Sempre
houve na Igreja e, em outras culturas, a busca pelo deserto. No início do
cristianismo, o cristão mais autêntico era aquele que dava a vida por Cristo no
martírio. Com a diminuição dos martírios, surgiu outro fenômeno muito forte que
ainda tem vigor: a busca da solidão no deserto. Foi uma verdadeira maré de
homens e mulheres buscando a vida solitária para o encontro com Deus e a
vitória sobre o mal. Imitavam Jesus que foi ao deserto e venceu a tentação. Diante
da crise de mundanismo que se vivia no império romano, procuravam a
simplicidade. Faziam uma fuga do vazio para a plenitude na busca do único
necessário. Não se tratava de fugir da realidade, mas ser útil à realidade
espiritual do homem. Foram pessoas de vida muito longa. Com S. Basílio no
Oriente, S. Pacômio no Egito e S. Bento no Ocidente, perto de Roma, surgiu um
novo modo de vida solitária. Com o tempo criou-se a necessidade de viverem em
comunidade para refazerem em si a vida da comunidade primitiva, sem perder o
direito à solidão, como S. Afonso de Liguori fez indo para Scala para fundar a
Congregação Redentorista. Essa solidão acontece dentro do indivíduo que quer
ser dono de si mesmo e construir-se livremente sem deixar que o vazio seja uma
condição de vida. O esvaziar-se é o caminho para capacidade de escuta. Por isso
encontramos no deserto a grande missão dos “mestres” “pais espirituais” que
introduziam nessa busca de si mesmo para o autoconhecimento e densidade do
vazio interior. Procura-se ser o homem à estatura de Cristo (Efésios 4,13). O povo
judeu viveu quarenta anos no deserto para amadurecer sua capacidade de entrar
na terra prometida. Jesus fez quarenta dias de deserto. Saiu maduro para a
missão.
1904.
Vivendo só
Não
estou procurando fazer propaganda da vida monacal. Quero procurar entender
meditando sobre uma situação que vivemos na sociedade atual. Antes se fugia
para o deserto para sair do vazio da sociedade para encontrar o sentido na
solidão. Agora encontramos uma sociedade vazia que procura preencher o sentido
com tantas novidades e agitações. Mesmo no meio dessa massa, o indivíduo vive
só. Essa solidão aumenta quando retorna para casa e se está só. Vemos a
situação das famílias desagregadas complicando mais ainda esse quadro. Dois
males a evitar: viver só no meio da multidão e viver sozinho com a multidão
dentro de si. A pessoa está ficando muito só. As famílias são pequenas, se
dissolvem com facilidade, as visitas caíram de moda, vizinhos não se conhecem mais
etc... Pior a situação dos que ficam idosos e são solteiros ou sozinhos. É um
deserto compulsório. “A solidão me dói!”. Mesmo os que vivem com alguém, provam
ser solitários dentro de uma casa com mais pessoas, ou dentro de um convento
com confrades.
1905.Uma
pastoral a se fazer
É o momento de pensarmos numa
pastoral para os solitários que não se enquadram num programa de terceira ou a melhor
idade. Ouvi de uma experiência feita de se celebrar juntos o Natal reunindo
essas pessoas. Essa pastoral deve conduzir a pessoa a assumir uma atitude
eremítica – viver só, mas com plenitude. É uma volta interior ao deserto e ali
encontrar Deus. É um desafio. Com os meios de comunicação à nossa disposição
podemos criar a comunidade virtual dos que procuram Deus na solidão. As noite
longas, como dizia Pe. Vitor Coelho, servo de Deus, são o momento de falar com
o Pai. Perdemos muito tempo com inutilidades e até com perversões, em lugar
aproveitá-lo para a vida que vale. Quem sabe seja o momento de procurar retomar
o sentido do deserto na condição atual.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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