quinta-feira, 22 de outubro de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - “Quero misericórdia”.

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
Se a gente quisesse
explicar Jesus em poucas palavras, o que a gente poderia dizer em uma frase? Esta resposta tem que indicar o que Ele é, qual a missão e qual o método? Parece ousada a pergunta e a extensão da resposta. Mas é simples. Em Jesus tudo é simples. Nós é que complicamos. Se virmos tudo o que há na Igreja, sobretudo nas exterioridades, percebemos que deveríamos passa-las – as exterioridades - neste filtro que é a pessoa de Jesus. 
Tendo a pretensão de responder a estas questões vejo que a palavra justa para dizer quem é Jesus, seria dizer que Ele é a misericórdia do Pai. Como Filho, Ele é o primeiro a receber esta misericórdia, pois o Pai o abraça amorosamente e o Filho na sua humildade eterna, acolhe o abraço do Pai. Este abraço é o Espírito de amor. Quando Jesus vai se explicando na sua vida e pregação, mostra como este relacionamento amoroso com o Pai é claro. Misericórdia não é ter dó. Significa, no original latino, enviar o coração. 
A missão do Filho amoroso do Pai é trazer-nos este abraço amoroso do Pai. Ele nos abraça e nos faz sentir em seu coração, as batidas do coração do Pai. Zacarias, o pai de João Batista diz em seu canto: “Graças ao coração misericordioso de nosso Deus pelo qual nos visita o Astro das alturas que nos veio visitar” (Lc 1,78). 
O método que Jesus usa é expressar esta misericórdia. Suas parábolas cantam esta misericórdia. Que dizer da ovelha perdida carregada ao colo? Quem não chora ao ouvir a parábola do filho pródigo e do Pai misericordioso? Ele acolhe a todos: doentes, prostitutas, pecadores, sofredores, inimigos, pobre, humildes e fracos que sentiam nEle alguém que entendiam e amavam. Ele abraça as crianças, se comove diante da dor da mãe do jovem de Naim, chora com irmãs de Lazaro, deixa-se tocar pela pecadora. Morre de braços abertos pregado numa cruz, para que o abraço de Deus permanecesse no mundo como sinal permanente de porta aberta para todos. 
Outra pergunta é se a Igreja, ou até as igrejas cristãs estão realizando o projeto de Jesus. Jesus fez a Igreja, reunião de todos os que crêem em Deus e continuam sua presença, e nós a fechamos dentro de um prédio que chamamos de igreja. Fizemos muitas leis, muitos estudos. Fazemos pregações, ritos bonitos, organizamos bem e temos uma bela estrutura econômica (sem dizer que até exploramos os fracos a título de pagar taxas e dízimos). Fazemos muitas coisas pelo Reino. Mas a misericórdia de Deus expressa em Jesus fica colocada de lado. Numa reunião eu pedia que fôssemos misericordiosos com os pobres nas coisas de Igreja. Uma irmã, formada em assuntos sociais, disse que não podemos fazer um projeto baseado na misericórdia. Um velho sacerdote, Mons. Santamaría de Vera Cruz, toca-me e diz no seu português espanholado: “vochê tem razón”. Examinemos nossas atitudes e nossas estruturas e vejamos se a misericórdia faz parte de nossas atitudes e planos. O que fazemos contempla esta misericórdia como Jesus?
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO 
EM JUNHO DE 2002

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