os bens que possuía (496).
Gelásio nasceu na Cabília, na África romana, no ano de 410, filho de um humilde ferreiro, mas cresceu segundo a educação dos romanos (“sicut romanus natus”, escreveu ele posteriormente de si mesmo).
Foi eleito papa em 1 de março de 492 e adotou o nome de Gelásio I. Em seu pontificado surgiu o primeiro censo das propriedades da Igreja e das suas posses, o chamado Liber Censuum. Este registo foi efetuado para que a Igreja tivesse a exata dimensão de seus bens, uma vez que Roma fora invadida por uma multidão de refugiados, devido à invasão de Teodorico, rei dos Visigodos. Assim, estando a cidade abalada pela fome e pela peste, com as suas determinações, as rendas das propriedades eclesiásticas foram divididas em partes iguais para o papa (para exercício da caridade), para o clero, para os pobres e para as igrejas. Assim, o trigo da Sicília e da Sardenha alimentou o povo romano nesta época conturbada.
São Gelásio conseguiu igualmente estabelecer uma paz política e religiosa com o Imperador Teodorico, o que facilitou a sobrevivência e expansão da Igreja, tendo também tornado a cidade de Roma num centro quase totalmente cristão. Perdoou o bispo de Cumas, Miseno, que tinha sido um dos legados excomungados pelo papa Félix III (seu antecessor), continuando, no entanto, a preconizar a supremacia absoluta da Igreja Romana instituída por Cristo, sob a autoridade de São Pedro. A esta mesma autoridade moral estaria também subordinada a autoridade do imperador, defendendo que tanto as funções do imperador como as do papa eram para encaminhar os fiéis para a vida eterna
Foi o primeiro papa a usar o título de “vigário de Cristo”, inseriu o Kyrie Eleison na celebração litúrgica e convocou o sínodo de 494, no qual se estabeleceram normas para a catequese dos fiéis e ordenação dos presbíteros. Neste mesmo ano de 494 o imperador Anastácio I Dicoro, enviou à Itália os embaixadores Fausto e Ireneu, para discutir questões públicas com o rei Teodorico I, então soberano da Itália. Os embaixadores receberam ordens do imperador para não se encontrar com o Papa Gelásio, devido aos conflitos entre eles, como o cisma acaciano e o monofisismo. Gelásio acabou descobrindo as ordens do imperador e demonstrou seu descontentamento com os embaixadores pela sua atitude de indiferença. Quando voltaram a Constantinopla, informaram Anastácio dos problemas com o Papa. Ao retornarem à Itália, disseram a Gelásio que o imperador agiu dessa forma porque o Papa não lhe comunicou a sua eleição. Gelásio considerou os argumentos do imperador um abuso e uma demonstração de cesaropapismo, e se defendeu, escrevendo a epístola Duo sunt, na qual, descreve e distingue as responsabilidades e a atuação da Igreja e do Estado, que ainda não haviam sido oficialmente declaradas pela Igreja, sendo assim um dos primeiros papas que efetuou a distinção entre o poder temporal dos imperadores e o espiritual dos papas. Nessa epístola os bispos foram colocados como superiores ao poder temporal e estabelecendo ainda que a figura do Papa não poderia ser julgada por ninguém, porém, também dizia que o papel do Pontífice era antes ouvir do que julgar. Instituiu o Código para uniformizar funções e ritos das várias Igrejas e ratificou os livros canônicos e apócrifos aprovados pela Igreja no Decretum Gelasianum..
Em seus quatro anos de pontificado enfraqueceu e anulou os últimos resquícios do paganismo, enfraqueceu definitivamente o maniqueísmo em Roma e o pelagianismo voltou aqui e ali, em Piceno e na Dalmácia. Gelásio escreveu seis tratados teológicos contra o monofisismo e o próprio pelagianismo, e depois muitas cartas. Suas formas litúrgicas estão na origem do “sacramentário gelasiano”, e vários de seus princípios em matéria eclesiástica se tornarão pontos fixos do direito canônico até hoje.
Faleceu aos 86 anos, em Roma no dia 21 de novembro de 496, e seus restos mortais repousam na Basílica de São Pedro.
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