“Sede praticantes da Palavra, não meramente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tiago, 1,22). “A Palavra de Deus é a luz do meu caminho” (Sl 119,105). Esta Palavra se explica através de muitos modos. Um deles é a lei. “A lei do Senhor é perfeita, luz para os olhos e alegria ao coração” (Sl 19,8-9). Não sem razão o Deuteronômio diz que “seguindo os mandamentos viveremos e entraremos na terra prometida pelo Senhor” (Dt 4,1), “porque neles está vossa sabedoria e inteligência” (Dt 4,8). Quem tem leis mais justas? A lei de Deus tem toda a sabedoria e por ela temos condição de dirigir nossa vida, orientar nosso caminho, viver e ir à terra prometida, o Paraíso. Falamos da lei de Deus e há leis e leis. S. Pedro, nos Atos dos Apóstolos diz, com respeito aos novos cristãos provenientes do paganismo: “Não devemos impor-lhes um peso que nós mesmos não conseguimos suportar” (At 15,10). Os 10 mandamentos foram se avolumando, chegaram a mais de 600 mandamentos para os judeus. E Jesus disse: “Eu vos dou um novo mandamento que vos ameis uns aos outros”. Se formos olhar a sede de leis que há na Igreja, tanto provindas das autoridades como as criadas por grupos e organizações, podemos encher boas bibliotecas. A sede de leis é a maior insegurança que possuímos e a incapacidade de viver com as leis fundamentais. Basta ver a organização de uma paróquia: leis e leis. Normalmente há opressores que as fazem para manter o poder nas comunidades sobre os fracos.
Leis da Verdade.
Não defendemos a ausência de leis. São necessárias para encontrar o caminho e organizar a comunidade. O problema básico é que não temos conhecimento das leis necessárias e damos valor exagerado às leis que são somente tradições de um tempo, leis rituais inúteis criadas ao acaso. Essas sim, são bem guardadas, poder-se-ia dizer, mas os mandamentos de Deus ficam de lado. A lei da verdade é aquela que nasce da Palavra de Deus e não do gosto de complicar a vida do povo, leis que nascem da opressão das pessoas. “As doutrinas que ensinam são preceitos humanos. Abandonais os mandamentos de Deus para seguir a tradição dos homens” (Mc 7,7-8). No que concerne à lei, somos chamados a ter a capacidade de discernir estas leis e os mandamentos humanos.
Lei do coração.
Jesus, afirmando que a maldade e o que mancha o homem são os males que nascem do coração mal intencionado, está dizendo, também, que as leis que nascem do bom coração são aquelas que se baseiam na caridade que tudo quer orientar para o bem das pessoas. A lei do coração bem intencionado é aquela que promove a liberdade e deixa espaço para a criatividade. Cada um, responsavelmente, procure orientar o seu caminho e aprender a discernir as leis; o caminho fundamental é o amor a Deus o amor ao próximo e o bem do povo de Deus. Jesus, entrando em choque com os judeus porque não dá atenção a leis inúteis que não provêm da Palavra de Deus, alerta também para a necessidade de uma lei sadia e salvadora.
(Leituras:
Deuteronômio 4,1-2.6-8;
Tiago 7,1-8.14-15.21-23;
Marcos 7,1-8.14-15.21-23)
Homilia do 22 domingo do Tempo Comum
(31.08)
EM AGOSTO DE 2003
Nenhum comentário:
Postar um comentário