sexta-feira, 25 de novembro de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Vivemos juntos”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Assembléia do Povo de Deus
 
Na liturgia do século IV, descrita por S. Hipólito de Roma, há uma bênção muito interessante: A bênção do queijo (esse santo deve ter morado em Minas). Nela se diz: “Abençoa este leite coagulado, e coagula-nos à vossa caridade” (Tradição Apostólica). O autor não usa a comparação da junção de peças em um conjunto ou partes de um corpo, mas a mudança de um líquido em um sólido: Somos coagulados ao amor de Cristo, como uma única realidade, unidos a sua pessoa. Se percorrermos a Escritura, veremos o termo “santa assembléia” (a convocação de Javé - Kahal Iahveh). O povo é tido como uma unidade. Não há tanto a preocupação com o indivíduo, mas, com sua pertença a um povo. Esse povo é convocado por Deus para assembléias solenes: No Sinai (Êxodo 19ss), do outro lado do Jordão (Deuteronômio 29); na renovação da aliança em Siquém (Josué 24); a assembléia convocada por Esdras, para a leitura da lei (Neemias 8,1-12); a convocação para as festas (Êxodo 23,14-19). Estas assembléias são do Antigo Testamento. Em o Novo Testamento, encontramos a grande convocação no dia do Pentecostes (Atos 2,1-13). A maior convocação do Evangelho está nas palavras de Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). Cada Eucaristia é assembléia. É uma convocação para um encontro particular do povo com seu Deus. E esperamos a “assembléia dos primogênitos que tem seus nomes inscritos nos céus” (Hb 12,23 –Ap.21,2). A palavra igreja, em grego, ekklesía, vem do verbo kaleo que significa chamar, convocar, como em hebraico. Há um chamado de Deus para se reunirem como num só corpo, como escreve Neemias: “Todo o povo se reuniu como só homem na praça situada defronte da porta das Águas” (Ne 8,1). 
Convocados pelo Espírito 
A assembléia não é somente um fato social ou uma grande reunião festiva. É uma comunhão no Espírito Santo, como rezamos no início da missa, usando o texto de Paulo: “Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13,13). O amor do Pai se manifesta na graça de Cristo, a qual gera a comunhão do Espírito Santo, ou seja a fraternidade que é obra dele, e cria a comunidade com Ele (Bíblia de Aparecida, nota). A assembléia do Novo Testamento realiza o projeto fundamental de Jesus: “Para que também eles sejam um, como vós, ó Pai, estais em mim e eu em vós, para que também eles sejam um em nós, a fim de que o mundo creia que vós me enviastes” (Jo 17,21). A assembléia é a reunião povo, mas também a união da Trindade. O ser um da Trindade, à qual estamos unidos por sua permanência em nós, realiza em nós a unidade. A unidade é o sentido da assembléia do Novo Testamento.
Assembléia celebrante 
Somos convocados, pelo Espírito, para a assembléia na qual acontece a celebração litúrgica. Ele transforma o ajuntamento de pessoas em corpo de Cristo que se oferece ao Pai. Ele faz de nos um único corpo, pois rezamos “pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo, para que sejamos reunidos pelo Espírito Santo, num só corpo. Faz de nós união com Cristo e união com todos os membros de Cristo. A partir desta realidade, nós nos abrimos a uma maior compreensão da celebração. Ela não pode ser considerada um rito que se realiza, ou um texto que se lê, mas mistério de união que se celebra. Decorre também que a vida cristã deve superar o individualismo espiritual, e passar a valorizar a participação. Rezar sozinho é bom e necessário, mas não substitui a oração como comunidade para sermos coagulados ao amor de Cristo. Participar é já um dom.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO 
EM ABRIL DE 2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário