Evangelho segundo São Marcos 3,7-12.
Naquele tempo, Jesus retirou-Se com os seus discípulos a caminho do mar e acompanhou-O uma numerosa multidão que tinha vindo da Galileia.
Também da Judeia e de Jerusalém, da Idumeia e da Transjordânia e dos arredores de Tiro e de Sidónia, veio ter com Jesus uma grande multidão, por ouvir contar tudo o que Ele fazia.
Disse então aos seus discípulos que Lhe preparassem uma barca, para que a multidão não O apertasse.
Como tinha curado muita gente, todos os que sofriam de algum padecimento corriam para Ele, a fim de Lhe tocarem.
Os espíritos impuros, quando viam Jesus, caíam a seus pés e gritavam: «Tu és o Filho de Deus».
Ele, porém, proibia-lhes severamente que o dessem a conhecer.
Tradução litúrgica da Bíblia
São Bernardo (1091-1153)
monge cisterciense, doutor da Igreja
«Os graus de humildade e de orgulho»,
cap 3, §§ 6.12
«Todos os que sofriam de algum
padecimento corriam para Ele,
a fim de Lhe tocarem»
Segui o exemplo de Nosso Senhor, que quis sofrer a sua Paixão para assim aprender a compaixão, sujeitar-Se à miséria para assim compreender os miseráveis. Tal como «aprendeu a obedecer, sofrendo» (Heb 5,8), quis aprender também a misericórdia. [...] Talvez acheis bizarro o que acabo de dizer de Cristo: Ele que é a sabedoria de Deus (1 Cor 1,24), que tinha Ele a aprender? [...]
Reconheceis que ele é Deus e homem numa só pessoa. Enquanto Deus, é eterno, teve sempre conhecimento de tudo; enquanto homem, nascido no tempo, aprendeu muitas coisas no tempo. Desde que começou a ser na nossa carne, começou também a aprender pela experiência as misérias da carne. Teria sido mais feliz e sensato os nossos primeiros pais não terem tido de fazer esta experiência, mas o seu Criador «veio procurar aquele que estava perdido» (Lc 19,10). Teve pena da sua obra e veio procurá-la, descendo misericordiosamente para onde ela tinha perecido miseravelmente. [...]
Não foi simplesmente para partilhar a sua desgraça, mas por empatia com a sua miséria e para os libertar: para Se tornar misericordioso, não como Deus, na sua felicidade eterna, mas como homem que partilha a situação dos homens. [...] Maravilhosa lógica de amor! Como teríamos nós podido conhecer esta misericórdia admirável se ela não Se tivesse inclinado sobre a miséria existente? Como teríamos podido compreender a compaixão de Deus se ela tivesse permanecido humanamente estranha ao sofrimento? [...] À misericórdia de Deus, Cristo uniu pois a de um homem, sem a mudar, mas multiplicando-a, como está escrito: «Tu salvarás os homens e os animais, Senhor. Ó Deus, como fizeste abundar a tua misericórdia!» (Sl 35,7-8 Vulg).
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