terça-feira, 29 de julho de 2014

REFLETINDO A PALAVRA - “Oração é diálogo”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
52. Encarnação e diálogo de oração
          Quando dizemos que oração é diálogo, partimos do fato tão normal de conversar, trocar idéias, expor planos, abrir o coração, discutir um assunto e tanta coisa mais que isso possa significar. Certo! Mas aonde nasce o diálogo com Deus? Conversar com Deus é uma das bases da oração. Este diálogo nasce do desejo de Deus falar conosco. Como Deus é além de nós, um ser divino, tomou a decisão de nos enviar o Filho para que iniciasse este diálogo. É por isso que o Filho de Deus é chamado de Verbo – Palavra. Palavra não só no sentido de algo escrito ou falado, mas o próprio ser que se comunica. Esta comunicação se dá em totalidade na sua pessoa. “O Verbo se fez Carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). A encarnação de Jesus é o ponto de partida do diálogo entre Deus e a humanidade. A encarnação que se dá no tempo e atinge a eternidade, é o fundamento da oração. Em Jesus há duas naturezas: a natureza divina, Ele é Deus; e a natureza humana, Ele é homem. Estas duas naturezas estão em perfeita unidade e em total relacionamento entre si. As duas naturezas são uma palavra uma à outra. Há uma relação dialogal em que a humanidade acolhe Deus e Deus acolhe a humanidade, numa linguagem comum estabelecida pela mútua entrega. Homem e Deus se falam à mesma altura no Filho Homem Deus. A possibilidade de rezar vem do próprio ser deste que chamamos Jesus de Nazaré. Nele, em Sua realidade de Suas duas naturezas, acontece o diálogo. A humanidade abriu-se à divindade, acolhendo-a; a Divindade entregou-se à humanidade, acolhendo sua inteira condição de fragilidade e grandeza. Em si mesmas são uma troca de vida. Na liturgia de Natal rezamos: “Oh admirável troca de dons!”
53. Diálogo divino.
          Quando o Filho de Deus se encarna, traz-nos o diálogo eterno que existe na Trindade. A oração de Jesus é a continuação deste diálogo eterno entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A humanidade uniu-se a este diálogo. Por outro lado, a oração que murmuramos em nossa natureza, une-se à oração do Filho e chegam ao Pai na linguagem do Espírito, pois Ele reza por nós (Rm 8,27). Jesus é o caminho para a oração e seu realizador. Na missa rezamos: “Por Cristo, Com Cristo e em Cristo, a Vós Deus Pai...”. Não se trata só de palavras, mas de participação vital. O valor e o peso da oração vêm de sua raiz: o Filho que reza ao Pai.
54. Diálogo de entrega
            Oração é uma entrega pessoal a Deus em Cristo. Antes de ser palavra é vida. As palavras podem não expressar o tudo que somos diante de Deus. Ser para Deus é nosso primeiro passo na oração. Esta atitude fundamental constitui o trilho da nossa oração. Mesmo que não saibamos o que dizer, podemos estar em oração, quando estamos entregues e abertos a Deus. Por isso rezamos Pai nosso, santificado seja vosso Nome. Saímos de nós mesmos e nos entregamos acolhendo. Jesus, no final de sua vida, na Paixão, diz: Pai, em vossas mãos eu entrego meu espírito. Entrega sua vida nas mãos de Deus. Assim, como a natureza humana em Cristo se entrega a Deus, assim também continuamos este gesto de entrega através de nossa vida e nos transformamos em pessoas orantes que estão diante de Deus em permanente entrega.

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