Evangelho segundo S. Mateus 19,16-22.
Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um jovem, que Lhe perguntou: «Mestre, que hei de fazer de bom para ter a vida eterna?».
Jesus respondeu-lhe: «Porque Me interrogas sobre o que é bom? Bom é um só. Mas se queres entrar na vida, guarda os mandamentos».
Ele perguntou: «Que mandamentos?». Jesus respondeu-lhe: «Não matarás, não cometerás adultério; não furtarás; não levantarás falso testemunho;
honra pai e mãe; ama o teu próximo como a ti mesmo».
Disse-lhe o jovem: «Tudo isso tenho eu guardado. Que me falta ainda?».
Jesus respondeu-lhe: «Se queres ser perfeito, vende o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro nos Céus. Depois vem e segue-Me».
Ao ouvir estas palavras, o jovem retirou-se entristecido, porque tinha muitos bens.
Tradução litúrgica da Bíblia
São Boaventura (1221-1274)
franciscano, doutor da Igreja
«Sobre a vida perfeita», cap. 3
A pobreza de Cristo
A pobreza é uma virtude que combina com a perfeição, de tal maneira que, sem ela, ninguém pode ser perfeito; dá disso testemunho a palavra do Senhor no evangelho: «Se queres ser perfeito, vende o que tens e dá-o aos pobres».
Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu tão pobre, que não teve habitação, nem vestes, nem alimento, pois teve um estábulo por morada, uns paninhos para Se cobrir e um leite virginal como alimento. E continuou a dar-nos exemplo de pobreza pela sua maneira de viver neste mundo. Foi pobre a ponto de, por vezes, não encontrar pousada e ter de dormir com os apóstolos fora da cidade e mesmo nos campos, ao ar livre. E o Senhor dos anjos não foi pobre apenas no seu nascimento e no seu estilo de vida, mas foi também extremamente pobre na sua morte, a fim de nos abrasar de amor pela pobreza. Ó todos vós, que haveis feito voto de pobreza, considerai e vede de que maneira o opulento Rei dos Céus foi pobre por nossa causa no momento da sua morte. Com efeito, foi despojado de tudo o que tinha: das vestes pelos carrascos, que as dividiram em três e deitaram sortes sobre a túnica (cf Mt 27,35); do seu corpo e da sua alma quando a alma Lhe foi violentamente arrrancada ao corpo; da glória divina quando, pelos sofrimento de morte tão dolorosa, em vez de O glorificarem como Deus, O trataram como um malfeitor, segundo o lamento de Job: «Despojou-me da minha glória » (Job 19,9).
Ó Deus, rico por todos os homens, ó bom Senhor Jesus! Quem poderá expressar dignamente com a boca, conceber no coração, descrever com a mão a glória celeste que prometestes dar aos vossos pobres! Pela sua pobreza voluntária, eles merecem contemplar a glória do seu Criador, entrar no poder do Senhor, nos tabernáculos eternos e nas moradas de luz. Eles merecem tornar-se habitantes da cidade cujo arquiteto e fundador é Deus. Vós próprio, Senhor, lhes fizestes esta promessa com os vossos lábios benignos: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus» (Mt 5,2).
Este Reino dos Céus não é senão Vós mesmo, Senhor Jesus Cristo, Rei dos Reis, Senhor dos Senhores. Vós dais-Vos a Vós mesmo a eles, como seu salário, sua recompensa e sua alegria. Eles gozarão de Vós, serão felizes convosco, saciar-se-ão de Vós! Amen!
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