Evangelho segundo São Marcos 3,22-30.
Naquele tempo, os escribas que tinham descido de Jerusalém diziam: «Está possesso de Belzebu», e ainda: «É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios».
Mas Jesus chamou-os e começou a falar-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás?
Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode aguentar-se.
E se uma casa estiver dividida contra si mesma, essa casa não pode durar.
Portanto, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não pode subsistir: está perdido.
Ninguém pode entrar em casa de um homem forte e roubar-lhe os bens, sem primeiro o amarrar: só então poderá saquear a casa.
Em verdade vos digo: Tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e blasfémias que tiverem proferido;
mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: será réu de pecado para sempre».
Referia-Se aos que diziam: «Está possesso dum espírito impuro».
Tradução litúrgica da Bíblia
Isaac da Estrela (?-c. 1171)
monge cisterciense
Sermão n.º 39, 2-6
A inveja: uma blasfémia contra o Espírito Santo
«É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios» [...]. O que é próprio das pessoas maldizentes e animadas pela inveja é fechar, tanto quanto possível, os olhos aos méritos de outrem; e quando, vencidos pelas evidências, já não conseguem fazê-lo, depreciá-los e desvirtuá-los. Assim, quando a multidão exulta de devoção e se maravilha com as obras de Cristo, os escribas e os fariseus, ou fecham os olhos ao que sabem ser verdade, ou rebaixam o que é grande, ou desvirtuam o que é bom. Uma vez, por exemplo, fingindo-se ignorantes, disseram Àquele que tinha feito tantos sinais maravilhosos: «Que sinal realizas Tu, pois, para nós vermos e crermos em Ti?» (Jo 6,30). Não podendo negar os factos com cinismo, depreciam-nos maldosamente [...] e desvalorizam-nos dizendo: «Está possesso de Belzebu. [...] É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios».
Eis, queridos irmãos, a blasfémia contra o Espírito, que amarra aqueles que envolveu nas cadeias dum pecado eterno. Não é que seja completamente impossível o penitente receber o perdão de tudo, se produzir «frutos de sincero arrependimento» (Lc 3,8). É que, esmagado por um tal peso de malícia, não tem força para aspirar a uma honrosa penitência merecedora de perdão. [...] Aquele que, vendo à evidência no seu irmão a graça e a obra do Espírito Santo [...], não teme desvirtuar e caluniar, e atribuir insolentemente aos maus espíritos o que sabe pertinentemente ser do Espírito Santo, esse está de tal modo abandonado por esse Espírito de graça, que já não quer a penitência que lhe traria o perdão. Está completamente mergulhado nas trevas, cego pela sua própria malícia. Com efeito, não há coisa mais grave do que ousar, por inveja de um irmão a quem tínhamos recebido ordem de amar como a nós próprios (cf Mt 19,19), blasfemar contra a bondade de Deus [...] e insultar a sua majestade, querendo desacreditar um homem.
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