Continuando a reflexão sobre a espiritualidade em sua relação com a comunidade, vamos refletir sobre a comunidade e sua missão. A espiritualidade vai se delineando também no aspecto missionário. A comunidade sem missão é morta ou agonizante. Não se pode admitir um grupo, uma comunidade, uma oração comunitária que não seja missionária. Será que bilhões de pessoas que não conhecem Jesus não são uma preocupação nossa? A espiritualidade fará permear nossa vida e atividades com a missão de Jesus. Como fazemos parte do Corpo de Cristo, estamos unidos também a sua missão. Essa missão tem a finalidade de dar vida. Jesus afirma: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Ter a vida de Cristo em nós é também ter a energia espiritual que nos impulsiona a dar vida. Nós não damos a vida de Cristo, mas abrimos os caminhos para que tenham a Vida. João escreve: “O que era desde o começo, o que nós ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos tocaram do Verbo da Vida – pois a Vida se manifestou, nós a vimos e damos testemunho e vos anunciamos esta Vida eterna, que estava diante do Pai e nos apareceu – o que vimos e ouvimos, nós vo-lo anunciamos, a fim de que vós estejais em comunhão conosco. E nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (1Jo 1,1-3). João parte de uma experiência pessoal com Cristo, até física, para anunciar. O anúncio gera comunhão entre as pessoas e essa comunhão é com o Pai e o Filho. O anúncio gera comunhão que dá Vida.
Missão, sinal de vida da Igreja
A missão dá vitalidade à Igreja e é sinal de que está viva. Pela história, desde o início, vemos o entusiasmo de gerações que partiram em missão. Quantos missionários europeus não enfrentaram os mares para ir a todo o mundo nos séculos 16-19. Foram, e muitos não mais voltaram, pois se fizeram missão! Agora sentimos a dificuldades de partir. Será que há dificuldades maiores do que viajar num naviozinho? Ou será que a Igreja morre porque não cremos mais em sua missão? Eu fui durante três anos missionário na Angola. Embora tenha sido extremamente gratificante, vi o quanto somos fechados e egoístas por não querermos sair de nós e nos entregar. É uma experiência única. Perdeu-se o elan apostólico-missionário. Damos muitas desculpas, mas é um triste sinal de decadência da Igreja. Mas a missão não é somente ir longe da pátria, da família e da própria cultura. É, mas não só. A missão primeira está ao alcance de nossas mãos.
Partes de um corpo apostólico
Ao refletirmos sobre a necessidade da missão, nós nos perguntamos: E eu, se não posso fazer o que os outros fazem, como ir para fora do país, ou ir longe, ou pregar, ou ensinar etc... o que posso fazer? Voltamos à imagem do corpo usada por Paulo: “Com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem muitos membros. Ora, vós sois o corpo de Cristo e sois os seus membros, cada um por sua parte. E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são apóstolos, profeta, doutores... a seguir os dos milagres, da assistência, do governo” (1Cor12,12-30). Cada um ocupa uma posição e tem uma finalidade. Assim também na Igreja. O que acontece é que não nos damos conta de nossa função no Corpo de Cristo. Temos também os carismas. Cada um tem um dom diferente para o bem da Igreja, regulado pela caridade. Para a missão tenho que descobrir primeiramente qual é meu dom e, depois, assumir atividades concretas, nem que seja só da oração. Aí sim, cresceremos na espiritualidade a partir da missão.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM OUTUBRO DE 2007
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