Deixando o aspecto econômico que
requer aprofundamento, o Papa Francisco vai a outro aspecto. Em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium reflete sobre os
desafios culturais. Como vimos, a economia é orientada por princípios que não
levam em conta o homem em sua realidade, fazendo-o vítima do sistema ganancioso
e consumista em proveito de poucos. Assim também encontramos os desafios
culturais. A cultura aqui não são os
conhecimentos e a sabedoria, mas os princípios que dominam a sociedade. A
título de liberdade em todo o sentido, a pessoa se rege pelo individualismo,
desconhecendo o outro. Perdeu-se a capacidade de fazer parte de um corpo. Certo
que não podemos ficar na ditadura do todo destruindo a personalidade e os
direitos do indivíduo. Chegou-se, contudo à ditadura do indivíduo sobre o todo.
Em nosso tempo encontramos também grupos que catalisam e se reúnem em torno de ideias.
Estamos vendo por todo mundo situações inexplicáveis e desafios. O Papa enumera
os resultados a que se chegou: Ataques à liberdade religiosa com perseguição de
cristãos (não só católicos) com ódio e violência. Em outros lugares há uma
indiferença relativista que recusa o que é de um grupo, no caso, religioso. É a
teoria: se não está de acordo comigo ou com meu grupo, não tem direito de
existir. Impossibilita trabalhar em comum em vista do bem das pessoas. Religiões e filosofias não podem ser impostas
sob o risco de destruir a pessoa. Ouvi que Voltaire disse: “Sou contra sua
ideia, mas vou lutar até à morte pelo direito que tem de defendê-la”.
1523.
Respeitando as culturas
Pelo fato de não procurar o
desenvolvimento da pessoa humana, ocupa primeiro pelo que é exterior, imediato,
visível, rápido, provisório. “A globalização, como alerta” o Papa, “comportou
uma acelerada deteriorização das raízes culturais com a invasão de tendências
pertencentes a outras culturas, economicamente desenvolvidas, mas eticamente
debilitadas” (EG 62). Os países em desenvolvimento,
como reclamam os bispos africanos, são invadidos pelos interesses dos poderosos
do mundo e de suas empresas, que com os meios de comunicação que “nem sempre
dão a devida conta as prioridades e os problemas nesses países e não respeitam
sua fisionomia cultural”. Continua o
colonialismo que se aproveita das situações de riqueza natural e o povo fica
fora do progresso. O mesmo acontece com países da Ásia que são desfigurados em
suas culturas. João Paulo II escreveu no documento Ecclesia in Asia nº 58 “que os aspectos negativos dos meios de
comunicação social estão ameaçando os valores tradicionais” (62). Isso não está
distante. Tantos valores de nosso povo foram destruídos por essas influências. É
um mal.
1524.Uma
fé provada
“O
processo de secularização tende a reduzir a fé e a Igreja ao âmbito privado e
íntimo”... “Com a negação da transcendência produziu-se uma crescente
deformação ética, um enfraquecimento do sentido do pecado pessoal e social e um
aumento do relativismo” (64). Foi atingida a
família e debilitada a estabilidade dos vínculos, fruto do individualismo.
Apesar de todos esses problemas, a
Igreja permanece uma instituição credível por sua atenção às populações carentes
e sua contribuição com a sociedade, de modo particular na proposta da paz e na
cura das feridas, construir pontes, estreitar laços. A mensagem fundamental do
amor continua sua estrada de restauração do mundo. A fé, vivida em meios
adversos faz compreender que ela deve ser coerente e assumida como modo de se
viver. Temos o direito de respeitar cada pessoa e promovê-la a viver
intensamente.
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