segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Santa Eustóquia (Júlia), virgem – 28 de setembro

Sta. Eustóquia, junto a sua mãe,
ouve orientação de S. Jerônimo
Júlia Eustóquio ou Eustóquia (em latim: Iulia Eustochium/Eustochia) foi uma nobre romana do século IV, celebrada pela Igreja no dia 28 de setembro.
     Eustóquia nasceu em Roma em 368. Era filha de Paula (Santa Paula Romana) e Júlio Toxócio, ambos da alta aristocracia romana; era irmã mais nova de Bresila, sobrinha de Júlio Festo Himécio e Pretextata, tia de Paula e parente de Fúria. Após a morte de seu pai, em 379, adotou vida ascética como sua mãe, reunindo-se no cenáculo/palácio de Santa Marcela, em Roma.
     Em 382, quando São Jerônimo chegou a Roma vindo da Palestina, mãe e filha colocaram-se sob sua orientação espiritual. Foi discípula afetuosa, frequentando assiduamente as palestras sobre a Sagrada Escritura que o santo doutor dirigia ao grupo de senhoras romanas na casa de Santa Marcela. Seus tios tentaram persuadi-la a abandonar sua vida ascética e gozar dos prazeres da vida, mas suas tentativas foram infrutíferas.
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     Por ocasião da festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo de 384, Eustóquia enviou-lhe uma nota e alguns presentes simbólicos: uma cesta de cerejas, braceletes e algumas pombas. São Jerônimo respondeu-lhe com uma carta muito espirituosa. Em 384, Júlia Eustóquia fez voto de virgindade perpétua e na ocasião São Jerônimo endereçou-lhe sua celebrada carta De custodia virginitatie.
     Em 385/386, quando Santa Paula decidiu fixar-se na Palestina para não ficar sem a direção de São Jerônimo, Eustóquia juntou-se a ela. No outono de 385, mãe e filha embarcaram em Óstia e desembarcaram em Selêucia, porto de Antioquia da Síria, capital da região, acolhidas pelo Bispo Paulino. São Jerônimo estava esperando pelas peregrinas. Elas fizeram primeiro uma piedosa e detalhada peregrinação pela Terra Santa, indo depois para o Egito a fim de edificar-se com as virtudes dos anacoretas e cenobitas que povoavam aquela região, principalmente São Macário, Santo Arsênio e São Serápio. Depois, cedendo a um desejo do coração, fixaram residência em Belém, como já o havia feito São Jerônimo.
As Santas embarcam em Óstia
     Entre 386-389, Santa Paula edificou junto à igreja da Natividade dois mosteiros: um feminino, do qual ficou superiora, e no qual entraram Eustóquia e várias das viúvas e virgens que as haviam acompanhado à Terra Santa; outro masculino, que ficou sob a direção de São Jerônimo. Todos os conventos possuíam apenas um oratório, onde as religiosas reuniam-se várias vezes ao dia para rezar e recitar os Salmos.
     A vida nos dois mosteiros era inspirada na dos grandes anacoretas do deserto. São Jerônimo diz que “as que em outro tempo gemiam sob o peso das joias e brocados andam agora miseravelmente vestidas, preparam os lampiões, acendem o fogo, varrem os pisos, limpam os legumes, colocam na panela fervente as ervas, preparam as mesas e correm daqui para lá dispondo de tudo”. (*) Santa Paula e Santa Eustóquia davam o exemplo em tudo, sendo as primeiras nos trabalhos mais vis.
     Estas Santas tiveram ampla participação nos trabalhos de São Jerônimo, como sábias secretárias e tradutoras. Não é exagerado dizer que Santa Paula foi a alma da grande empresa, a tradução da Bíblia Sagrada conhecida como Vulgata. São Jerônimo opunha sempre as repugnâncias de sua humildade. “Se bem que muito santa, Paula não deixava de ser mulher, e de um espírito fino e penetrante. Pois bem: pediu-lhe ao menos que escrevesse alguma coisa sobre a menor das epístolas de São Paulo, a dirigida a Filemon, ainda que não fosse mais que uma página de quarenta linhas. Jerônimo caiu no laço: fez o que lhe pedia, e o resto veio depois. O ‘resto’ são seus grandes comentários paulinos. ‘Para que vejas o que pode sobre mim tua vontade’”. (**)
     São Jerônimo também afirmou que Eustóquia falava latim e grego com a mesma facilidade que lia a Sagrada Escritura em hebreu. Muitos dos comentários bíblicos de São Jerônimo, segundo palavras suas, existem por influência dela e vários deles foram dedicados a ela, como a tradução do Livro dos Reis, os dezoito prefácios dos livros de Isaías e os quatorze prefácios de Ezequiel. Além disso, muitas foram suas epístolas para instruí-la em sua vida espiritual. Eustóquia era sua discípula favorita, porque era virgem.
     Quando em 402-403 Santa Paula adoeceu, Eustóquia cumpriu seu dever filial cuidando dela com amor. Com a morte de Santa Paula em 404, Eustóquia assumiu a direção dos conventos, percorrendo a trilha luminosa dos exemplos e ideais de seus pais. Sua tarefa foi dificultada devido ao empobrecimento dos mosteiros decorrente da ativa ação de caridade conduzida por Paula. São Jerônimo, por sua vez, foi um grande auxiliar seu através de seu encorajamento e conselhos prudentes. Por outro lado, ela continuou a estimular São Jerônimo nos seus trabalhos bíblicos, que ele havia empreendido pela insistência de sua mãe. São Jerônimo traduziu a regra de São Pacômio por volta de 404.
     Em 417, no entanto, uma multidão de rufiões atacou e pilhou os conventos, destruindo um pelo fogo e matando e maltratando alguns dos residentes. Pensa-se que esse ataque foi incitado pelo patriarca hierosolimita João II (r. 387–417) e os pelagianos contra quem São Jerônimo escreveu duras críticas. Ele e Eustóquia escreveram uma carta informando o Papa Inocêncio I (r. 401–417) do ocorrido, e o papa duramente reprovou o patriarca por ter permitido tamanho ultraje.
     Eustóquia morreu em 419 e foi sucedida na supervisão dos conventos por sua sobrinha, a jovem Paula, que em 404 uniu-se a Eustóquia em Belém, e em 420 fechou os olhos de São Jerônimo. Três cartas curtas de São Jerônimo relatam-nos sua desolação: "a morte repentina da virgem santa e venerável de Cristo me perturbou e mudou o meu tipo de vida".
     Eustáquio de Tours (r. 443–460) pode ter sido seu sobrinho, bem como é possível que Perpétuo (r. 460–490) e Volusiano (r. 491–498) foram seus parentes.
     Eustóquia não tinha culto na antiguidade: ela entrou nos martirológios bem recentemente. A Igreja celebra sua festa em 28 de setembro. Juntamente com sua santa mãe, Paula, ela é retratada como uma peregrina dos Lugares Santos.

Santa Paula e Santa Eustóquia
(*) Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo I, pp. 176.
(**) idem pp. 175-176
Fontes
Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1946, tomo I.

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