Vivemos
tempos de insegurança. A leitura do profeta Jeremias retrata a situação de um
homem que, se por um lado é seduzido por Deus como um fogo que ardia dentro dos
ossos (Jr 20,7.9), por outro lado é vítima
de uma perseguição por causa da profecia. O salmo reza essa situação: “Pois o
meu zelo e meu amor por vossa casa me devoram como fogo abrasador” (Sl. 68). Essa situação de dificuldades é a
oportunidade de ter a certeza da presença do Senhor: “Mas o Senhor está ao meu
lado como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos” (Jr20,11). Essa temática do medo das
dificuldades é retomada por Jesus: “Não tenhais medo daqueles que matam o
corpo, mas não podem matar a alma!” (Mt 10,28).
Se o Senhor está ao lado do discípulo, ele não deve temer proclamar a verdade.
É preciso não ter medo e proclamar sobre os telhados. A mensagem de Jesus é luz
que não pode ser colocada debaixo da mesa. Jesus fez essa experiência. Foi
perseguido por causa da Palavra. Jesus e Jeremias têm a consciência de terem
Deus a seu lado: Ele é sempre o Emanuel, o Deus conosco. Jesus ensina que não
devemos ter medo dos que matam o corpo, pois a morte tem sentido para Deus que
se preocupa com cada um, muito mais do que com pardais que caem no chão. Se o
fio de cabelo tem valor, quanto mais valemos nós! A consciência da presença do
Senhor é o que dá vida aos pregadores do evangelho que não tem medo do
sofrimento ou da morte. Deus é solidário com o que sofre por causa da justiça. O
sofrimento é um momento de culto a Deus, como diz o profeta: “Cantai ao Senhor,
louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus” (Jr 20,13).
A
quem devemos temer
Há
um inimigo a ser temido, o que “pode destruir a alma e o corpo no inferno” (Mt 10,28). O homem não pode jogar o outro na
geena. Geena era o lixão da cidade, onde havia um fogo permanente. Adaptou-se a
palavra a Inferno. O que se deve temer é a morte da alma, e assim ser lançado
por uma escolha de excluir Deus da própria vida. Tirada a fonte, morre a vida
divina em nós. A
sociedade procura fazer desaparecer Deus de sua vida. Isso se torna leis em
parlamentos, nas empresas que se coligam para tirar a marca da fé das culturas.
Assim os corações murcham no calor da descrença. Na escola, falar de Deus é
violentar a liberdade, ofender outros credos, criar tabus. Certamente podemos
falar de modo mais ecumênico, pois a verdade do Evangelho não se prende a
nenhuma cultura, a não ser como meio que Deus usou para se encarnar. Diante deste
distanciamento de Deus, podemos nos envergonhar de falar de Jesus. Nisso
perdemos, pois Ele nos negará diante do Pai (Mt
10,33). Ele falará de nós, se falarmos dele.
Vivendo
o tempo da graça
Cercados
por esse mistério de iniqüidade e morte, temos consciência de que a graça é mais
abundante. Paulo afirma: “A transgressão de um só levou a multidão humana à
morte, mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom
gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em
abundancia sobre todos” (Rm 5,15). O fiel
cristão pode ficar sem medo, pois a graça de Cristo é muito maior que todos os
medos que possamos ter. Diante dos medos, o que se pede aos cristãos é que
tenham a confiança como arma. Por mais que seja difícil, nenhuma luta é
estéril. O amor a Cristo rompe o circulo vicioso dos temores e infunde a força
de vencer. A consciência da posse que Deus tem de nós garante nossos momentos de
cruz.
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