Há uma questão de doutrina a
respeito da interpretação da Palavra de Deus: Por um lado há a doutrina de
alguns que ensinam a livre interpretação dizendo que cada um tem a assistência
do Espírito para interpretar. Podemos ver os resultados negativos. Isso não
impede a compreensão individual da Palavra e o máximo proveito para a salvação.
A doutrina da Igreja Católica ensina que a Palavra de Deus só pode ser
interpretada na fé eclesial. Sem a fé, vivida no corpo da Igreja, não se tem
uma interpretação autêntica. Quem orienta a compreensão, baseado na Tradição é
o Magistério, isto é, o ensinamento da autoridade da Igreja. Este se baseia na
Tradição e no Ensinamento dos Santos Padres, isto é, santos escritores antigos,
com o estudo dos que são especialistas nas Escrituras. Não é uma ação
particular, mas comunitária. Isso dá segurança ao conhecimento da Palavra. Por
isso o primeiro passo é a fé. O conjunto da Escritura explica a Escritura. Não
são textos isolados. Pegar a letra pela letra é fundamentalismo, como vemos em
certas seitas cristãs e não cristãs. Santo Tomás, apoiado em Santo Agostinho,
diz: “A letra do Evangelho também mata, se faltar a graça interior da fé que
cura” (VD 29). Por que depender da
Comunidade Igreja? Porque a Palavra foi escrita na comunidade. Alí é o lugar
propício e mais fecundo para compreendê-la. A comunidade reunida para a
celebração da liturgia acolhe a Palavra e a compreende. A Palavra celebrada é
uma escola para compreendê-la. Não dispensa os esforços dos estudos e a
vibração do coração para compreender.
1212. Estudando a Palavra
A interpretação exige fé, abertura
do coração, mas não dispensa o estudo. Como é gostoso ouvir alguém que dedicou
a vida ao estudo da Palavra de Deus! É Palavra de Deus na palavra humana. O
estudioso da Palavra, guiado por sua inteligência e esforço de ouvir o Deus que
fala nessas palavras, dá uma contribuição fundamental para todos os fiéis. O
documento Verbum Domini ensina que a Sagrada Escritura deve ser lida com o
mesmo espírito com que foi escrita” (DV 29). São Pedro ensina em sua carta que “nenhuma
profecia da Escritura é de interpretação particular porque nenhuma profecia foi
proferida pela vontade dos Homens. Inspirados pelo Espírito Santo é que os
homens santos falaram de nome de Deus” (2Pd 1,20-21). Com o Concílio Vaticano II houve cresceu o
interesse em aprender ler e viver a Palavra de Deus. Por isso não se deve
deixar o estudo, pois ele nos ajuda a compreender melhor todas as coisas.
Alguns acham difícil ler. Sem ler, vai ser sempre difícil. À medida que lemos e
também estudamos, compreedemos sempre mais.
1213. Interpretação e vida
Só interpreta bem as Escrituras quem as vive. A
Palavra viva dentro de nós é diferente da palavra vista somente
intelectualmente. Se a Palavra lida não me leva a conversão é porque não a
lemos com sinceridade e coerência de vida. A fé do fiel vai conduzir a viver
essa palavra com o coração aberto. Quando unimos a leitura à vida fica fácil
compreender e interpretar, pois a Palavra nasceu no seio da comunidade e
escrita por gente como nós, guiadas pelo Espírito. À medida que nossa vida vai
se assemelhando ao texto, mais vivo ele se torna para nós e nós nos tornamos
vivos para a comunidade. S. Gregório afirma: “As palavras divinas crescem
juntamente com quem as lê”.
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