dos Filhos do Coração Imaculado de Maria.
Foi Arcebispo de Santiago de Cuba, confessor e conselheiro da rainha Isabel II, da Espanha.
Uma das maiores figuras católicas do século XIX; a história da Espanha, nessa época, não pode ser compreendida sem o estudo da vida do grande missionário.
Santo António Maria Claret foi um dos grandes esteios da Santa Igreja no seu tempo. Pio XII, quando o canonizou em 1950, chamou-o de “Santo de todos”. Isso porque, diz o Pontífice, “nele olham os artesões, os sacerdotes, os bispos e todo o povo cristão, já que se encontram nele exemplos preclaros com que se alentar e encorajar-se, cada qual segundo seu estado, nessa perfeição cristã da qual unicamente podem sair, nas perturbações presentes, os oportunos remédios e atrair tempos melhores”[1].
Esse santo, de uma actividade espantosa, foi “apóstolo da palavra, pregando inumeráveis sermões; apóstolo da pena, publicando muitíssimos volumes; apóstolo da Imprensa, criando academias, livrarias e bibliotecas; apóstolo da acção social católica e dos exercícios espirituais. Foi catequista, missionário, formador do clero, director de almas, fundador de congregações, pedagogo e ‘anjo tutelar da família real’, em frase de Pio XI; mas, sobretudo, eminentemente santo”[2].
Pregador popular, fundou a Congregação Missionária dos Filhos do Coração Imaculado de Maria. Foi Arcebispo de Santiago de Cuba, confessor e conselheiro da rainha Isabel II, da Espanha. No Concílio Vaticano I, destacou-se como intrépido defensor da infalibilidade pontifícia.
Como não é possível abarcar aqui toda a obra desse incansável batalhador, limitar-nos-emos a algumas rápidas pinceladas.
António João Adjutor nasceu no dia 23 de dezembro de 1807 em Sallent, diocese de Vich, província de Barcelona, na Espanha, quinto dos 11 filhos de João Claret e Josefa Clará. Proprietários de uma pequena tecelagem, eram eles “honrados e tementes a Deus, muito devotos do Santíssimo Sacramento do Altar e de Maria Santíssima”, como diz o santo em sua autobiografia[3]. No Crisma, “por devoção a Maria Santíssima, acrescentei o dulcíssimo nome de Maria, porque Maria Santíssima é minha Mãe, minha Madrinha, minha Mestra, minha Directora e meu tudo depois de Jesus”.
Piedade e verdadeira vocação sacerdotal
De uma piedade precoce, desde a idade de cinco anos já se preocupava com a eternidade e o destino do homem. Adulto, pondera: “Não sei compreender como os outros sacerdotes que crêem nestas mesmas verdades que eu — e todos devemos crer — não pregam nem exortam para preservar as pessoas de caírem nos infernos”.
Sua devoção à Santíssima Virgem surgiu quase que com o uso da razão: “nunca me cansava de estar na igreja diante de Maria do Rosário, e falava-lhe e rezava com tal confiança, que cria bem que a Santíssima Virgem me ouvia”.
Compreende-se que, assim, a vocação sacerdotal despertasse nele muito cedo: “Sendo ainda muito pequeno, quando estava ainda no Silabário, fui perguntado por um grande senhor, que veio visitar a escola, o que queria ser. Eu lhe respondi que queria ser sacerdote”.
Acentuado espírito missionário
Adolescente, começou a trabalhar na tecelagem do pai; como fez muitos progressos nessa arte, foi especializar-se em Barcelona, grande centro da indústria têxtil. Com muita aplicação no trabalho e um talento fora do comum, dominou tão bem a arte têxtil, que iria longe se se dedicasse exclusivamente a ela. Mas o apelo de Deus se fez mais premente, e ele resolveu romper de uma vez com o mundo e retirar-se para uma cartuxa. Mas acabou optando por ser sacerdote secular.
Em 1829 António ingressou no Seminário de Vich. Nesse tempo, como pegou uma forte gripe, mandaram-lhe guardar o leito. Num desses dias foi atacado por terrível tentação contra a pureza. Recorria a Nossa Senhora, ao Anjo da Guarda, aos seus santos padroeiros, mas tudo em vão. Finalmente, “eis que se me apresenta Maria Santíssima, formosíssima e graciosíssima, [...] e me disse: ‘António, esta coroa será tua se vences’.[...] E a Santíssima Virgem me punha na cabeça uma coroa de rosas que tinha no braço direito”. Essa não foi a única graça mística que recebeu. Em sua vida, há várias manifestações palpáveis do sobrenatural.
No dia 13 de junho de 1835, festa de seu patrono, António recebeu a ordenação sacerdotal, e foi nomeado coadjutor em sua cidade natal.
Compreendeu então que sua vocação era a de ser missionário, e quis evangelizar os povos da Catalunha, órfãos desde a supressão das Ordens religiosas. Como isso não era factível por causa da guerra civil, foi a Roma pedir admissão na Congregação das Missões Estrangeiras.
Pregar “oportuna e inoportunamente”
Na Cidade Eterna, depois de fazer os Exercícios Espirituais com padres da Companhia de Jesus, resolveu nela ingressar, e começou o noviciado. Mas sobreveio-lhe aguda dor em uma perna, e teve que voltar para a Espanha. Pouco depois o Padre Geral da Companhia de Jesus lhe escrevia: “Deus o trouxe à Companhia, não para nela ficar, mas para que aprendesse a ganhar almas para o Céu”.
António Maria obteve então licença para pregar missões na Catalunha e nas ilhas Canárias. Operava curas milagrosas, tanto materiais quanto espirituais, expelindo demónios dos possessos, regularizando casais mal-casados. A isso movia-o o intenso desejo de livrar almas do inferno, pois “obriga-me a pregar sem parar o ver a multidão de almas que caem nos infernos, porque é de fé que todos os que morrem em pecado mortal se condenam”.
Animava-o o exemplo de São Paulo: “Como corre de uma parte a outra, levando, como vaso de eleição, a doutrina de Jesus Cristo! Ele prega, escreve, ensina nas sinagogas, nos cárceres e em todas as partes; trabalha e faz trabalhar oportuna e inoportunamente; sofre açoites, pedras, perseguições de toda espécie, calúnias as mais atrozes”. Pode-se dizer que essa descrição cabe também a Santo António Maria Claret.
Diz ele: “Quando ia missionando, tocava nas necessidades e, segundo via e ouvia, escrevia um livrinho ou um folheto. Se na população observava que havia o costume de cantar cânticos desonestos, publicava um folheto com um cântico espiritual ou moral. Por isso os primeiros folhetos que publiquei, quase todos, são de cânticos”.
Em 1849 o Pe. António Maria fundou, com mais cinco sacerdotes, uma Congregação religiosa cujos membros seriam seus auxiliares na obra das missões, com o nome de Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria. Assim descreve como deve ser esse missionário: “Um Filho do Imaculado Coração de Maria é um homem que arde em caridade e que abrasa por onde passa; que deseja eficazmente e procura por todos os meios acender em todo o mudo o fogo do divino amor. Nada o pára; goza nas privações; procura os trabalhos; abraça os sacrifícios; compraz-se nas calúnias e se alegra nos tormentos. Não pensa senão em como seguirá e imitará a Jesus Cristo em trabalhar, sofrer e no procurar sempre e unicamente a maior glória de Deus e a salvação das almas”.
Nomeado Arcebispo de Santiago de Cuba em 1850, afirma em suas palavras de saudação que “a verdadeira Prelada será a Virgem Santíssima, e a forma de governo a que Ela me inspire”.
Na primeira missão que pregou na Ilha o fruto foi tão grande, que 40 confessores não foram suficientes para atender todas as confissões. A comunhão geral, distribuída por três sacerdotes, durou seis horas! Somente nessa missão, foram legitimados 8.577 matrimónios.
Os “espíritos fortes” fizeram várias tentativas infrutíferas para matá-lo, mas Nossa Senhora velava por ele.
Desvendando o futuro de Cuba e Espanha
Santo António Claret fez muitas profecias. Por exemplo, quando em Cuba, profetizou “grandes terremotos”. Estes vieram. Quando as autoridades quiseram remover os escombros, alertou: “Haverá outro”. Depois profetizou: “Se os pecadores não despertam com os terremotos, Deus passará a castigá-los no corpo com a peste ou cólera”. Veio a epidemia de cólera-morbo, que em três meses fez 2.734 vítimas. Afirmou, no entanto, que isso fora uma misericórdia de Deus, porque “muitos que não se haviam confessado na missão, se confessaram para morrer; e outros, que se haviam convertido e confessado na missão, se haviam precipitado outra vez nos mesmos pecados. E Deus, com a peste, os levou”.
Em 1861, já como confessor da Rainha Isabel II, “o Senhor me fez conhecer os três grandes males que ameaçavam a Espanha, e são: o protestantismo, ou melhor, a descatolização, a república e o comunismo. Para atalhar estes males, me deu a conhecer que se haviam de aplicar três devoções: o Triságio, o Santíssimo Sacramento e o Rosário”.
Combatendo os erros dos socialistas
Escrevendo sobre uma visita que fez às províncias da Andaluzia, na Espanha, no ano de 1862, o indómito Arcebispo comenta o trabalho dos socialistas naquela região, aproveitando-se da apatia de governantes e eclesiásticos. Anota vários erros espalhados por eles, dos quais, por sua actualidade, citaremos um que poderia ser subscrito hoje pela CPT, MST e congéneres:
“Até agora os ricos desfrutaram as terras. Já é tempo que as desfrutemos e as dividamos entre nós. Essa divisão não só é de equidade e justiça, mas também de grande utilidade e proveito; pois os terrenos aglomerados pelos ricos ladrões são infrutíferos. Divididos entre nós em pequenos lotes, e cultivados por nossas próprias mãos, darão abundantes colheitas”.
Comenta o Santo: “Com essas perorações e demais meios tão aliciantes e fascinantes, e ameaçando e insultando aos que não cediam logo, foi como [o movimento socialista] tomou grandes proporções em tão pouco tempo”.
Santo António Maria Claret faleceu no dia 24 de outubro de 1870, no mosteiro cisterciense de Fontfroide (França), sendo canonizado por Pio XII em maio de 1950.
Plínio Maria Solimeo
Revista Catolicismo
[1] AAS 42 (1950), 480. Apud San António Maria Claret – Escritos Autobiográficos y espirituales, Biblioteca de los Autores Cristianos (BAC), Madrid, 1959, Prólogo, p. xv.
[2] Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luís Vives, S. A., Saragoça, 1955, vol. V, p. 543.
[3] Autobiografia, BAC, edição acima. Todos os textos citados entre aspas sem menção da fonte foram extraídos desta obra.
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