sábado, 29 de agosto de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - “Participando do holocausto”!

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
A vida cotidiana é um sofrimento contínuo. Jó dizia que a vida do homem na terra era uma batalha (Jo 7,1). Não é nada fácil levar adiante os dias da vida e vê-los terminar em situações sempre mais complicadas. Comumente se ouve dizer que o Inferno é aqui mesmo, pois os sofrimentos já pagam o mal. As pessoas nascem com um destino ou são marcadas para sofrer? Ou pior ainda quando dizemos que nos fizeram mal. Qual é o valor de todos estes sofrimentos? 
O problema do mal e do sofrimento acompanha toda a reflexão filosófica e teológica de todos os tempos. Sempre se procuram soluções e explicações, rituais e magias para aliviar a vida das pessoas. Também não tenho explicações. Vemos como o próprio Jesus passou por tudo o que passamos, com diz a carta aos Hebreus, menos o pecado (Hb 4,15). Dizemos que os sofrimentos são fruto do pecado. Ainda há gente que ousa dizer que pagamos pelos antepassados. Cada um é responsável pelo mal que faz. Mas os sofrimentos não são mandados por Deus, porque Ele ama seus filhos e os quer todos felizes. Os males existentes são frutos de nosso mundo. Devemos procurar as causas e não jogar nas costas de Deus. 
O sofrimento existe. Jesus, no auge de sua dor colocava tudo na vontade do Pai, como foi o caso de sua agonia no horto e na Paixão (Lc 22,42). Isso significa que, mesmo na sua angústia, Ele continuaria fazendo como Deus quer, amando e se entregando pela vida do mundo. Nossa vida dedicada ao que nos é proposto, é a resposta ao sofrimento.
Existe o termo Holocausto, designando o massacre de multidões de judeus, cristãos, ciganos e outros que queriam eliminar. Holocausto também significa uma oferenda pessoal a Deus por um causa. É uma oferta amorosa mesmo na dor, continuar amando e acolhendo os sofrimentos, deixando-se consumir pelo amor de Deus, qualquer que seja a situação em que se viva. Claro que não é uma resignação absurda querendo o sofrimento e o mal. Mas em uma procura de vida plena, na pessoa não pode perder-se nem se desorientar quando os males são grandes. Naquela situação continuar ligado a Deus e aos irmãos pelo amor. O amor consome estes males e torna-os sacrifício a Deus. Os males terminam? Não! Ou podem terminar. Mas tomam sentido de vida. Deus não quer os males que sofremos, mas se sofremos, quer que vivamos este sofrimento unidos a Ele. Este sofrimento pode se tornar Redentor na medida em que o “oferecemos” pelos outros. Podemos explicar assim: o amor com que vivo esta situação será expandido e fará bem a todos. Ninguém sofre no lugar de ninguém. O que podemos fazer, como Jesus, é mostrar que Deus continua amando a mim e aos outros, nas situações difíceis. 
Artigo (22.01.2002)

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