Vimos refletindo o capítulo 6 de São João sobre o Pão da Vida. No final do discurso Jesus atingiu fortemente seus ouvintes. Provocara a decisão: ou acolhe ou recusa. Não há meio termo. Cristo diz que vai dar a própria carne, dar o próprio sangue a beber! Aceitar esta verdade é a condição de viver eternamente. Esta afirmação estava fora de seus pensamentos. “Alguns discípulos já não mais andavam com Ele”. Mesmo os doze estão como que envergonhados. Terão pensando: Ia tudo muito bem. Agora... Interessante é que, antes destas palavras, acontecera um milagre que os levara a querer aclamá-lo rei. O milagre não fora suficiente para provocar uma decisão. A verdade pede a adesão da fé, não só da admiração ou do sentimento. Este são bons, mas não resolvem. Não fortalecem a mudança de vida. Por isso Jesus afirma: “O espírito é que da vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida” (Jo 6,63). A palavra de Jesus sobre o pão da vida revelara uma realidade divina que só o Espírito pode fazer compreender. Só assim se tornam fonte de vida eterna. Não bastam palavras, é preciso a fé. A verdade é sempre um desafio que pede uma adesão de fé. Por isso Ele diz: “ninguém vem a mim a não ser que lhe seja concedido pelo Pai” (Jo 6,65). A fé é um dom que vem do Pai. Ninguém, por si mesmo, aceita Jesus. A fé é sempre um dom que depende da abertura ao desafio da verdade e tem força para acolher a pessoa e a palavra dEle.
O desafio da Escolha.
Alguns discípulos afastaram-se de Jesus que não teme dizer a verdade. Assim fala aos 12: “Vocês também não querem ir embora?”. No Antigo Testamento Josué também colocara o povo diante de uma escolha: Quando entraram na terra prometida, estando em contato com outros deuses, o grande condutor do povo diz: “Escolhei hoje a quem quereis servir: se ao Senhor ou aos deuses. Eu e minha família serviremos o Senhor”. Todos, lembrados das maravilhas que o Senhor realizara, responderam: ‘nós também serviremos o Senhor!’” (Js 24,18). Escolheram! Escolher significa renunciar ao outro lado: a segurança das idéias pessoais em vista das verdades que lhes é anunciada. Para os israelitas, estabelecer-se na terra da liberdade era servir o Senhor. Implica renúncia de outros deuses.
Desafio do dia a dia
A verdade não é um monte de idéias a serem aprendidas, um código de normas, mas a escolha de um modo de viver a partir de um sentido novo. O sentido é Jesus que tem Palavras de vida eterna. Se superarmos o desafio da verdade e da escolha, encontramos pela frente o desafio de colocá-las na prática no dia a dia. Assim se pode dizer: “Tu és o Santo de Deus”, como proclama Pedro. Paulo diz na carta aos Efésios: “vós que temeis o Senhor, sede solícitos uns com os outros, sobretudo no matrimônio onde o homem e a mulher se devem respeito, amor e sujeição um ao outro”. A escolha da fé vai à vida concreta. Podemos dizer com verdade: “vós tendes palavras de vida eterna. A quem iremos, senão a vós”?
(Leituras; Josué 24,1-2.15-17.18;
Efésios 5,21-32; João 6,60-69)
Homilia do 21º domingo do Tempo Comum (24.08)
EM AGOSTO DE 2003
Nenhum comentário:
Postar um comentário