PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Árvore à beira d’água.
A vida cristã é feita de escolhas. Deus sempre propõe, nunca impõe. Nós
impomos. Talvez seja porque não temos capacidade de apresentar escolhas
consistentes. A grande proposta de Deus é uma proposta de felicidade: “Felizes
os pobres de espírito” (de Lucas 6,20). Esta proclamação da felicidade já a
encontramos no salmo 1º que é uma síntese de todo o saltério. Este salmo começa
justamente com as palavras “feliz o homem que não anda conforme os conselhos
dos perversos, mas na lei do Senhor encontra seu prazer e a medita sem cessar”
(Sl 1,1). A introdução da pregação de Jesus começa com a mesma proclamação “felizes
os pobres”. Esta felicidade como diz o profeta Jeremias, é retomada pelo salmo:
“feliz o homem que confia no Senhor”. Tanto o profeta como Jesus e o salmista
têm uma certeza: Ele é fonte da vida, como “a árvore plantada à beira d’água”.
A árvore à beira d’água tira dela sua vida e produz fruto. São João vai usar o
termo ramo unido à árvore, de onde tira vida (Jo 15). O salmo diz que esta
árvore produz fruto e as folhas estão sempre verdes. O homem perverso não tem
consistência, pois é com palha que o vento leva (Sl 1). Confiar em Deus é
firmar-se nEle. O que é produzir frutos? É uma disposição pessoal de assumir um
caminho e ter suas raízes onde estão as fontes da vida.
As fontes da vida.
O
verbo confiar tem a mesma significação de ter fé. É agir com fé. É a atitude de
quem leva a fé ao dia a dia. Assim, igualmente, confiar é estar unido à fonte
da vida. O profeta Jeremias diz: “maldito o homem que confia no homem e faz
consistir sua força na carne, enquanto seu coração se afasta do Senhor” (...),
ao contrário do homem “feliz cuja esperança está no Senhor”. As fontes da vida
estão nesta confiança em Deus, que se demonstra na pobreza (felizes os pobres),
na fome (felizes os que agora têm fome), no pranto (felizes os que agora
choram) e os que sofrem perseguição (felizes os que agora são perseguidos).
Jesus não proclama que ser pobre, ter fome e sede, sofrimento e perseguição são
fonte de alegria e felicidade, mas que aqueles que, estando nestas situações
confiam em Deus serão satisfeitos, pois terão de onde tirar as razões de se
saciarem com o pouco, de se satisfazerem e de sentirem força na perseguição.
São sempre os paradoxos de Jesus. Ele passou por isso. Ao contrário, aqueles
que têm tudo, vivem na fartura e na boa vida e elogiados por todos, se não têm
de onde tirar a segurança que dura, quando lhes faltar estas guloseimas, não
saberão como viver. Podemos assim entender o que significa crer na
ressurreição, como diz Paulo em 1ª Coríntios, que lemos na segunda leitura.
Maldito,
quem?
Quando fala
de maldito o que confia no homem, o profeta não está desprezando o aspecto
humano e necessário das relações de fraternidade Podemos encontrar até na
espiritualidade esta palavra que é muito citada: “quanto mais fui para o meio
dos homens, menos homem voltei” (Imitação de Cristo). O sentido aqui é este:
quanto mais me afastei de Deus menos homem me tornei, pois, por ter por
reprováveis as relações de fraternidade entre as pessoas, é contrário ao
Evangelho.
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