Maria Julieta da Gama Cerqueira era descendente de ilustre e tradicional estirpe mineira. Nasceu em Belo Horizonte no dia 10 de março de 1900; consagrou-se desde cedo à vida religiosa, ingressando na Congregação das Servas do Espírito Santo, em Juiz de Fora. Naquela cidade dedicou-se à formação da juventude feminina, tendo depois atuado em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.
Desejosa de uma vida mais contemplativa, a então Irmã Maria Letícia da Virgem Misericordiosa transferiu-se para o Mosteiro das Irmãs Redentoristas, em Itu (*). Desta cidade, dirigiu-se a Belo Horizonte, onde fundou o Mosteiro do Imaculado Coração de Maria, daquela Congregação.
Em 1969 trasladou-se da capital mineira para Diamantina (MG) e, posteriormente, para Campos (RJ). Nesta importante cidade fluminense, Madre Letícia fundou o Mosteiro do Coração Doloroso e Imaculado de Maria, no qual foi Superiora até seu falecimento.
Dotada de excecional inteligência e rara firmeza de vontade, Madre Letícia discerniu, desde seus primórdios, a crise progressista que hoje assola a Igreja. Assim, por seus conselhos, seus exemplos, sua extraordinária influência pessoal, constituiu-se, desde logo, num dos baluartes da defesa da sã doutrina.
Madre Letícia foi ardorosa simpatizante da TFP, dispensando àquela entidade seu contínuo apoio, preces e sacrifícios.
Quando sobre ela caiu o veredicto terrível do câncer, permaneceu firme, decidida, olhava para a morte com tranquilidade, não desejando deixar de batalhar pela glória de Deus e salvação das almas, mas disposta a fazer a vontade de Deus. Após alguns meses de intenso sofrimento, ela morreu rezando. Duas pessoas que a assistiam, a amparavam; ela estava sentada na cama, às vezes parava um pouco de rezar devido à falta de ar; depois, refeita, retomava as orações. Em determinado momento a religiosa que a acompanhava disse para o sacerdote presente: “Padre, a Madre morreu!” A Providência a tinha chamado.
Seu falecimento ocorreu no dia 2 de maio de 1974, aos 74 anos de idade. Atendendo ao seu pedido, o corpo foi sepultado no jazigo da TFP no Cemitério da Consolação, na capital de São Paulo.
Madre Leticia era muito decidida. Estando para entrar no convento, dirigiu-se para lá de trem. Entretanto, havia hora para entrar. Como o trem estivesse passando perto do convento muito lentamente, e ao ver que não daria tempo para esperar que ele chegasse à estação, ela não teve dúvidas: jogou sua mala e pulou do trem, para espanto geral dos passageiros.
Uma de suas grandes alegrias foi ter feito uma peregrinação a Fátima, Portugal. Ela contava cenas tocantes da devoção do povo português por Nossa Senhora. Dizia que as promessas de Nossa Senhora em Fátima iam cumprir-se muito brevemente.
Ela era muito alegre, possuía a verdadeira alegria que não se abate mesmo no meio das adversidades. Durante sua doença ela procurava animar as Irmãs dizendo coisas engraçadas para distraí-las. Em Portugal, divertia-se imitando o sotaque português, o que fazia de modo tão perfeito, que a Irmã que a acompanhava não podia conter o riso.
Em carta de 1971 a uma de suas dirigidas leigas, Madre Letícia recomendava: “No vendaval tremendo por que está passando a Santa Igreja, é preciso não só proteger a Fé, mas ainda guerrear para mantê-la, e ainda torná-la cada vez mais intensa, brilhante”. ... “A mulher hoje perdeu completamente a noção de dignidade, do pudor; tornou-se escrava da moda por mais indecorosa que seja. Você precisa velar com especial cuidado sobre esta tentação terrível que vem arrebanhando meninas, moças e senhoras”.
Em 27 de dezembro de 1973, antes de uma cirurgia, Madre Letícia escreveu uma pungente carta aos seus irmãos, da qual é este edificante trecho: “Minha vida e minha morte estão nas mãos de Nossa Senhora, Ela que é sempre a ‘Causa da minha Alegria’. A Ela me consagrou nossa mãe, como aliás consagrou todos os filhos. Embora cheia de infidelidades, procurei sempre a Ela me dar. Como temer neste momento? Estou em Seus braços. Se continuar a viver, vou esforçar-me por servi-La melhor e amá-La mais; se morrer, banhando minha alma no mar infinito da misericórdia de Deus, irei vê-La no Céu!”
No hospital, após a cirurgia, conversando com uma visitante, disse a certa altura: “Daqui a pouco virá a visita mais importante!” A pessoa perguntou quem era e ela respondeu muito séria, mas afetuosamente: “Jesus!” É que iam levar a Santa Comunhão para ela...
Frases
“Vamos falar de grandes coisas, das dores da Igreja”.
“Se formos esperar que os outros nos tratem mal, então poucas vezes faremos atos de humildade. O melhor ato de humildade é nos considerarmos diante de Deus: nós não somos nada, Deus é tudo! Fazer isto muitas vezes”.
“Sim, meu Deus, nada Vos recusarei!”
Madre Leticia com um Irmã em setembro de 1968 |
(*) Duas jovens brasileiras transpuseram os mares para ingressar no Mosteiro Redentorista de Bruges, Bélgica: Helena Isnard (Ir. Maria Tereza do Menino Jesus) e Ir. Maria Luiza do Coração de Jesus. Elas regressaram ao Brasil no dia 14 de junho de 1921; o grupo das fundadoras desembarcou no Rio de Janeiro: Madre Maria Clemente, Ir. Maria Verônica, Ir. Maria Tereza do Menino Jesus, Ir. Maria Luiza do Sagrado Coração de Jesus.
Inicialmente as religiosas se instalaram em Vassouras – RJ e se transladaram para Itu – SP em fevereiro de 1924.
Em março de 1952, a Ir. Maria Letícia da Virgem Misericordiosa, com outras irmãs oriundas de Itu, fundou o Mosteiro do Imaculado Coração de Maria na cidade de Belo Horizonte – MG.
Em 22 de maio de 1969, Madre Letícia fundou, com algumas irmãs, o Mosteiro da Santa Face e do Puríssimo e Doloroso Coração de Maria em Diamantina, que foi transladado em 1970 para Campos, onde chegaram em 26 de julho; por fim, este Mosteiro foi transladado para São Fidélis – RJ, onde as Irmãs chegaram no dia 28 de dezembro de 2003.
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