sexta-feira, 26 de março de 2021

REFLETINDO A PALAVRA -

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
Contando histórias
 
Os antigos guardavam seus ensinamentos através de narrativas. Só tinham a memória como meio de saberem de seu passado, sua filosofia de vida, sua cultura e, sobretudo, sua razão de ser e seu futuro. Podemos ver isso perfeitamente nas narrativas da ceia hebraica. Cada ano, narram os fatos de sua história lembrando o que Deus fez por eles. Repassando a história, reafirmam sua identidade. Nessas histórias vão se descortinando as belezas do passado. Mesmo não sendo tudo realidade histórica, é a compreensão verdadeira que o povo tem de si. Eles não inventavam a história, mudavam as personagens lugares e data, mas é sempre a mesma pessoa que atua: Deus age e conduz o seu povo. No momento em que não contamos mais nossa história é porque está por se encerrar ou passamos a não mais significar. Os povos que se deixaram invadir por outras culturas, se desfiguraram como povo perderam sua história. Assim também o povo de Deus: fundou-se sempre na sua história para dar sentido a seu futuro. Na ceia pascal, cada participante se considerava participante das fases histórica do povo: “Naquele dia contarás a teu filho, dizendo: Isto é por causa do que o Senhor me fez, quando eu saí do Egito. Com mão forte o Senhor me salvou” (Ex 13,8-9). 
A Palavra de Deus é também história. 
Quando abrimos a Bíblia encontramos grandes trechos que contam as histórias do povo de Deus. Não é uma história em nosso sentido, narração de fatos, mas louvor às maravilhas que Deus operou em nosso favor. Há fatos históricos, mas o importante é ver a linhas de Deus se confundindo com os caminhos humanos. É uma dança divina onde o autor da vida e o homem criado, entram em diálogo e são parceiros. Podemos dizer “Não entendo nada”. Na verdade estes fatos e estas pessoas tornam-se próximos e tornam-se reais. Com uma pequena introdução e estudo, o texto torna-se claro e aberto. A meta de nosso conhecimento do caminho de Deus não é uma leitura fundamentalista, quer dizer, tem que ser como está escrito, mas uma leitura que respeita o gênero literário, isto é, o que o autor sagrado quer transmitir com esta narração. Deus conduz o seu povo, levando-o a crescer até chegar à maturidade, na plenitude dos tempos, de acolher a presença do Filho em nossa carne, quando se faz presente em nossa historia. Conhecendo o fio das misericórdias de Deus podemos reunir todos estes fatos. 
Transformar a própria história em história de salvação. 
Não basta acreditar na história da salvação, nem reconhecer Deus agindo no mundo, é preciso reconhecer a própria história pessoal em história de salvação. Nisso chegamos ao ponto que Deus tanto ama “que seus caminhos sejam nossos caminhos e que nossos pensamentos sejam nossos pensamentos” (Is 55,8). Quando temos os pensamentos de Deus, nossas ações serão aquelas queridas por Deus e começamos a colocar no mundo o seu Reino. Mais ainda. Quando sabemos, em nossas dificuldades e em nossos sofrimentos, descobrir o que Deus quer de nós, nossa história se une à sua e se torna história da salvação.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO 
EM AGOSTO DE 2003

Nenhum comentário:

Postar um comentário