Evangelho segundo S. Mateus 16,21-27.
A partir
desse momento, Jesus Cristo começou a fazer ver aos seus discípulos que tinha de
ir a Jerusalém e sofrer muito, da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos
doutores da Lei, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar. Tomando-o de
parte, Pedro começou a repreendê-lo, dizendo: «Deus te livre, Senhor! Isso nunca
te há-de acontecer!» Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: «Afasta-te,
Satanás! Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de
Deus, mas os dos homens!» Jesus disse, então, aos discípulos: «Se alguém
quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Quem
quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha
causa, há-de encontrá-la. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se
perder a sua vida? Ou que poderá dar o homem em troca da sua vida? Porque o
Filho do Homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então
retribuirá a cada um conforme o seu procedimento.
Da Bíblia
Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Imitação de Cristo, tratado
espiritual do século XV, Livraria Moraes, 1959
Livro II, cap. 12
«Tome a sua cruz e siga-Me.»
Se levas a cruz de boa vontade, ela te
levará e conduzirá ao fim desejado, onde será o fim do sofrimento; mas não será
neste mundo. Se a levas de má vontade, fazes dela um fardo e ainda mais te
pesará; e, contudo, terás de a suportar. Se foges a uma cruz, encontrarás sem
dúvida outra, e talvez ainda mais pesada.
Julgas fugir àquilo de que
nenhum dos mortais se pode livrar? Qual dos santos viveu neste mundo sem cruz e
sem tribulação? Nem mesmo Jesus Cristo, Nosso Senhor, passou uma só hora sem a
dor da Paixão enquanto viveu. «Era necessário que Cristo sofresse a
ressuscitasse dos mortos, e que assim entrasse na sua glória» (Lc 24, 46ss). E
como procuras tu outro, além desse régio caminho que é o da santa cruz? […]
Contudo, esse que é afligido de tanta maneira não está sem o alívio da
consolação, porque sente crescer em si o maior fruto pelo sofrimento da sua
cruz. Assim, enquanto a ela se submete de livre vontade, todo o peso da
tribulação se converte em confiança de consolação divina. […] Isto não é virtude
do homem, mas graça de Cristo, que pode tais coisas e age na frágil carne de tal
modo, que tudo aquilo a que ela naturalmente sempre foge e que aborrece é
empreendido e amado por este fervor do espírito.
Não é próprio do homem
levar a cruz, amar a cruz […]. Se olhas só para ti, nada disto conseguirás. Mas,
se confias no Senhor, ser-te-á dada a força do céu, e ao teu mando se submeterão
o mundo e a carne. E nem temerás o inimigo, se estiveres armado de fé e marcado
com a Cruz de Cristo.
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