Evangelho segundo S. Lucas 12,54-59.
Naquele
tempo, dizia Jesus à multidão: «Quando vedes levantar-se uma nuvem no poente,
logo dizeis: ‘Vem chuva’; e assim acontece. E quando sopra o vento sul,
dizeis: ‘Vai fazer muito calor’; e assim sucede. Hipócritas, se sabeis
discernir o aspeto da terra e do céu, porque não sabeis discernir o tempo
presente? Porque não julgais por vós mesmos o que é justo?». E
acrescentou: «Quando fores com o teu adversário ao magistrado, esforça-te por te
entenderes com ele no caminho, para que ele não te arraste ao juiz e o juiz te
entregue ao oficial de justiça e o oficial de justiça te meta na prisão. Eu
te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo».
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São João Paulo II (1920-2005), papa
Carta Apostólica Novo millenio ineunte, 6/01/2001, § 55-56 (trad. ©
copyright Libreria Editrice Vaticana)
Saber julgar os sinais dos tempos
O diálogo inter-religioso deve continuar. Na
condição de um pluralismo cultural e religioso mais acentuado, como se prevê na
sociedade do novo milénio, isso é importante até para criar uma segura premissa
de paz e afastar o espetro funesto das guerras de religião que já cobriram de
sangue muitos períodos na história da humanidade. O nome do único Deus deve
tornar-se cada vez mais aquilo que é: um nome de paz, um imperativo de paz.
Mas o diálogo não pode ser fundado sobre o indiferentismo religioso, e
nós, cristãos, temos a obrigação de realizá-lo dando testemunho completo da
esperança que há em nós (cf 1Ped 3,15). [...] Por outro lado, o dever
missionário não nos impede de entrar no diálogo intimamente dispostos a ouvir.
Com efeito, sabemos que a própria Igreja, diante do mistério de graça
infinitamente rico de dimensões e consequências para a vida e a história do
homem, jamais cessará de indagar, podendo contar com a ajuda do Paráclito, o
Espírito da Verdade (cf Jo 14,17), ao qual compete precisamente a missão de
guiá-la para a «verdade total» (Jo 16,13).
Este princípio está na base,
quer do inexaurível aprofundamento teológico da verdade cristã, quer do diálogo
cristão com as filosofias, as culturas, as religiões. Não é raro o Espírito de
Deus, que «sopra onde quer» (Jo 3,8), suscitar na experiência humana universal,
não obstante as suas múltiplas contradições, sinais da sua presença, que ajudam
os próprios discípulos de Cristo a compreender mais profundamente a mensagem de
que são portadores. Não foi porventura com esta abertura humilde e confiante que
o Concílio Vaticano II se empenhou a ler «os sinais dos tempos» (Gaudium et
spes, §4)? Apesar de ter efectuado um discernimento diligente e cuidadoso para
identificar os «verdadeiros sinais da presença ou da vontade de Deus» (§11), a
Igreja reconhece que não se limitou a dar, mas também «recebeu da história e
evolução do género humano» (§44). Esta atitude, feita simultaneamente de
abertura e de atento discernimento, iniciou-a o Concílio também com as outras
religiões. Compete-nos a nós seguir fielmente o seu ensinamento pelo sulco
aberto.
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