Evangelho segundo São João 8,21-30.
Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: «Eu vou partir. Haveis de procurar-Me e morrereis no vosso pecado. Vós não podeis ir para onde Eu vou».
Diziam então os judeus: «Irá Ele matar-Se? Será por isso que Ele afirma: "Vós não podeis ir para onde Eu vou"?».
Mas Jesus continuou, dizendo: «Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima; vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo.
Ora, Eu disse-vos que morrereis nos vossos pecados, porque, se não acreditardes que Eu sou, morrereis nos vossos pecados».
Então perguntaram-Lhe: «Quem és Tu?». Respondeu-lhes Jesus: «Absolutamente aquilo que vos digo.
Tenho muito que dizer e julgar a respeito de vós. Mas Aquele que Me enviou é verdadeiro e Eu comunico ao mundo o que Lhe ouvi».
Eles não compreenderam que lhes falava do Pai.
Disse-lhes então Jesus: «Quando levantardes o Filho do homem, então sabereis que Eu sou e que por Mim nada faço, mas falo como o Pai Me ensinou.
Aquele que Me enviou está comigo: não Me deixou só, porque Eu faço sempre o que é do seu agrado».
Enquanto Jesus dizia estas palavras, muitos acreditaram nele.
Tradução litúrgica da Bíblia
Monge cisterciense, doutor da Igreja
Sermão 1 para o
primeiro domingo de novembro
«Quando levantardes o Filho do homem,
então sabereis que Eu sou».
O profeta Isaías descreve-nos uma visão sublime: «Vi o Senhor sentado num trono alto e elevado» (Is 6,1). Espetáculo magnífico, meus irmãos! Felizes os olhos que o viram! Quem não desejaria com toda a alma contemplar o espetáculo de tão grande glória? Mas eis que ouço o mesmo profeta narrar outra visão, bem diferente, desse mesmo Senhor: «Vimo-lo sem aspeto atraente: nós O reputávamos como um leproso» (Is 53,2s). Se, pois, desejas ver Jesus na sua glória, faz primeiro por vê-lo na sua humilhação. Se desejas ver o Rei sentado em seu trono, começa por fixar os olhos na serpente que foi levantada no deserto (cf Jo 3,14). Que essa primeira visão te encha de humildade, para que a segunda te reerga da tua humilhação. Que aquela te reprima e te cure o orgulho, antes de esta te encher de desejo e dele te saciar. Vês como o Senhor Se esvaziou a Si mesmo (Fil 2,7)? Que esta visão não te deixe indiferente, pois sem a tribulação não poderás contemplá-lo na glória da sua exaltação.
«Seremos semelhantes a Ele», seguramente, quando O virmos «tal como Ele é» (1Jo 3,2); sê semelhante a Ele já desde agora, vendo o que Se tornou por ti. Se não recusares ser semelhante a Ele na sua humilhação, Ele conceder-te-á certamente o reconhecimento da sua glória, pois não suportará que aquele que participou da sua Paixão seja excluído da comunhão na sua glória. E tão claro é que não Se recusará a admitir consigo no Reino aquele que partilhou a sua Paixão, que o ladrão, porque O confessou na cruz, se encontrou com Ele no paraíso nesse mesmo dia (cf Lc 23,42). Sim, se com Ele sofrermos, com Ele seremos glorificados» (cf Rom 8,17).
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