PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Deus puxa a conversa
Deus
é silencioso, oculto, parece distante, tão distante que às vezes nos esquecemos
que Ele exista, como um amigo que viajou e não nos comunicamos. Foi essa a
tentação que o povo passou no deserto, quando Moisés subiu à montanha e o povo
ficou sem seu chefe. ‘Onde está o Deus que nos tirou do Egito?’ Diziam. ‘O tal
Moisés não sabemos o que foi feito dele’ (Êx 32). O povo não suportou um Deus
assim tão fora do alcance dos sentidos. Fizeram um bezerro de ouro. É o que
fazemos. Na realidade, Deus não é nada distante, Ele ama um dedo de prosa.
Vemos isso na narração do paraíso terrestre quando Deus falava com o homem (Gn
3,8). Essa conversa de Deus com o homem não é só uma narração do passado, mas
faz parte de seu jeito de ser que busca estar em contato com os homens e a
possibilidade de cada um estar em contato com Ele. Se percorrermos as
Escrituras veremos sempre esse diálogo que acontece no silêncio do coração e os
escritores sagrados transformam em um fato narrado. É esse diálogo que dá
sentido à história da humanidade. “Qual a grande nação cujos deuses lhe estão
tão próximos como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? (Dt
4,7). Quando há a abertura para o diálogo com Deus é que já aconteceu a
experiência de Deus. Experimentar Deus é um fato necessário para a vida de cada
homem. Essa iniciativa de Deus ultrapassa nossos conhecimentos humanos e
espirituais, pois ela é divina. É Deus quem dá as regras. Sua regra fundamental
está descrita na Escritura com estas palavras:
“Com amor eterno eu te amei e te chamei pelo nome, tu és meu” (Is 43,1).
Essa experiência é um conhecimento personalizado – chama pelo nome. É um
conhecimento de amor – com amor eterno eu te amei.
Modalidades da experiência
Cada
um é cada um e Deus trata cada um a seu modo. Assim as experiências são
personalizadas e cada uma difere da outra. Não podemos esquematizar e colocar
modos a Deus. Foi um dos erros querer enquadrar Deus nos esquemas intelectuais.
Ele vai além. Notemos a experiência de Moisés: foi o fogo que queimava e não
consumia (Êx 3,1ss.). Isaías: Ela se dá no templo: “Apareceu-lhe a glória de
Deus” (Is 6). A experiência de Jeremias: é um fogo que penetra os ossos e se
torna irresistível. “Tu me seduziste, Senhor e eu me deixei seduzir... isso era
em meu coração como um fogo devorador, encerrado em meus ossos” (Jr 20,7-10).
Para Maria, foi como o orvalho sobre a relva: “O Espírito Santo virá sobre ti e
te cobrirá com sua sombra” (Lc 1,35). A experiência de Pedro: “Simão tu me
amas?” (Jo 21,15). É preciso aceitar: “ tu sabes de tudo, sabes também que te
amo” (17)
Experiência e sinais
Muitas
vezes pensamos que são necessários sinais especiais, como contam dos antigos.
Na verdade, não é bem assim. A experiência, quanto mais pura, mais silenciosa.
Se virmos fatos maravilhosos, não nos assustemos. São secundários, mas podem
acontecer. As pessoas podem ser agraciadas com estes dons, mas não está aí a
experiência. Tomemos cuidado que alguns têm os fenômenos, sem a experiência.
Ela é verdadeira quando abre para nós o contato com Deus, como um amigo fala ao
amigo e abre ao outro, o irmão.
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