No mês de agosto refletimos sobre as
vocações. Um dos temas é a vocação religiosa na vivência dos votos de pobreza, castidade e
obediência. Somente sendo pobres é que os religiosos podem abrir o coração (castidade)
e se colocarem a serviço (obediência). Trata-se de sair de si para conhecer
mais o Senhor e viver para os necessitados. A razão de ser religioso, entre
outras, é ser testemunhas para o povo de Deus das realidades futuras, de modo
particular para os leigos. Leigo não é aquele que não entende do assunto, mas o
que não faz parte do clero ou dos consagrados. Ser testemunha é viver já agora o
que se espera. Se não faz isso, não se cumpre a missão. Na história da espiritualidade
aconteceu que eclesiásticos e religiosos passaram a ser o modelo acabado de
santidade. Os leigos eram considerados de nível espiritual inferior. Com isso que
era difícil a vida de santidade no mundo. Não é ser religioso ou padre que
santifica, mas a opção pelo Evangelho. Temos que compreender que os leigos são
cristãos de primeira categoria. O Concílio acentuou a santidade do povo de
Deus. Há um modo próprio de os leigos viverem a santidade. Vivem a pobreza
quando não transformam a riqueza como sua única preocupação, mas enriquecem os
outros praticando a caridade, colocando suas capacidades para que os bens do
mundo se desenvolvam e todos sejam beneficiados. Nem muito ricos, nem muito
pobres. Os bens se multiplicarão na medida em que foram partilhados. A pobreza
dos leigos é santificar o mundo. Santificar não é jogar água benta, mas
conduzir as realidades o bem da vida
de todos. Deste modo os leigos participam da obra criadora de Deus: “Crescei e
multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a” (Gn
1,28).
Dominar significa conquistar para todos e para a glória de Deus.
1454. Condutores
do universo
Falar de
pobreza, não quer dizer por a mão no bolso, mas sim, por as mãos na grande
consagração do universo e em sua destinação primeira que é, como nos ensina
Jesus, estar a serviço. O mundo é o altar de Deus onde se sacrificam as vítimas
espirituais. Este sacerdócio é exercido através das boas obras. Paulo ensina:
“Exorto-vos a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a
Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12,1). O corpo, nossa
carne, está unido a toda a criação. O texto de Paulo sobre a libertação do
universo (Rm 8,20-22) ensina que o
ser humano é o sacerdote que conduz o mundo à união a Deus. Todas as coisas
participam da função de dar glória a Deus. O pão e o vinho são natureza criada
e se transformam, pelo Espírito, no Corpo e sangue de Cristo. No desapego dos
bens, conduzimos tudo à redenção. A pobreza do Cristo o fez Redentor.
1456.
Em nome de Deus
No mistério da pobreza que é a ação de
Deus que nos une a Cristo pobre, agimos em nome de Deus Pai, pois nos confiou
este universo. Podemos pensar que somos um nada e o mundo é imenso. Como
ousamos exercer essa função? Para Deus não existe nada pequeno nem grande. Deus
se manifestou na pequenez de Cristo. A missão de conduzir o mundo a Deus só
existe quando nos fazemos pequenos e despojados, mesmo tendo bens. Por mais que
resolvamos todos os males da pobreza social, a pobreza mística continua sendo a
vida de todo o homem e mulher. É preciso ser rico com a pobreza de Cristo que
redimiu o universo. Esta é nossa rica missão: ser pobres para Deus. A santidade
é aberta a todos. Todos podem ser santos, cada um na sua condição, diz S.
Afonso.
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