Dentro do quadro das virtudes refletimos hoje sobre a virtude do diálogo. Tudo em nós é continuação da eterna comunicação que existe entre Pai, Filho e Espírito. Fomos introduzidos nesta comunicação porque Deus, sendo comunhão, quis se comunicar conosco e nos deu o dom de nos comunicarmos com Ele. A comunicação está no ser humano constituindo sua identidade. No universo há uma linguagem que nos une a todos os seres e nos abre ao diálogo. “O homem não é uma ilha”. Nós nos comunicamos. “Só encontramos nosso verdadeiro eu, quando nos dirigimos ao tu dentro do “nós” comunitário”. Sem o espelho do ‘tu’, não conheceremos a face do “eu”. O ser humano é diálogo, por isso o diálogo é também uma virtude a ser acolhida e desenvolvida. Exige maturidade e aproveitamento dos dons de escutar, falar e tocar. Temos o direito de escutar. O que percebemos pelo ouvido não é o mesmo que entra pelos olhos. São sentidos diferentes. Diz-se que pelo ouvido chega-se ao coração. Quem mais aprende é quem mais ouve. Todos gostam de falar. Poucos sabem ouvir. Trata-se do respeito à pessoa do outro. Essa virtude é um condutor da caridade. Por isso é virtude. Saímos de nós mesmos e deixamos que o outro entre e se torne presente a nós. Escutar não é só ouvir os sons. É uma forma de acolhimento. Na educação, nas instituições, de modo particular na Igreja, escutar é o fundamental para que as pessoas se encontrem e vivam. Se não escutarmos as pessoas, como escutar o Espírito que fala em nós? Na orientação das pessoas é fundamental ouvir. Dentro de casa, nas instituições, nos sofrimentos, todos precisam ser ouvidos. Ouvir com atenção total é a melhor forma do diálogo. Não há necessidade de muitas respostas. Quem não escuta não tem direito de ser escutado.
O dom de falar
Para exercer bem a virtude do diálogo é preciso saber falar. Às vezes falamos muito e não dizemos nada pois produzimos sons e não nos transmitimos. Só comunicamos quando nós somos a palavra. Jesus falava com autoridade porque falava com totalidade. Ele era a Palavra que se transmitia por palavras e gestos (milagres). Nós nos comunicamos quando falamos com amor e com a vida que temos dentro de nós. Nossa palavra é o dom de nós mesmos. Jesus dizia: “Minhas palavras são espírito e vida” (Jo 6,63). Poucas palavras mas que nasçam da vida e produzem um diálogo consistente. A palavra que tem sentido de vida não é distinta de nós. Todos têm direito a uma palavra com sentido e com vida. Deste modo poderemos abrir aos outros a capacidade de falar com sentido. A gratuidade de nosso falar e escutar confere transparência ao diálogo. A Igreja deve mais ouvir que falar. Deste modo fortalece sua palavra.
O prazer de tocar
O tato é um sentido que completa o diálogo e às vezes é o único meio. O prazer de tocar, antes de ser um dado sensual, é uma expressão do amor divino presente em nós. Jesus tocava as pessoas e as pessoas procuravam tocá-lo, pois dele saia uma força que curava a todos. A força de comunicação de Jesus brotava de uma vida doada, que vai culminar na Cruz e na Eucaristia. Ele é o “Corpo dado, Sangue derramado” (Lc 22,19-20). O toque atinge a comunicação maior na entrega matrimonial que só será autêntica e completa se trouxer consigo a capacidade de ouvir e falar. Uma vida doada nessa comunicação é o amor em totalidade. O diálogo matrimonial é um prazer que santifica.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM JANEIRO DE 2009
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