A palavra mundo tomou uma conotação
negativa como oposto a Deus. O mundo inimigo de Deus é composto por aqueles que
recusam reconhecê-lo e amá-lo. O mundo de que falamos aqui é o criado por Deus.
Quando vejo as belezas da natureza, a perfeição dos seres animais, vegetais,
minerais e tantos outros, fico pensando na imensidão de detalhes perfeitos para
um pequeno inseto que vai durar poucos dias. Impossível não acreditar em Deus.
Mais ainda quando contemplamos a pessoa humana, vemos a grandeza de seu
Criador. Impossível não adorar a Deus diante de sua obra maravilhosa que é uma
pessoa. O próprio Deus, quando terminou a criação, viu que tudo era muito bom.
Não só bom, mas muito, diz a Escritura (Gn 1,31). Deus não só gostou do que
fizera, mas achou bonito demais da conta. Foi neste mundo que Deus colocou o
homem e a mulher com a missão de continuar fazendo-o sempre muito bom e
acolhendo esta bondade como fonte de vida e caminho de espiritualidade. Neste
paraíso o homem encontrava Deus. Ali ele conversava com Deus na brisa da tarde,
como um amigo conversa com seu amigo. Dizer que o mundo é caminho de
espiritualidade é reconhecer que, cuidado desta casa paterna, está se
encontrando com Deus. A integração da espiritualidade com o mundo é
santificação. Esta natureza foi ofendida pelo pecado e sofre esperando a
libertação (Rm 8,20-22). A libertação da natureza está associada à
fraternidade. Por isso Francisco de Assis canta: irmão sol, irmã lua, irmão
lobo, irmão fogo.
30. Mundo como caminho de
espiritualidade.
Ao trabalhar nossa espiritualidade,
temos que ter o mundo como elemento que contribui na ampliação de nossa
ressonância espiritual, pois vivemos no mundo material com todas suas energias
e elementos. Santo Afonso canta: “Felizes vós, flores, que dia e noite estais,
diante de meu Senhor”. A liturgia acompanha o ritmo das horas, dos tempos e das
estações. Da contemplação da natureza podemos chegar a Deus. Por isso, temos
que ter um contato espiritual com a natureza. O cuidado com a natureza reflete
esta necessidade. Pe Bernardo Häring, grande teólogo redentorista, disse-me uma
vez que ‘quem não gosta de música e de flores jamais compreenderá o coração
humano’. E acrescentaria que terá muita dificuldade e conhecer o verdadeiro
Deus. Jesus, integrado com a natureza, faz suas parábolas a partir da natureza.
Um dos meios de rezar é partir da natureza. A obras da criação são centelhas de
Deus, escreve-nos Maria Celeste Crostarosa, redentorista.
31. Celebrar com a natureza.
Como que chegando ao ápice da união da
natureza e da espiritualidade, encontramos os elementos da natureza usados nas
celebrações da Igreja. Nos sacramentos usamos os frutos da natureza
transformados para o uso das pessoas e tomados para significar a graça do
sacramento. Vemos por exemplo a água no batismo, o óleo nas unções
sacramentais, o pão e o vinho, frutos da terra e do trabalho do homem e da
mulher. A natureza em si entra na composição de um sacramento que é o encontro
salvador de Jesus Cristo com seu povo. Não só lembra, como realiza a salvação.
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