Evangelho segundo São Lucas 10,17-24.
Naquele tempo, os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios nos obedeciam em teu nome».
Jesus respondeu-lhes: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago.
Dei-vos o poder de pisar serpentes e escorpiões e dominar toda a força do inimigo; nada poderá causar-vos dano.
Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos no Céu».
Naquele momento, Jesus exultou de alegria pela ação do Espírito Santo e disse: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.
Tudo Me foi entregue por meu Pai; e ninguém sabe o que é o Filho senão o Pai, nem o que é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar».
Voltando-Se depois para os discípulos, disse-lhes: «Felizes os olhos que veem o que estais a ver,
porque Eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram».
Tradução litúrgica da Bíblia
São Paulo VI(1897-1978)
papa de 1963 a 1978
Exortação Apostólica sobre a alegria cristã «Gaudete in Domino»
(© Libreria Editrice Vaticana)
«Naquele momento, Jesus exultou de alegria»
Por essência, a alegria cristã é participação espiritual na alegria insondável, simultaneamente divina e humana, que está no coração de Jesus Cristo glorificado. [...] Contemplemo-lo no decorrer da sua vida terrena: na sua humanidade, Ele experimentou as nossas alegrias. É manifesto que conheceu, apreciou e celebrou toda uma gama de alegrias humanas, dessas alegrias simples e quotidianas que estão ao alcance de todos. A profundidade da sua vida interior não embotou o concreto do seu olhar, da sua sensibilidade. Ele admira os pássaros do céu e os lírios dos campos, assumindo o olhar de Deus sobre a criação na aurora da história. Ele enaltece a alegria do semeador e do ceifeiro, a do homem que encontra um tesouro escondido, a do pastor que recupera a sua ovelha e a da mulher que reencontra a moeda perdida, a alegria dos convidados para o banquete, a alegria das bodas, a do pai que acolhe o filho que regressa de uma vida dissipada e a da mulher que acaba de dar à luz o seu filho.
Estas alegrias humanas têm tal consistência para Jesus que são para Ele sinal das alegrias espirituais do Reino de Deus: da alegria dos homens que entram nesse Reino, a ele voltam ou nele trabalham, da alegria do Pai que os acolhe. Por seu lado, o próprio Jesus manifesta a sua satisfação e a sua ternura quando acolhe as crianças que querem aproximar-se dele, um jovem rico, fiel e preocupado em fazer melhor, os amigos que lhe abrem a porta, como Marta, Maria e Lázaro. A sua felicidade é sobretudo ver que a Palavra é acolhida, os possessos são libertados, uma pecadora ou um publicano como Zaqueu se convertem, uma viúva tira da sua indigência para dar uma esmola. Chega a estremecer de alegria quando constata que os pequeninos recebem a revelação do Reino, que permanece oculto aos sábios e aos astuciosos. Sim, porque Cristo, que «viveu a nossa condição humana, em tudo igual a nós, exceto no pecado» (Heb 4,15), acolheu e experimentou as alegrias afetivas e espirituais como um dom de Deus. E não descansou enquanto não anunciou aos pobres a Boa Nova e a alegria aos que sofrem (cf Lc 14,18).
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