A capacidade de vida que
encontramos na natureza é uma iluminação para vermos a força que as sementes da
fé possuem. A fé é um dom e não se mede pelas categorias humanas. Por isso não
sabemos de todas as potencialidades, uma vez que está ligada a Deus que a
concede. Ela está ligada também à condição humana, pois foi dada a pessoas
humanas e frágeis. Muitas vezes dizemos que a fé morreu nos países do primeiro
mundo. No fundo queremos dizer que fé só existe para os pobres. Não compete a
nós dar regras a Deus. O documento do Papa Francisco sobre a Evangelização que
estamos comentando, chamado Evangelho da
Alegria, reflete sobre as raízes cristãs dos povos ocidentais. O modo de
ser Igreja já perdeu o vigor em muitos lugares, mas a evangelização deixou
raízes que produzem frutos. Uns exemplos: a preocupação dos países com os
direitos das pessoas, da natureza, a luta para que haja paz, as grandes
convenções como ONU, União Européia, as diplomacias que procuram estabelecer
comunhão com os outros países, a preocupação com a formação e a dignidade da
pessoa, a luta contra tudo que possa prejudicar o ser humano. Tudo isso são
coisas da política, mas a raiz está onde? Na fé cristã que educou esses povos.
Mesmo sendo contra toda a religião, estão agindo a partir da fé. O Papa afirma
que esse substrato é uma realidade viva. “Há uma reserva moral que guarda
valores de autêntico humanismo cristão” (EG 68). É a ação livre do Espírito
Santo. Na cultura popular encontramos tantos valores da solidariedade. É campo
para evangelização (69).
1526.
Tradições ricas
Há regiões onde o Evangelho é
desconhecido. São culturas antigas com grandes riquezas que são misteriosas
sementes do Verbo de Deus, colocadas ali pelo Espírito Santo. Há muito a ser
acolhido. Há também elementos a serem purificados. Estes são aqueles que
possuem tradições distorcidas que desviam o ser humano de sua integridade, como
por exemplo, a condição inferior da mulher ou abuso de autoridade espiritual
valendo-se de superstições para dominação. O Papa se volta para as regiões de
tradição cristã: “No caso das culturas populares de povos católicos, podemos
reconhecer algumas fragilidades que precisam ainda ser curadas pelo Evangelho:
o machismo, o alcoolismo, a violência doméstica, uma escassa participação na
Eucaristia, as crenças fatalistas ou supersticiosas que levam a recorrer a
bruxarias e parecidos etc ... O melhor meio de ver-se livre de tais
fragilidades é precisamente a piedade popular”. Ela é o Evangelho traduzido.
1527.
Devoção sem caridade
A evangelização da piedade popular se
preocupará com a purificação do egoísmo e do fanatismo de grupos. O egoísmo
leva a viver a piedade buscando só os próprios interesses. Coloca Deus, a
Virgem e os santos a seu serviço. O fanatismo estrutura-se em grupos que se
apóiam em certas revelações privadas, devoções ou movimentos mais voltados para
o sentimental. Deixam de lado a promoção social e a formação dos fiéis. Não se
preocupam com o fundamental da vida cristã que é a caridade. Sobre essa é que
seremos julgados. Pior situação é a posição daqueles que abandonam totalmente a
religião ou buscam conforto em técnicas espirituais. A evangelização deverá se
preocupar em dar a cada pessoa o sentido da vida, a partir de Cristo Salvador
de todos. A Igreja não deverá impor uma cultura, mas propor o Evangelho da
pessoa de Jesus. Imposição de cultura não evangeliza e destrói os elementos
sadios da cultura e devoção.
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