37) 
Homilia do 23º Domingo do Tempo Comum(07.09)
EM SETEMBRO DE 2003

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