PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Uma vida
que é missão
Jesus
encarnou-se entre nós. Sua encarnação realiza sua missão de manifestar a misericórdia
do Pai. O evangelho de Mateus mostra-nos essa misericórdia Jesus. Quando relata
seu próprio chamado, a escolha para fazer parte do grupo dos doze apóstolos, faz-nos
ver que ele foi beneficiado por esta atitude de Jesus: “Partindo dali, Jesus
viu um homem chamado Mateus, sentado na banca de impostos, e disse-lhe:
‘Segue-me!’”. Ser coletor de impostos era uma profissão “maldita” para os judeus,
com conseqüências pesadas para a pessoa. Eram excluídos da assembléia porque
eram pecadores públicos. Além de trabalhar para o invasor romano, era considerado
ladrão, por ser uma prática usual entre esses servidores do império romano.
Jesus não só o chama, como também vai comer com ele e com seus colegas e outros
mal afamados. Sentar-se à mesa com alguém, era fazer-se igual. Isso causou
escândalo entre os fariseus, que jamais fariam isso. Jesus então define sua
missão: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes.
Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’. De
fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9,12-13). Jesus retoma aqui a frase do
profeta Oséias: “Quero amor e não sacrifícios, conhecimento de Deus, mais do
que holocaustos” (Os 6,6). O que agrada a
Deus é a misericórdia nos relacionamentos. Os holocaustos sem o amor de misericórdia
não conduzem à justificação. A justiça do Reino supera a justiça dos fariseus
que era somente de fachada. Jesus vai parte do coração que está unido a Deus
pelo mesmo desejo de misericórdia. Essa é a vida de Jesus e a vida que propõe a
cada discípulo seu.
Fé
que dá vida
Paulo,
na carta aos Romanos, descreve como Abraão, por sua fé, foi recompensado com
uma posteridade; Sara concebeu, apesar da idade. Essa fé foi creditada como
justiça (Rm 4,23). A misericórdia produz o
fruto da fé na vida, pois, ter fé em Cristo é continuar sua misericórdia que dá
vida. Ela é fecunda, como podemos ver na vida de Mateus. Deus usou de
misericórdia para com ele. E ele transformou sua experiência em anúncio de
Evangelho. A misericórdia quebra todas as barreiras dos preconceitos e
legalismos e se interessa sobretudo pelo homem necessitado de vida. Jesus é o
médico que cuida dos doentes. Ele busca o doente, sobretudo o fragilizado pelo
pecado. Ali é a terra fértil da misericórdia, como lemos na parábola da ovelha
perdida (Lc 15,4). O fruto da misericórdia
é a ressurreição. Mateus levantou-se, como que se ergueu do túmulo. Não somos a
Igreja dos perfeitos e impecáveis, mas uma Igreja que segue Jesus em seu
caminho de acolher a todos. É necessário o cuidado de não voltar ao mundo
fariseu de leis, ritos e práticas que sufocam a misericórdia para com as pobres
vítimas do mal tanto social como espiritual.
Culto
inútil
Rezamos
no salmo que Deus aceita os sacrifícios de animais, mas não precisa deles. O
que deseja é um sacrifício de louvor: “Imola a Deus um sacrifício de louvor e
cumpre os votos que fizestes ao Altíssimo” (Sl
49,9.14). No Reino do Norte (Samaria) havia um culto bem desenvolvido,
mas somente exterior. Não era agradável a Deus. Por isso o profeta chama ao
culto do amor de misericórdia que nasce do coração. Jesus interioriza o
relacionamento com Deus e faz que brote dele a misericórdia. A palavra
misericórdia está unida à palavra coração (cor, em latim). Estamos preocupados
com a exatidão da liturgia, mas pouco ligados à misericórdia que interfere
também nas estruturas sociais para ressuscitar a todos.
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